Início Turismo O som de uma canção distante – 11/10/2023 – Zeca Camargo

O som de uma canção distante – 11/10/2023 – Zeca Camargo

88
0


Era a noite de despedida do nosso grupo naquele hotel numa das margens mais lindas do delta de Okavango, em Botsuana, e os funcionários do sítio prepararam uma surpresa para nós. Para eles, provavelmente uma rotina.

Depois da sobremesa, veio uma movimentação de mesas e cadeiras, naquele largo espaço social, cuja carência de paredes permitia que nos sentíssemos ainda mais próximos daquela natureza prístina. E logo as mesmas pessoas que há pouco serviam nosso jantar entraram cantando.

Porquê já mencionei, o que para nós parecia um presente, para eles era somente uma terça-feira. Nem por isso a pujança do que nos era apresentado deixou de nos gafar. E entre pés que batiam vigorosos no pavimento e sorrisos largos demais para caber naquelas lindas faces, o que mais me marcou foi uma certa música.

O repertório todo tinha uma meia dúzia delas, mas só uma com um refrão imediatamente sedutor que chegava assim aos nossos ouvidos, em inglês, com o poderoso sotaque sítio: “Biuuultifol Botswana”. Linda Botsuana, dizia a letra, uma asserção quase desnecessária diante de tudo que tínhamos visto nos últimos dias. Porém, cravada numa melodia inolvidável.

Se fecho os olhos agora posso ouvi-la novamente com nitidez. Muito porquê escutar os ecos das palmas batendo com força e os eventuais uivos femininos permeando a música porquê uma costura entre seu final e seu primícias, tornando-a infinita.

Júbilo foi a termo que me veio para descrever o que víamos. Não tratava-se somente de formosura, mas também não era exatamente uma celebração. Estava mais para uma inspiração, resumindo nossas experiências naquela região e propondo que o mundo olhasse mais para aquele povo com afeto.

Infelizmente isso é justamente um tanto que parece estar em falta no mundo recentemente. Quando me sentei para encetar essa poste de hoje, na manhã do último sábado, mesmo antes de digitar a primeira traço, fui informado das atrocidades que tinham concluído de suceder em Israel conduzidas pelo Hamas, que controla do território palestino.

Afastei-me logo do teclado e fui ficando mais longe dele à medida em que lia mais sobre o conflito. Tudo parecia me distanciar irreversivelmente das coisas belas sobre as quais eu queria grafar.

Três dias inteiros se passaram até que o “deadline”, o limite do prazo para entregarmos um texto para ser publicado, um tanto que sempre nos tortura, jornalistas e cronistas, finalmente decretou que eu finalizasse o que nem havia começado.

Relutantemente insisti nas vivências de Botsuana, tentando fazer com que aquele esquina apagasse o horror das notícias que vinham do Oriente Médio. E por alguns minutos, esses que levei para erigir os seis primeiros parágrafos, consegui desbloquear meu pensamento.

Mas finalmente a tragédia, nesta poste de hoje, venceu a graciosidade do que eu queria compartilhar com você. Meus pensamentos, porquê os seus, voltaram-se mais uma vez às vidas perdidas nessa novidade guerra e à fragilidade do nosso estabilidade nesta Terreno.

Já contei cá das minhas passagens por Israel. Relatei a força da fé, a riqueza da cultura, a verdade das pessoas que vivem nessa região tão dividida. Mas nenhum desses registros me ajuda agora a olhar esses ataques com esperança.

Tentando uma fuga, procurei conforto mais uma vez nas palavras e me ocorreu que intolerância, a marca desses ataques do Hamas, rima com ignorância. Logo comecei a procurar um tanto que rimasse com esse tema sobre o qual eu me propus a grafar esta semana: Botsuana.

Procura vã até agora, mas ainda não desisti. Quem sabe na próxima coluna.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul inferior.

Artigo anteriorVeja como é a casa de Manoel de Barros em Campo Grande – 24/10/2023 – Turismo
Próximo artigoComo um restaurante de Roma envergonha o macarrão à carbonara – 11/10/2023 – Cozinha Bruta

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui