O libido de ter o próprio negócio e ser “gerente” de si mesmo faz segmento do sonho de milhares de pessoas no Brasil. No entanto, os motivos que levam homens e mulheres a empreender podem ser muito diferentes. Quando uma mulher decide perfurar a própria empresa, isso muitas vezes não acontece por uma oportunidade de negócio no mercado, mas sim por uma imposição que, além de financeira, pode estar relacionada à premência de transformação pessoal e libertação de situações de violência. E, antes que alguém insista, não há zero de invisível nessa verdade!
No Brasil o número de casos de violência contra a mulher não para de crescer. Estudo da Rede de Observatório da Segurança, realizado em sete estados (em 2022), aponta que uma mulher é vítima de violência, em média, a cada quatro horas no país. A maior segmento dos registros tem uma vez que responsável companheiros e ex-companheiros das vítimas.
O empreendedorismo, por outro lado, tem se revelado uma vez que uma escolha de vida para essas mulheres. Ao ser dona do seu próprio numerário, a mulher dá os primeiros passos em uma novidade direção, com mais força para lutar contra relações tóxicas.
Os dados da 6ª Pesquisa Anual sobre Empreendedorismo Feminino no Brasil, produzida pelo Instituto RME e o Instituto Locomotiva, mostrou que 48% das entrevistadas conseguiram terminar relacionamentos abusivos ao passarem a empreender. O estudo, com dados de 2021, mostrou ainda que 72% das mulheres que atuam no empreendedorismo se dizem totalidade ou parcialmente independentes financeiramente e 81% concordam que empreendedoras têm mais autonomia na vida e, por isso, são mais independentes em suas relações conjugais.
Ainda que o debate sobre a “economia do desvelo” e a partilha de tarefas tenha desenvolvido na sociedade, a disparidade de papéis ainda é gritante. Na pesquisa “Empreendedorismo Feminino”, divulgada recentemente pelo Sebrae, as mulheres que empreendem dedicam 3,1 horas aos cuidados familiares e 2,9 horas em trabalhos domésticos por dia, enquanto os homens gastam 1,6h e 1,5h, respectivamente, com essas atividades. 76% das empreendedoras se sentem mais sobrecarregadas em relação à dupla jornada de trabalho, já entre os homens esse percentual é de 55%. E na hora de deixar de fazer alguma coisa para si ou para a empresa para cuidar dos filhos, de idosos e parentes, 61% das mulheres reconhecem que já passaram por essas situações, contra 48% dos homens.
No caso de mulheres vítimas de violência, os desafios se tornam ainda mais complexos. Quando essa mulher decide buscar sua independência financeira, ela carrega consigo uma “bagagem” muito mais pesada. Além da instabilidade, oriundo para quem se lança em uma novidade atividade, elas precisam enfrentar o sofrimento, o sentimento de insuficiência, a autossabotagem e a culpa. Debutar a jornada empreendedora para essas mulheres requer um resgate de si mesmas, sanar feridas e se fortalecer.
Desde 2020, o programa Sebrae Delas tem incentivado, valorizado e vertiginoso negócios comandados por mulheres em todo o país. Por ano, em torno de 100 milénio empreendedoras são alcançadas pelas ações dessa iniciativa exclusiva, com cursos, capacitações em diversos temas relacionados ao mundo dos negócios, além de mentorias especializadas para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, uma vez que liderança, notícia assertiva, negociação, entre outras. Não por casualidade, outro diferencial do programa é a geração de uma rede de pedestal que acolhe, encoraja e promove conexões entre mulheres, propiciando um envolvente de fortalecimento individual e coletivo, compartilhamento de vivências, formação de parcerias e networking.
Tornar essa luta visível é uma desculpa de todos nós, brasileiras e brasileiros! Precisamos proceder de forma mais célere na solução do grave problema da violência de gênero que atinge as mulheres, filhos e famílias nos quatro cantos do país. Nesse sentido, é urgente trabalharmos para fortalecer as políticas públicas que estimulam e apoiam o empreendedorismo feminino, assegurando as condições necessárias para que as empreendedoras possam competir em paridade de oportunidades. Essa mudança passa por mudanças estruturais na economia, no nosso marco lítico e principalmente na cultura da nossa sociedade ainda fortemente marcada pela marca vergonhosa do machismo.