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São Paulo, o túmulo da boemia – 22/08/2023 – Cozinha Bruta

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Acabo de receber o invitação de natalício do Ivan Finotti, correspondente da Folha na Europa e meu colega desde o ensino médio.

Estão lá o lugar –será em São Paulo, Brasil– e o horário. Com um aviso muito simples: último drinque servido às 23h30.

Caceta, Ivan, até você?

Justo você que abriu uma balada no núcleo da cidade e outra na Barra Fundíbulo para sacudir a bunda (ou a carência dela) que precisava transpor de morada sete noites por semana?

Antes que alguém argumente que somos velhos, eu rebato: é a mais pura verdade. Mas só isso não explica a morte da vocação boêmia de São Paulo.

Já escrevi sobre isso em 2021. Quando o texto saiu, a pandemia e o consequente recolhimento da população justificavam parcialmente o desistência da noite.

A emergência sanitária arrefeceu, porém a insensibilidade noturna está consolidada.

É difícil tomar em São Paulo depois da meia-noite. Descobrir um jantar decente é quase impossível.

Sim, tem uma constelação de Oxxos abertos a noite toda. Sim, também resistem alguns bastiões das madrugadas das antigas, uma vez que o Estadão, o Burdog, o Joakin’s e outros da categoria mata-larica.

É muito pouco para uma cidade que costumava transpor de morada às 22h para jantar na rua.

Não que eu me importe demais, para ser sincero. Tenho saído muito menos, mas mesmo assim, velho e pobre, fui surpreendido pelos horários monásticos da cidade.

Semanas detrás, recebi uns amigos de Brasília e fomos biritar na Barra Fundíbulo, que fica apinhada de gente até umas 22h, 22h30. Às 23h, precisamos nos humilhar para que o possuinte do boteco nos vendesse mais cerveja.

À meia-noite, recebemos o esguicho da expulsão inegociável.

É falta de grana? É falta de segurança? São explicações boas e insuficientes. Arrisco expressar que há uma mudança mais ampla de hábitos. Falam que os jovens estão bebendo menos, vai saber. Sempre falam um tanto parecido.

São Paulo já foi o túmulo do samba. Era também a cidade que não desperta, unicamente acerta a sua posição. Não é mais nem uma, nem outra.

Entregamos a madrugada para os passarinhos que cantam enlouquecidos pela luz e pelo fragor.


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