Mais dificuldades no aproximação a crédito, menos consumo e numerário circulando na economia e redução de empregos. Esses são alguns dos reflexos de porquê a taxa básica de juros, a Selic, fixada pelo Banco Mediano em 13,75% ao ano, pode afetar diretamente as micro e pequenas empresas. Essa percepção já é captada por quem está na ponta. Há 31 anos no mercado, Renato e Lucas Gibertoni são donos da AIDU, indústria de vitualhas localizada em São Paulo (SP). Atualmente, a maior secção da receita vem da fabricação para grandes empresas, sobretudo com produtos alimentícios em aerosol. Sobra demanda, mas falta crédito.
“A Selic nos afeta bastante no crédito para expansão. Precisamos crescer, mas os juros cobrados pelos bancos estão muito altos”, avalia o empresário Lucas Gibertoni. “Crédito para capital de giro nem se fala, está insustentável. No início do ano, não tivemos muita saída de produtos, alguns boletos atrasaram, portanto pegamos empréstimo mesmo assim. E isso acabou atrasando alguns planos que tínhamos para a AIDU. Temos que ser muito guerreiros para sobrevivermos a um sistema tão oposto”, completa o empreendedor.
A visão de Lucas sobre a taxa de juros também pode ser percebida pelo Índice de Crédito das Micro e Pequenas Empresas (IC-MPE) de abril, que apresentou um ligeiro recuo de 0,8 ponto, caindo de 88,5 para 87,7 pontos, de combinação com a Sondagem Econômica da MPE, realizada mensalmente pelo Sebrae em parceria com a Instalação Getulio Vargas (FGV).
O coordenador de Aproximação a Crédito e Investimentos do Sebrae, Giovanni Beviláqua, explica que a Selic é uma taxa básica (mínima) e que para os pequenos negócios, a taxa média está em 35% ao ano: “Esses valores praticados são um proibitório para o empreendedor acessar o crédito”.
“Com a taxa de juros da Selic subida, há um desestímulo das instituições financeiras e dos tomadores de financiamento. É sempre uma tomada de decisão que deve ser feita com muita cautela”, contextualiza.
Beviláqua sugere que os empreendedores procurem orientações para a tomada de decisão. Ou por outra, é importante estar sisudo à gestão financeira da empresa, à organização dos processos e ao controle de estoques, que pode ajudar a ter um fluxo de caixa saudável e ter subsídios sobre a requisição de empréstimos. “Todo crédito tomado hoje se torna uma dívida que será paga ao longo do tempo. Por isso, deve ser muito muito planejado”, explicou.
Entenda melhor:
- Taxa de juros subida = menos aproximação ao crédito, menos consumo e numerário circulando na economia e uma redução de empregos
- A Selic, que é a taxa básica de juros, está fixada em 13,75% ao ano. No entanto, a média de juros para as MPE está em 35% ao ano.
- A gestão financeira e o controle de estoques ajudam a manter um fluxo de caixa saudável e ter subsídios na hora de solicitar crédito.