Início Saúde Uma lupa nos adoçantes – 01/11/2023 – Bruno Gualano

Uma lupa nos adoçantes – 01/11/2023 – Bruno Gualano

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As novas normas para rotulagem nutricional objetivam melhorar a legibilidade das informações acerca dos vitualhas embalados. A maior inovação é o rótulo frontal. Para que o consumidor seja devidamente esclarecido, uma lupa foi criada com a função de nomear produtos com cocuruto texto de sódio, gordura saturada e açúcar adicionado. Mas seriam os produtos livres do alerta realmente mais saudáveis?

Tomemos o exemplo dos que contêm açúcar adicionado. Manda a novidade regra que vitualhas sólidos e semissólidos com a soma de 15 g ou mais de açúcar por 100 g de iguaria carreguem a lupa. O mesmo vale para vitualhas líquidos adicionados com 7,5 g por 100 mL de iguaria.

Agora vejamos algumas contradições. Considere dois vitualhas com valores adicionados de açúcar muito distintos: um com 15%, outro com 60%. Ambos carregam o mesmo peso da lupa. Agora imagine dois vitualhas com teores de açúcar adicionado quase idênticos: um com 15%, outro com 14%. Enquanto o primeiro leva a lesão da lupa, o segundo livra-se dela. Demais, uma vez que vimos, a inclusão da lupa obedece a uma quantidade pré-definida de iguaria (100 g ou 100 mL), que não leva em conta o tamanho de sua porção. Daí se infere que, eventualmente, grandes porções de produtos sem a lupa podem oferecer mais açúcar do que pequenas quantias de vitualhas com o alerta.

Porquê se nota, o poder do alerta frontal em discriminar vitualhas mais ou menos saudáveis é bastante discutível.

Mas aí vem o pior. Porquê o consumidor foge da lupa, a indústria foge dela mais do que o diabo da cruz. E a manobra para se safar do temido símbolo, no caso do açúcar, consiste em substitui-lo, parcialmente, por adoçantes (também chamados de edulcorantes), cuja segurança é fim de controvérsia.

Há pouco, a Filial Internacional de Pesquisa em Cancro enquadrou o aspartame, um adoçante sintético disseminado, uma vez que possivelmente cancerígeno, classe ocupada por substâncias que demandam mais e melhores estudos para que sua relação com a doença seja acuradamente estabelecida.

A OMS também conduziu uma ampla revisão sobre o papel dos adoçantes na obesidade, e concluiu que a troca do açúcar por esses aditivos não ajuda a controlar o peso. Se em humanos ainda é dada uma vez que incerta a suspeita de que edulcorantes causam lucro de peso, não deixa de ser curioso que estes sejam empregados, com sucesso, na engorda de porquinhos.

A veras é que os adoçantes estão longe serem inertes uma vez que se imaginava.

É o que indica, por exemplo, uma pesquisa conduzida com pessoas saudáveis que consumiram sucralose, um dos adoçantes mais consumidos mundialmente, em conjunto com açúcar. Decorridos 10 dias, avaliações por sonância magnética revelaram que o combo açúcar-adoçante (que se faz presente na maioria dos produtos) provocou disfunções cerebrais ao paladar gula, com consequente piora na sensibilidade à ação da insulina. Esse inventiva se reproduziu com maior sisudez em 2 adolescentes, forçando a equipe a interromper a investigação com esse grupo, por razões éticas.

E não anda zero fácil evadir dos adoçantes. Se antes eles se restringiam, essencialmente, a produtos “diets” ou “lights”, hoje são onipresentes, em franco progresso sobre o mercado infanto-juvenil. Não surpreendentemente, um estudo demonstrou que mais de um terço das pessoas que acreditavam não consumir adoçantes apresentavam traços deles na urina. Sim, dispendioso leitor, à revelia, estamos todos expostos a esses aditivos.

Não há recomendação para que pessoas saudáveis usem adoçantes. Além de não promoverem benefícios à saúde, eles são associados com alterações em bactérias intestinais, distúrbios metabólicos, imunológicos e hormonais, e aumento do consumo fomentar. Ou por outra, zero se sabe sobre os efeitos combinados de edulcorantes (em que pese que boa segmento dos produtos traga dois ou mais deles em sua constituição). Tampouco se conhece o impacto ambiental desses aditivos (a sucralose, por exemplo, foi detectada em lençóis freáticos e águas de superfície e residuais).

Na presença de tudo o que se sabe – e o que não se sabe – sobre a segurança dos edulcorantes, convém evitá-los, assim uma vez que os produtos adoçados artificialmente. Na era do “com açúcar ou com adoçante”, readaptar o nosso paladar a vitualhas naturalmente doces é tarefa das mais árduas. A lupa é um alerta imperfeito para produtos que devem ser evitados, no que se inclui os adoçantes (alô, Anvisa!). Preferir vitualhas sem rótulo resta uma vez que a recomendação mais sensata.


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