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Ilha do Bororé: ecoturismo seduz ciclistas e veganos em SP – 06/04/2024 – Cotidiano

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Entre encher a jangada e cruzar um pedaço da represa, o rolê todo não leva dez minutos. Ao pisar em terreno firme, rodeada pelas águas da Billings, a sensação que se tem é a de estarmos numa espécie de roça metropolitana, com galinhas ciscando cá e além, plantações de shimeji e pomares apinhados de laranja-melancia. Ainda tomado pela natureza, o lugar preserva uma porção generosa de mata atlântica, onde saguis se deliciam com gafanhotos na hora do lanche.

Há, todavia, outros seres a espessar o coro, sobretudo aos fins de semana. Podemos expressar que é uma trupe diversa, composta daquela galerinha hipster, tipo Santa Ceciliers e Ipojuquers, ciclistas dos Jardins, trilheiros de natureza (ou “nature lovers”) e a discreta turma que vem de todo esquina para observar pássaros —os “birdwatchers“. Esses se encantam com as notas altas e estridentes do barranqueiro-de-olho-branco.

O nome do lugar parece endossar essa, digamos, viagem: Ilhota do Bororé. Na verdade, não é ilhota, mas, sim, uma península dentro de uma APA (Dimensão de Proteção Ambiental), localizada nos extremos da zona sul da capital paulista, no região do Grajaú. Há uma estrada de terreno que liga o bairro à cidade, além de acessos por balsas.

Para enaltecer ainda mais essa aura de escapismo, bororé é o nome de uma substância venenosa que alguns grupos originários usavam em flechas, porquê arma de resguardo.

“A Ilhota é sensacional. Tem uma ‘vibe’ positiva. Parece que a gente não está em São Paulo“, comenta Carlos Gama Naggar, 57, gestor de RH. Carlão, porquê é publicado, trouxe um grupo de 43 ciclistas para saber Bororé. Eles partiram das alamedas Lorena e Joaquim Eugênio de Lima, nos Jardins. Pedalaram 43 km, passaram por diversos bairros e pararam no mirone da Ilhota, para uma pausa acompanhada de comes e bebes —por fim, o grupo se labareda Bike’n Beer.

Criado em 2010, o coletivo é bastante inclusivo, explica Carlão. Conta mais ou menos com milénio integrantes. São empresários, comerciantes, médicos, dentistas. “O bacana é admitir a proposta do lugar”, diz ele, afeito a pedalar faz 25 anos.

O bar do Mirone recebe gente de diferentes cantos. “Turistas são 95%”, calcula Wanderley Ramos, 45, o Bigode. Na opinião dele, o vestuário de a jangada ter aumentado, há murado de dois meses, a capacidade de transporte de 17 para 33 veículos, favoreceu esse boom. “Depois de cruzar a represa, as pessoas se esquecem do lado de lá. É outra atmosfera.”

No paraíso, entretanto, nem tudo são flores. Bigode critica a falta de infraestrutura nessa atmosfera dominada por mato e chuva. Faltam coisas básicas, segue ele, porquê calçadas. “Esses problemas não são exclusividade da Ilhota, mas a falta de zeladoria cá é gritante.”

Há 36 anos no bairro, Anatalia Jesus Rocha Siriano, 58, gosta de expressar que “primeiro vem a obrigação, depois a diversão”. Presidente da Amib (Associação de Moradores da Ilhota do Bororé), afirma que o turismo precisa chegar de forma organizada, com o mínimo de estrutura. “A chuva de poço artesiano de muitas casas é contaminada por metais pesados”, diz. “Cá, não existe saneamento capital. Somos desassistidos pelo poder público.”

A Prefeitura de São Paulo disse que o problema é do estado. A Sabesp, por sua vez, informou que o município precisa fazer os encaminhamentos para a regularização de uso e ocupação do solo, uma vez que há impeditivos legais para que a estrutura de saneamento seja implantada na Ilhota, já que a região também faz segmento de dimensão de recuperação de mananciais. De contrato com a empresa, o bairro tem murado de 80% de seu território vestido por mata atlântica, além de áreas de ocupação irregular.

É bom levar verba vivo porque muitos lugares não aceitam cartão, caso do Arrecadação do Edinho. O prédio é do final do século 19, calcula o proprietário, Edson Morelli Manzano, 52. Fica em frente a outro monumento histórico da ilhota, a capela de São Sebastião, obra em estilo barroco português, tal qual ano de inauguração, 1904, está marcado na frontispício.

O transacção atravessou gerações. Foi do avô dele, passou pelas mãos de tias, tios, mãe e pai até chegar às suas. “Tem de tudo um pouco”, explica Edinho, porquê é publicado. “Arroz, feijoeiro, produtos de higiene e, é simples, a cachacinha clássica da ilhota: a pinga de cambuci.” A ração sai por R$ 3 —abundoso na região, o fruto é típico da mata atlântica.

Num envolvente com tantas iguarias, há, entretanto, quem atravesse a jangada só para manducar bobó de shimeji (R$ 60), nos almoços da granja CoguLi, empreitada do par Ligiane Antunes, 40, e Reginaldo Oliveira, 45. Prato vegano à base de jerimu cabochan, leite de coco, dendê e, por óbvio, shimeji, vem ainda com arroz, farofa de proteína de soja, salada com flores comestíveis e suco de (enigma?) cambuci.

“Trabalhamos para atrair o turismo consciente à ilhota”, explica Antunes. Ao lado da cadela caramelo Zoe, 3, o par de fungicultores também abre as portas da propriedade rústico para a hospedagem, com diárias que vão de R$ 80 a R$ 200 (par, com moca manhã) e dimensão de camping (R$ 55). “Recebemos veganos, vegetarianos e pessoas com uma pegada mais ambiental”, completa Oliveira.

Mourejar com temas que orbitam o universo da preservação é um dos focos dos projetos educacionais da Lar Ecoativa, projeto ocupação cultural em um velho casarão, que fica ao lado de uma imponente figueira. Sob a sombra dela, crianças se embalam em atividades que promovem o resgate de antigas brincadeiras de rua.

“É só chegar”, avisa Emerson Ribeiro, 37, o Emerson Bororé, ator e um dos coordenadores do espaço. Distrair de pique-esconde, subir em árvores e usar o barro da terreno porquê tinta são ações que despertam o lado lúdrico, “reacendendo o vínculo com a mãe-terra”, explica ele.

Hoje reformado, o pai dele trabalhou na jangada por 25 anos. “Ela é o que nos diferencia. Literalmente, é um divisor de águas.” Podemos expressar que em diferentes aspectos: na Ilhota não há posto de gasolina nem talho, tampouco farmácia, unicamente pequenas mercearias. Precisa cruzar a represa para comprar quase tudo do lado de lá.

Essa movimentação pode ser trabalhosa para alguns, mas já está incorporada ao hábito dos “bororenses”. “Há aqueles que defendem a construção de uma ponte”, diz o rapaz. “Sou contra. A Ilhota do Bororé só é porquê é graças à jangada.”

Com as unhas entranhadas de terreno de tanto, nas palavras dela, “cutucar o soalho, mexer na terreno”, Maria Eduarda e Silva, 31, designer, caminhava às margens da Billings, perto do atracadouro. Tirou o domingo para curtir a mata. “São Paulo é uma cidade de contrastes”, afirmou. “De todos os tipos imagináveis.”

Ela planeja voltar à ilhota para saber o Parque Proveniente Municipal Bororé, dimensão criada porquê indemnização ambiental por desculpa do Rodoanel Sul. “Nossa esperança está na natureza“, disse ela, instantes antes de encarar o trajeto que a levaria de volta à selva de concreto e asfalto.

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