Viajar é preciso, consumir também é preciso. Coordenar as duas coisas nem sempre é fácil.
Fora de mansão, em privativo na primeira vez de um rumo, tudo meio que se parece. Placas, luminosos, cardápios do lado de fora, um infeliz mal pago para cativar o passante pelo cangote.
Sim, faço pesquisa prévia e coleto indicações. Elas de zero prestam para o caos da chegada. Num misto de exaustão, confusão e inópia, você só quer resolver rapidamente a paragem.
Por isso, a primeira repasto de uma viagem também costuma ser a pior. Tá valendo, é uma boa história para recordar.
Isto posto, existe uma diferença entre viajar e fazer turismo. Você pode fazer turismo na cidade onde mora. Você pode viajar sem se meter em programas turísticos clássicos.
O turista, via de regra, paga uma riqueza para engolir uma comida, pardon my French, de merda.
É um clássico das arapucas de turista, dos restaurantes situados em pontos bons demais para o proprietário se preocupar com a qualidade da cozinha.
Tem na praia de Copacabana, tem quando cruza a Ipiranga e a avenida São João, tem nos Champs-Élysées e em qualquer biboca que enche de gente que desce de ônibus ou navio de cruzeiro.
Há, porém, um pouco mais perverso do que as arapucas das ruas. Delas você consegue fugir. Restaurantes, lanchonetes e cafés dentro de atrações pagas são presídios de segurança máxima.
Você vai para um museu, parque procedente ou temático –importa pouco o tipo de atração, muito o tempo que ela demanda do visitante. Filas, caminhadas, filas, tempo para ver o que tem para ser visto, filas, filas e… filas.
Vai o dia todo nisso. A inópia bate, impávida feito Muhammad Ali. E dali não há porquê trespassar.
Esquivo-me desses programas ou deixo para consumir depois, mas às vezes não dá para evitar. É o caso presente, cá em Foz do Iguaçu. Uma vez que não visitar as cataratas? Recomendo, aliás: uma maravilhosidade.
Cheguei às 11h30, e o ingresso comprado no ato dava recta a embarcar no ônibus das 13h30 –da sede até as quedas, vai um passeio longo.
Na espera, naturalmente, fui dar almoço para meu fruto. Só há uma lanchonete. Ambos escolhemos o prato-feito de frango (sempre a opção menos perigosa), com arroz, feijão-preto, fritas e salada.
Cada prato por R$ 68. Comida exclusivamente comível. Conta totalidade, com duas águas, um suco e um açaí para a garoto, R$ 190.
É a mesma lógica dos aeroportos: cobre do prisioneiro o quanto quiser, não precisa nem fingir que serve um pouco bom. Mesmo antes de embarcar, o turista deixa uma riqueza para consumir mal.
Dias depois fomos ao Paraguai. Metemo-nos numa galeria caótica e feia demais, quiçá um pouco perigosa, além de suja. Meu nariz encontrou o Al Kahl, operação libanesa islâmica e familiar, num cantinho daquele furdunço todo.
Kafta, shish taouk, hommus, saladas de alface, cebola e salsinha com sumac, mais pasta de alho e pão, tudo por 50 contos para dois, chuva com gás inclusa. Comida absolutamente fabulosa.
Pena que o rumo fosse a 25 de Março elevada ao cubo, com chuva. Complicado coordenar essas coisas.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul aquém.