Início Turismo Quando a comida pode matar – 28/04/2023 – Cozinha Bruta

Quando a comida pode matar – 28/04/2023 – Cozinha Bruta

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Brendo Yan, rapaz de 27 anos residente em Natal, morreu após comer um bolinho de mandioca recheado com camarão. Ele era alérgico ao crustáceo e mandou para dentro o quitute –cortesia de um vizinho– sem saber nem perguntar o que tinha no recheio.

Costumamos a associar a morte por comida a maus hábitos perpetrados durante anos a fio. O colesterol que entope veias, os aditivos amigos do cancro, a gordura que ataca o fígado.

Dá uma sensação de extrema insuficiência perceber que somente um petisco pode mandar uma pessoa para o túmulo. Você cai no Bracarense, pede um chope, um bolinho de aipim e, meia hora depois, está na gaveta do IML.

Verdade seja dita, as alergias não são tratadas com a seriedade que merecem. É generalidade a reação “olha o fresco” quando alguém diz que não pode manducar castanha, mendubi ou qualquer outra coisa.

O problema é que o desdém pode vir de pessoas que trabalham com sustento. Restaurantes deixam rolar solta a contaminação cruzada e não dão a atenção devida às perguntas feitas por clientes com alergia.

Anos detrás, investigávamos se meu rebento tinha alergia à proteína do leite –já vou dizendo: não tem. Fomos a um restaurante por quilo e perguntamos ao possuinte o que seria seguro servir ao menino.

Ele respondeu com segurança, apontando para o bufê: isto, isso e aquilo. Pusemos uma bela colherada daquilo no prato da moço, que comeu com palato.

Aí fomos, eu e a mãe, provar aquilo que tínhamos oferecido ao rebento. Claramente continha queijo.

O possuinte do restaurante pediu desculpas, mas não pareceu perturbado demais com o incidente. Nem lhe passava pela veneta que alguém poderia ter uma reação alérgica severa em seu estabelecimento.

Alergia é somente um dos modos possíveis de se morrer pela boca.

Você corre o risco de ter as vísceras perfuradas se engolir, de mau jeito, certas espinhas de peixe. O Valdemar Costa Neto, capo do PL, foi hospitalizado devido a uma peixada espinhosa que traçou no Maranhão.

A gente morre por intoxicação cevar, por piriri de salmonelose, por intoxicação deliberado ou por sufocamento.

Quando apurei uma reportagem sobre campeonatos de comilança –essa palhaçada de desancar recorde de hot-dogs ingeridos–, deparei-me com diversos acidentes letais na pesquisa.

Teve morte por salsicha, ovo cozido, bolo, croissant, bolacha recheada e queijo. Sempre a mesma história: no labuta de manducar rapidamente, o competidor acabou entupindo as vias aéreas.

É triste e meio ridículo constatar que tudo aquilo que nos mantém vivos também pode nos matar. Porquê já disse Magal: o queimação, a terreno, a chuva o ar e a paixão.

A morte nos espreita o tempo todo em todo lugar. Podemos empacotar atravessando a rua, escorregando no box do chuveiro, pisando num fio desencapado, tomando na cabeça um vaso que alguém deixou tombar da janela.

Cá não tem moral da história, mas, se tivesse, seria um pouco assim: “Aproveite cada repasto porquê se fosse a última, pois pode ser mesmo”.

E, se tiver qualquer tipo de alergia, busque saber o que está engolindo.


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