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Moça do avião, parabéns por não ter cedido o seu lugar – 04/12/2024 – Saúde Mental

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Hoje de manhã, mais um vídeo que vi nas redes sociais me deixou angustiada. Desta vez não foi nenhum caso de violência policial ou de racismo. Exclusivamente uma mãe decidiu ofender uma passageira que não quis ceder o seu lugar na janela de um avião para a rapaz durante um voo da Gol. Não satisfeita, a mãe também achou uma boa teoria gravar e expor a mulher —que estava no seu recta— na internet. Não vou compartilhar o post para não propalar ainda mais o constrangimento.

Outros casos uma vez que esse ocorreram nos últimos anos. Por qualquer motivo, certos pais têm chegado com filhos para viagens de avião e acham que a pessoa que está lá, no assento da janela, deve trespassar em nome do bem-estar de seu rebento.

É verdade que algumas crianças, por questões médicas inclusive, sentem-se mais seguras viajando nesses lugares. Mas saibam que muitos adultos também.

Eu tenho diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada e de transtorno de pânico desde jovem (faz tempo).

Apesar do tratamento contínuo que faço, tenho momentos melhores e piores. Nos piores, entre tantos outros sofrimentos diários e invisíveis que quem luta contra um problema de saúde mental enfrenta, não consigo permanecer em lugares fechados. Por exemplo: passo meses sem andejar de elevador (claustrofobia) e evito lugares muito cheios (agorafobia). Quando o negócio fica mal-parecido mesmo, não consigo nem trespassar de moradia (agradeço à tecnologia pelo home office outorgado nesses dias).

Viajar de avião é um pesadelo. Ao mesmo tempo que às vezes eu preciso ir a trabalho, eu também senhoril saber novas cidades, novos países. Portanto não quero evitar, quero enfrentar —é o que os especialistas indicam, aliás.

Por isso a preparação começa dias antes. Convertido com o psiquiatra, que aumenta um pouco a ração da medicação nesse período. A psicóloga me passa exercícios de respiração e dessensibilização para eu ir treinando e chegar no aeroporto mais optimista.

E o mais importante: reservo um assento ao lado da janela, já que olhar para fora tanto durante a viagem uma vez que na hora de decolar e de aterrissar me deixa mais calma. O assento também precisa ser perto da asa, que é a dimensão do avião que costuma ter menos turbulência.

Também pesquiso antes sobre o protótipo de avião que eu vou: se é um Boeing ou Airbus, acompanho a viagem de voos anteriores no site FlightAware, histórico de acidentes, histórico da companhia aérea.

Não, zero disso é frescura. É uma doença que tem CID (código internacional de doenças) no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

Pois muito. Imagina se, depois de tudo isso, eu estou lá, sentadinha no meu lugar, ouvindo uma playlist relaxante do meu celular, e vem uma pessoa dizendo que preciso ceder o meu assento para o fruto dela? Certamente eu teria uma crise de pânico durante o voo.

Por que a mãe e o pai não podem ter o mesmo zelo com o fruto? Por que não reservar o assento? Conversar com a companhia aérea caso a rapaz tenha alguma quesito específica? A tripulação é preparada para atender diversos tipos de necessidades que os passageiros (crianças, adultos e idosos) tenham. Mas para isso precisam ser avisados com antecedência.

Não dá para uma pessoa chegar num avião, num ônibus ou num trem e exigir o assento de outra que reservou antemão.

Moça do avião, parabéns por sua resiliência e por não ter levantado do seu lugar.

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