Início Saúde O caso de Anna O. e o surgimento da psicanálise – 13/07/2023...

O caso de Anna O. e o surgimento da psicanálise – 13/07/2023 – Saúde Mental

46
0


Bertha Pappenheim, que ficou conhecida pelo pseudônimo de Anna O., foi uma paciente atendida por Sigmund Freud (1856-1939). O seu caso ficou famoso por ter oferecido início à psicanálise desenvolvida pelo médico austríaco.

Tradada inicialmente por Josef Breuer (1842-1925), a jovem de 21 anos apresentava paralisia de membros superiores e inferiores, contraturas musculares, sonambulismo, alucinações e perda da linguagem, passando, inclusive, a se conversar somente em inglês —sua língua materna era boche.

Os sintomas, na idade, eram associados à histerismo, diagnóstico que atualmente é nomeado uma vez que transtorno dissociativo ou conversivo.

Breuer pediu que Freud acompanhasse o caso de Anna. Os sintomas haviam surgido depois a morte do pai, de quem ela era muito próxima e ajudou a cuidar durante a doença.

Anna foi estimulada por Freud a se lembrar de fatos traumáticos. Posteriormente recordar e falar sobre essas situações, os sintomas foram desaparecendo. A própria jovem chamou esse método de “trato através da termo”.

“O caso de Anna O. é de fundamental relevância para a psicologia e a psicanálise porque nos mostra uma vez que muitas vezes nosso corpo ‘fala’ sobre um pouco que permaneceu alheio, à segmento da nossa consciência, ou seja, fala sobre inscrições emocionais que de alguma maneira ainda não foram intermediadas pela termo e, que, ao serem, adquirem um novo regime, uma novidade forma”, diz Ana Gabriela Andriani, psicóloga profissional em terapia de parelha e família, rabi e doutora pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise.

O método terapêutico criado Freud consiste na tradução, por um psicanalista, dos conteúdos inconscientes de palavras e ações. A psicanálise enfatiza a relevância de reprofundar no inconsciente do sujeito analisado para superar transtornos psiquiátricos, uma vez que a depressão.

No texto a seguir, escrito para o blog Saúde Mental, Andriani explica a relevância do caso de Anna O. para o surgimento da psicanálise.

O caso Anna O.: o atendimento que Freud considerou uma vez que o primeiro do tratamento psicanalítico e suas contribuições para a psicologia

Por Ana Gabriela Andriani

Freud, médico neurologista austríaco, iniciou o seu trabalho dedicando-se ao estudo e produção de conhecimento sobre o aparelho psíquico. Em 1895, publicou “O projeto para uma psicologia cientifica”, fundamentado em conceitos da biologia evolutiva e da física, que tinha uma vez que objetivo a tentativa de construção de uma ciência qualificada sobre o sistema nervoso. Sendo assim, na idade em que desenvolveu o “projeto” estudava profunda e meticulosamente o funcionamento dos neurônios (antecipando descobertas futuras da neurologia sobre as sinapses neurais, inclusive) para a produção da sensação de dor, prazer, produção da memória, vontade, dentre outros, além do comportamento e o funcionamento de pessoas que possuíam afasias e histerismo.

No momento em que se aprofunda no estudo da sintomatologia vivida pelas histéricas (era grande o número de mulheres acometidas por esta psicopatologia na idade), uma importante transformação se dá sobre o modo uma vez que Freud vinha pensando e formulando sua prática clínica.

Da reparo e atendimento das histéricas, principalmente na clínica em que trabalhou com o médico Jean-Martin Charcot, começou a constatar que os sintomas físicos vividos por estas mulheres, uma vez que, por exemplo, facciosismo, paralisia de membros, perda de memória e a perda da capacidade de falar, não estavam relacionados a nenhuma doença de desculpa orgânica.

Em 1880, o neurologista é chamado por Josef Breuer —médico psiquiatra que também atendia histéricas e do qual se tornou camarada— para acompanhá-lo no tratamento de uma paciente de 21 anos, chamada Bertha, mas denominada por Breuer de Anna O.

A jovem, detentora de um intelecto vigoroso e, segundo o próprio Freud, dotada de “notável perceptibilidade, percepção e surpreendente capacidade de apreender as coisas”, em determinado momento de sua vida, começou a apresentar sintomas bastante assustadores e desafiadores de serem compreendidos à idade, uma vez que a paralisia de membros superiores e inferiores, contraturas musculares, sonambulismo, alucinações, perda da linguagem, passando, inclusive, a se conversar somente em inglês, língua não materna.

O surgimento e intensificação dos sintomas coincidiam com a morte do pai, com o qual Anna O. tinha um vínculo bastante intenso.

O tratamento consistia em que Anna fosse hipnotizada —prática mais adiante abandonada por Freud— e, durante a hipnose, era estimulado que ela se lembrasse de fatos e situações que tinham sido traumáticos em sua vida. Posteriormente recordar tais situações e revivê-las emocionalmente, os sintomas iam desaparecendo.

Neste momento, Freud começou a perceber que as cenas traumáticas recordadas haviam sido reprimidas para que sofrimentos fossem evitados, mas, ao serem reprimidas, terminavam aparecendo de uma outra forma, por meio de sintomas motores, linguísticos e neurológicos.

A formosura deste caso está no indumentária de que é a partir dele que Freud vai se dando conta da existência de conteúdos que são, por nossos mecanismos de resguardo, afastados da consciência, ou seja, da possibilidade de serem pensados e elaborados. Neste momento, começou a desenvolver logo a sua teoria sobre o aparelho psíquico que seria formado pela dinâmica consciente/pré-consciente/inconsciente, chamada de Primeira Tópica.

Interessante saber também que, com o tempo, a própria Anna O. denominou o método utilizado para seu tratamento uma vez que “talking cure”, ou seja, “trato através da termo” —o que pode ser entendido uma vez que resultante do desenvolvimento da capacidade de representação, de pensamento e, portanto, de construção de linguagem sobre o vivido.

É neste momento que nasce a psicanálise freudiana e, junto com ela, todo o tórax teórico que influenciou tanto a psicologia uma vez que as demais psicanálises que foram com o tempo sendo construídas, uma vez que a kleiniana, bioniana, lacaniana, winicottiana, dentre outras.

O caso de Anna O. é de fundamental relevância para a psicologia e a psicanálise porque nos mostra uma vez que muitas vezes nosso corpo “fala” sobre um pouco que permaneceu alheio, à segmento da nossa consciência, ou seja, fala sobre inscrições emocionais que de alguma maneira ainda não foram intermediadas pela termo e, que, ao serem, adquirem um novo regime, uma novidade forma. Essa é a função da estudo, em que nos encontramos com quem somos e expandimos a nossa capacidade de pensar sobre nós mesmos, sobre a nossa história e sobre o mundo.

Siga o blog Saúde Mental no Twitter, no Instagram e no Facebook.



Artigo anteriorEliezer revela conversa sobre segunda filha com Viih Tube
Próximo artigoDia do Rock: Veja músicas que mais combinam com seu signo – 13/07/2023 – Astrologia

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui