Tive alguns encontros bizarros no metrô de Londres no mês pretérito. Certa noite, já muito tarde, alguma coisa se mexeu entre as folhas caídas do outono na rampa de saída da estação Hyde Park Corner. Estava escuro e deserto, só dava para ver que se tratava um bicho de visível porte.
Seria uma mega ratazana? Uma capivara britânica? Quando a visão se acostumou ao lusco-fusco, percebi que era uma raposa.
Por um segundo suspenso nos encaramos, paralisados, a raposa e eu. Enfim, o belo bicho decidiu vazar dali, liberando para mim a passagem.
Não fosse uma praga urbana revirando lixo, a situação poderia ser descrita porquê, hum, poética —além de francamente estranha.
Não dá para expressar o mesmo de outro incidente.
O trem encostou numa plataforma estranhamente enxurrada de agentes policiais. O vagão, até portanto quase vazio, lotou de gente bizarra: seguidores de um visível Tommy Robinson, líder da ultradireita anti-islâmica britânica, e sua escolta policial para evitar uma pancadaria no transporte público.
Eu estava, do zero, no meio de uns fanáticos fascistas, patriotários na versão Reino Unido. Foi bizarro demais.
Bizarra também foi a reação dos outros passageiros do trem —ou a pouquidade de reação. Ninguém parecia surpreso ou preocupado com aqueles trogloditas lunáticos.
Quando o bizarro se torna corriqueiro, temos um grande problema.
Gente, coisas e ideias absurdas abundam nestes tempos. Somos submetidos ao bizarro com tanta frequência e intensidade que tendemos a nos avezar.
Amigos, os Estados Unidos elegeram para a presidência um varão que só não está recluso porque aparelhou a Suprema Namoro de seu país.
Cá, não fossem as novas bizarrices que teimam em assomar, perigava desabar na futilidade a surreal tomada dos três Poderes pela turba da sarau da Selma.
Mas falemos de cozinha.
Até na gastronomia vemos a banalização do bizarro —mas sem as mesmas consequências nefastas, é simples.
Neste termo de ano, por exemplo, vemos a normalização de aberrações porquê o sushitone, híbrido de panetone com sushi. Se em Natais anteriores ele causava repulsa e revolta, o sentimento agora é o tédio.
O repertório de bizarrices parece estar se esgotando. Só parece.
Sempre surge coisa pior. Vide o noticiário surreal desta semana, que nos trouxe de volta a noção daquilo que nunca deveria ter sido tolerado —e não me refiro ao panetone de coxinha.
Para finalizar, fiquem com uma receita britânica que muitos julgam bizarra: os baked beans, feijões em molho de tomate, um clássico do moca da manhã inglês. Eu adoro!
BAKED BEANS
Rendimento: 2 porções
Tempo de preparo: 5 minutos
Dificuldade: Fácil
Ingredientes
- 250 g de feijão-branco cozido (mais 150 ml de caldo do feijoeiro)
- 2 colheres (sopa) de extrato de tomate
- 1 colher (chá) de açúcar mascavo
- 2 colheres (sopa) de vinagre de maçã
- 2 colheres (sopa) de molho inglês
- 1 colher (sopa) de alho em pó
- Pimenta-do-reino a paladar
Preparo
- Misture todos os ingredientes numa panela e aqueça até borbulhar
- Sirva com bacon, ovos, linguiça, torradas e os acompanhamentos de sua preferência
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