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Miojo é atentado contra saúde pública e gastronomia – 25/08/2023 – Cozinha Bruta

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A data em que escrevo estas linhas, 25 de agosto, é lembrada por ser o Dia do Soldado e o dia em que Jânio Quadros pediu penico. É também o natalício de uma de minhas irmãs e, acabo de saber, o Dia Internacional do Miojo.

Quem decidiu homenagear o Miojo? A Nissin, que concebeu o macarrão momentâneo. A própria Miojo Corporation International Enterprise.

A assessoria da Nissin dispara uma torrente de mensagens “bem-humoradas” e a prelo cai porque lhe interessa desabar. Você, neste momento, está a ler um exemplo do sucesso dessa estratégia.

Tome miojo com requeijão, com feijoeiro, com queijo. Com frutos do mar, meu pai estremecido! Lasanha de miojo, pizza de miojo. É bom parar por cá, não quero suscitar mal-estar em ninguém.

Por falar nisso, miojo é um atentado contra saúde pública.

Trata-se de um caso mui peculiar de comida que fecha a cartela do bingo da podreira –elevado em sódio, em gordura saturada e com todos os aditivos industriais enumeráveis– sem trazer benefício algum para quem o consome.

Não fosse um resultado real, o miojo muito poderia ser uma invenção exagerada do pessoal do Nupens (núcleo da USP especializado em nutrição) para explicar os ardis da comida ultraprocessada.

Já usei substâncias proibidas e/ou perigosas (incluindo miojo) e não me arrependo disso, mas sou desenvolvido e responsável pelas minhas péssimas escolhas.

O jogo é outro quando uma empresa do porte da Nissin imprime embalagens com personagens infantis, jogando o inescrutável pozinho do miojo na mesma gaveta da maçã da Mônica e da melancia da Magali.

“Ah, mas é só não usar o pozinho…”

Nem vem. Qual o sentido disso?

Não tem cabimento gastar quantia em polvo, em camarão, em comida boa para misturar ao macarrão pré-frito. Se vai fazer um molho bacana, usa volume normal, misericórdia!

“Ah, mas miojo é mais rápido…”

Logo a pessoa que vai fazer um ovo pochê para turbinar o miojo não aguenta esperar dez minutos para a volume cozinhar. Próximo argumento.

“É mais barato.”

Não é. Se as etiquetas do seu mercado não trazem o preço por quilo, pegue a calculadora do celular e faça a conta. Miojo é mais dispendioso do que macarrão geral.

Miojo, porquê as carnes enlatadas ou barrinhas de cereal, só se justifica em caso de emergência ou calamidade. São aquelas comidas que você deixa guardadas por anos –nunca estragam, mesmo– à espera de o apocalipse zumbi.

O transe do miojo está na combinação de sabores viciantes (sem hipérbole cá) com um esquema de propaganda brutal. Quem paga pela desinformação são os mais vulneráveis.

Vou terminar com um pequeno causo.

Trabalhou cá em mansão uma diarista que raramente comia o que eu lhe oferecia.

“Fulana, come o frango que eu fiz ontem.” Não comia. “Tem músculos moída na geladeira.” Ainda estava lá quando eu voltava do trabalho. Um dia, ela contou que sacava um miojo da bolsa e mandava para dentro.

Joguei a toalha e abasteci a despensa com miojo, prontamente aceito pela Fulana. Ainda estou sem saber se foi a bruxaria dos ultraprocessados ou se eu cozinho realmente muito mal.


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