São Paulo
Ser comparado a Woodstock, o lendário evento que reuniu atrações uma vez que Janis Joplin, The Who e Jimi Hendrix no auge da contracultura e da geração sexo, drogas e rock ‘n’ rol, deveria ser um encómio para qualquer festival. Desde que a semelhança seja pelos motivos certos.
Não foi o caso do Lollapalooza 2024, que terminou no domingo (24) depois três dias de shows com nomes uma vez que Blink-182, Kings of Leon e Sam Smith. O evento, realizado no autódromo de Interlagos (zona sul de São Paulo), lembrou, em alguns momentos, as cenas dos jovens hippies que se jogavam na lodo da rancho a 65 km da cidade de Bethel, no estado de Novidade York, em 1969.
A diferença é que não vi ninguém se jogando de propósito. Já gente derrapando sem querer vi aos montes. Tem até um compilado circulando nas redes sociais com os dez melhores escorregões do Lamapalooza (sim, um sobrenome que o festival carrega há anos e que infelizmente faz jus ao que vi no lugar).
Estive no Lolla no sábado (23) a invitação de uma amiga. Não tinha nenhuma filarmónica que eu estivesse superempolgado para ver —foi-se o tempo em que eu conhecia a maior secção do line up do festival, que sempre apostou em atrações indies e mais nichadas que a farofa pop do Rock in Rio, por exemplo.
Mas esperava ter uma experiência bacana cantando a plenos pulmões no show de alguma filarmónica de quem eu soubesse um par de letras ou mesmo conhecendo novos nomes de quem só tinha ouvido falar. Só de não estar de plantão ou ali trabalhando, uma vez que jornalista, já estava de ótimo tamanho.
Ir a um festival envolve um evidente proporção de perrengue, todo mundo sabe e entende (ou deveria). Vai ter muita gente? Vai. Vai ter fileira pra tudo? Com certeza. O banheiro vai estar em condições insalubres? É muito provável. Quer ver qualquer show muito de pertinho, colado na grade? Chegue cedo e fique lá sem poder ir comprar uma chuva porque se transpor não tem uma vez que voltar. Normal, dentro do esperado.
O que eu não esperava era ter que chafurdar num mar de lodo (e quem dera isso fosse uma metáfora) para conseguir me locomover de um lado para o outro. Ou ter que procurar o lugar em que permanecer parado não significaria submergir até a metade da canela. Ou precisar dançar sem tirar os pés do solo no histórico show de despedida da turnê que reuniu os Titãs para que a sujeira ficasse só na bota.
No trem para lar, parecia que o vagão estava transportando uma equipe de rugby pós-partida ou o núcleo cômico de alguma romance rústico do Walcyr Carrasco. E a minha calça, que até portanto tinha aguentado razoalvemente ilesa pela proteção da envoltório de chuvas e do meu TOC, ganhou manchas no formato do pé de uma moça que dormia com a cabeça no ombro do namorado.
Zero que a máquina de lavar não resolva —as botas ainda vou pesquisar um tutorial no YouTube para saber uma vez que restabelecer. No meu caso, fica só a pergunta: se a chuva já estava prevista e vinha sendo anunciada desde o primórdio da semana, não tinha zero que pudesse ser feito? Por que não aumentar os trechos com piso sintético e facilitar a vida de todo mundo? Faz secção da experiência?
Chuva e tempo ruim não deveriam ser desculpas para falta de estrutura e desorganização. Vale para as prefeituras, que não resolvem os problemas nos locais em que todo mundo sabe que todo ano alaga, vale para o megafestival que ofídio a partir de R$ 550 por dia ou R$ 700 pelo pacote (em ambos os casos, os valores são da meia ingresso).