Quando os guias Michelin e 50 Best publicaram suas listas com as escolhas dos melhores restaurantes de Buenos Aires, no final de 2023, o diplomata brasílico Hayle Melim Gadelha não ficou totalmente convicto pelo que viu ali. “As listas são boas referências, mas estão longe de serem completas ou imparciais. Faltaram alguns que mereciam destaque, e entraram outros que não valiam tanta atenção”, diz, em entrevista à Folha.
Durante os dois anos em que morou na capital da Argentina, Gadelha fez um extenso tour gastronômico pela “melhor cidade” para viver na América Latina, de tratado com a revista The Economist, e conheceu a cena portenha de restaurantes uma vez que poucos.
Frequentou regularmente o premiado e disputado Don Julio, por exemplo, mas também conseguiu ir além das carnes, visitando os endereços mais estrelados e os lugares pequenos e populares localmente, mas menos famosos entre turistas, mas que merecem uma visitante.
Prestes a retornar ao Brasil, em abril, ele preparou um pequeno guia recíproco com dicas de melhores restaurantes em Buenos Aires, incluindo o que acha imperdível e o que acha sobrevalorizado. “Sempre gostei de consumir muito, e fiquei na cidade um período de câmbio muito favorável, portanto foi verosímil ir a todos os que foram citados pelos guias”, conta.
Segundo o diplomata, os tempos recentes em Buenos Aires foram de comida magnífico e atingível, se considerados os preços internacionais. “A inflação galopante conviveu com um boom de restaurantes e bares.”
Depois de uma intensa atividade na gastronomia portenha, ele desenvolveu uma avaliação independente e fez uma seleção pessoal. Enquanto o 50 Best América Latina 2023 incluía oito indicações e o Michelin premiou ou recomendou 52 restaurantes portenhos, Gadelha elegeu 18 casas “memoráveis” na cidade e apontou outras 18 que “valem a visitante”, além de indicar endereços que acha que não deixam marcas nos comensais.
Entre os melhores, ele diz que o Don Julio realmente merece toda a popularidade que tem. “A mesocarpo é perfeita. É o meu lugar predilecto na cidade”, avalia. Mas deixa simples que não é a única parrilla boa assim, e cita o Golpe Comedor e o Elena uma vez que outros dois memoráveis na comida mais popular da Argentina.
“Mas nem só de molleja e entraña, vive-se na Argentina”, defende. “Entre os restaurantes mais interessantes que conheci, está o Gran Dabbang, que promiscuidade as cozinhas asiática, mormente indiana, e mouro”, diz. “É fabuloso, e ninguém entendeu por que não entrou no Michelin.”
Entre os sobrevalorizados, ele destaca o Aramburu, que recebeu duas estrelas Michelin, mas que acredita ser entediante. Também não acha justificada a classificação do El Preposto de Palermo no 17º lugar entre os melhores da América Latina. “Tem filas tão grandes quanto as do Don Julio para consumir milanesas. Não faz sentido”, avalia.
Durante seu segundo ano na cidade, Gadelha foi adido cultural do Brasil na Argentina e trabalhou mais próximo de restaurantes na tentativa de aproximar a cultura gastronômica dos dois países. Ele atuou para levar chefs e bartenders brasileiros para apresentar seu trabalho aos argentinos, o que o fez saber ainda melhor a cena culinária sítio.
“Sempre acreditei que a comida era um instrumento de intercâmbio cultural importante. Para se integrar no tecido social do outro país, é preciso entender sua comida e a relação das pessoas com a comida”, diz.
De volta ao seu país para trabalhar no Itamaraty em Brasília, ele diz que vai sentir falta da variedade e da qualidade dos restaurantes portenhos, mas aponta algumas coisas que vai poder reencontrar no Brasil.
É o caso da comida brasileira tradicional, mormente a culinária nordestina que encontra na capital, mas também de influências de outros lugares que funcionam muito no Brasil. “Para um brasílico, o que mais fazia falta em Buenos Aires era comida japonesa. Apesar de ter muito mar, o foco dos argentinos é muito mais em mesocarpo do que em peixe de forma universal, portanto a média dos japoneses deixava muito a desejar”, diz.
Aliás, teve saudades da pizza em estilo brasílico. “A pizza de que eles gostam tem 10 cm de queijo, nenhum paulista respeitaria”, diz.
Agora que vai passar a ir a Buenos Aires uma vez que turista novamente, Gadelha desenha um roteiro ideal de um termo de semana gastronômico na cidade.
A programação começaria com moca da manhã no Narda Comedor (“uma verdadeira homenagem à comida, com cardápio intenso e balanceado”), almoço no já citado Don Julio e jantar no Anchoita, que diz ter os melhores bar e queijaria da cidade. No segundo dia, faria desjejum no Marti (“um super brunch vegetariano”), almoço no Sarkis, um restaurante “armênio popular e informal de bairro”, e um jantar final no Gran Dabbang.
Veja aquém o guia recíproco dos melhores restaurantes de Buenos Aires pelo diplomata:
Restaurantes memoráveis
Don Julio
Gran Dabbang
Anchoíta
Mercado de Liniers
Narda Comedor
Niño Gordo
Golpe Comedor
Trescha
Na Num
Ácido
Alo´s
Elena
Fervor
Kona
Mishiguene
Anafe
Lar Cavia
Chuí
Valem a visitante
Reliquia
Buri Omakase
Aramburu
Uni Omakase
4ta Pared
Ajo Preto- Mar de tapas
Picarón
Mengano
Raggio Osteria
Restó Sca
Franca
Sacro
Fogón Asado
Julia
Piedra Pasillo al Fondo
La Carnicería
A Fuego Fuerte
La Alacena Trattoria