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Zeca Camargo: o que é um hotel de luxo – 02/08/2023 – Turismo

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Recentemente estive num hotel estupendo no Mediterrâneo. Lobby largo, mobília clássica, gente interessante circulando pelos salões, quartos com vistas estupendas para um núcleo histórico —e, no entanto, zero disso se comparava à sensação que nos atravessa ao cruzarmos a ingresso do Copacabana Palace!

Ou do Alvear, em Buenos Aires. Ou o Raffles, em Cingapura. Ou do Ritz, em Paris. Ou do Ciragan Palace, em Istambul. Ou ddo Okura, em Tóquio. Ou o Claridge’s , em Londres. Ou do Taj, em Mumbai. Ou do Plaza, em Nova York. Ou do Mandarim, em Bancoc.

Cada um desses hotéis espalhados pelo mundo é bastante ínclito entre si, mas todos têm uma particularidade em generalidade, compartilham entre si um adjetivo fácil de lembrar e difícil de definir: são icônicos.

São hotéis luxuosos também, mas zelo com as conclusões rápidas. Uma vez que eu raconto num outro texto, seu bem-estar ao longo de uma estadia nem sempre tem a ver com o luxo que dá um verniz às aparências.

No caso do hotel que descrevi ali, das quais nome não revelo por discrição, todo investimento em vesti-lo de elegância não foi suficiente para fazer dele um símbolo icônico. Mas em todos os outros que citei, basta andejar por seus salões, subir nos seus elevadores, olhar pelas janelas dos aposentos, e você imediatamente se sente peculiar por se hospedar neles.

Com exceção do Plaza nova-iorquino e do Mandarim tailandês, já tive a oportunidade de me hospedar em todos eles, experiências que guardo numa pasta preciosa de memórias. No entanto, ainda que elas sejam vívidas, descrever o que vivi naqueles espaços não é tarefa fácil.

Evidente que a atmosfera de todos é imponente. Pisar no Ritz, por exemplo, é um invitação para se sentir intimidado —ainda mais se é sua primeira vez. Quando estive lá por somente uma noite, para um natalício romântico, a caminho de Istambul, fui posto num quanto tão distante que tive a sensação de que tinha atravessado o quarteirão.

Porém, foi só chegar no quarto mágico, mesmo que “de fundos”, para me encantar. Em menos de dois minutos, estávamos eu e quem me acompanhava fazendo guerra de travesseiros, rindo uma vez que duas crianças perdidas num templo de luxo.

Quando entrei no Taj de Mumbai pela primeira vez, foi muito dissemelhante. No caos da maior cidade indiana, fui de rostro envolvido por uma serenidade inesperada, adoptado por aromas desconhecidos e gentis, e ladeado de cuidados uma vez que se fosse, com o perdão do clichê, um marajá.

Essa sensação de ser privilegiado por simplesmente passar a noite em um hotel icônico é transformadora. Na minha primeira vez no Alvear dormi literalmente no soalho, por razão de um overbooking —estava lá para o lançamento de uma grande revista e acabei me ajeitando nas acomodações de amigos. Mas quem disse eu estava ligando para isso? O importante é que eu estava no Alvear.

Dormi muito mais confortavelmente no Ciragan (hoje, da rede Kempinsky), também somente por uma noite —aliás, mal dormi, de tão hipnotizado que estava pela vista do Bósforo cortando Istambul ali na minha varanda. A impaciência da entrevista que faria na manhã seguinte se diluindo naquela cidade tão fluida.

Com que era a entrevista? Daniel Craig, ainda no papel de 007. E, por uma estranha conexão, isso me lembrou um outro hotel iônico em que fiquei, o Okura, na capital japonesa, onde foi filmado segmento de uma das melhores aventuras de James Bond: “Só se Vive Duas Vezes”.

Fui até lá no final dos anos 1990, entrevistar ninguém menos que Björk, que me recebeu vestida uma vez que uma gueixa tradicional no seu quarto todo de biombos com papel de arroz. Se o clima já era de sonho, circundar por aquele lobby modernista, com sotaque nipónico, era uma viagem onírica digna de Chihiro.

Aquele Okura não existe mais. Fechou em 2015 e foi todo repaginado para as olimpíadas de Tóquio. Ainda não tive a chance de ver uma vez que ele ficou, mas aposto que conseguiu se reinventar, sem deixar de ser um ícone.

Uma vez que sempre fez, só lembrando, o próprio Copacabana Palace, que agora centenário, e depois de passar por inúmeras pequenas e grandes metamorfoses, ainda guarda um charme que é tão imponente quanto casual. Evidente que sua localização em uma praia também icônica ajuda. Mas é necessário muito mais que uma locação perfeita para fazer um hotel assim.

A história do Despensa envolve festas memoráveis; hóspedes que vão da realeza ao panteão mais sublime de Hollywood; pequenos escândalos (que o diga o Chateau Marmont, em Los Angeles, EUA); restaurantes que misturam gastronomia e as mesas “certas”; serviço impecável; e pelo menos uma piscina para todos, mesmo os que não são celebridades, poderem desfilar.

De tudo que os próximos século anos possam trazer, modernidades, amenidades, novidades, eu tenho certeza de que o Copacabana Palace e todos seus pares icônicos não vão deixar de perder essa qualidade tão difícil de definir, mas tão deliciosa de usufruir.

E olha que nós nem vamos estar cá para conferir isso em 2123. Mas não duvide que vai ser isso mesmo que vai intercorrer…

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