Início Turismo Hotéis com bibliotecas salvam qualquer dia chuvoso – 26/07/2023 – Josimar Melo

Hotéis com bibliotecas salvam qualquer dia chuvoso – 26/07/2023 – Josimar Melo

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De tantas coisas que se pode esperar de um hotel, qual a última delas? Não era o que me passava pela cabeça quando, chegando a Porto Seguro (BA), na semana passada, embarquei num coche rumo ao sul. Para o povoado de Corumbau, que para os mais abonados estaria a meros 18 minutos de helicóptero, mas de mim estava a 120 quilômetros e quatro horas de estrada.

Uma jornada que provaria valer a pena. Mais pelo lugar, histórico (foi onde Cabral aportou, ao divisar, porquê até hoje podemos, o monte Pascoal), e ainda razoavelmente ermo (um luxo na muvuca do sul da Bahia, mas nem por isto livre de magnatas e celebridades). Também pelo hotel, a Rancho São Francisco do Corumbau (unicamente dez acomodações numa praia imensa e mansa). E menos pelo tempo entanguido, pluvioso, que encontrei.

Por sua nomeada e preço, era originário ter a expectativa de ter no hotel conforto, serviço, gastronomia, venustidade. Mas o que não nos ocorre esperar, também ali estava –e foi uma alegria, principalmente diante da frente fria e úmida que deparamos, junto de um apagão na internet: livros.

Já comentei cá a aprazível surpresa de encontrar, no quarto do hotel Botanique de Campos do Jordão (SP), uma seleção de livros que disputava minha atenção com os encantos da natureza lá fora. Fiquei pouco tempo, mas o suficiente para agarrar-me aos ensaios de Roberto Schwarz (“As Ideias Fora do Lugar”). Cortesia, fiquei portanto sabendo, do jornalista e editor Cassiano Elek Machado, “curador literário” de lá.

Agora, na Rancho São Francisco, já na dimensão generalidade vejo livros exuberantes, destes mais comuns nas mesas de núcleo (mas não menos valiosos, vide o de fotografias de Araquém Alcântara, “Sertão sem Término”, lastreado demais por textos de Eder Chiodetto e Walnice Nogueira Galvão).

Já no quarto me deparei com livros zero decorativos, destes que cabem na mão e a gente consegue ler até na leito. De Jorge Querido a Tony Bellotto, passando pelo “Jardim dos Finzi-Contini“.

Mas foi com Mario Prata que me atraquei. Não conhecia seu “Sete de Paus”, que me atraiu pelo apelo de ser romance policial, gênero que nos atrai a ambos, além de ser um reencontro com oriente responsável que não vejo há anos.

Em suas páginas revi paisagens de Florianópolis, onde se passa secção da ação e para onde há tempos bandeou-se o Pratinha. Sentado na varanda do bangalô, livro em riste, ouvia o sussurro das folhas dos coqueiros do imenso jardim (às vezes urrando açoitadas pelo furioso vento sul), confundindo-se com o marulho das ondas esverdeadas muito adiante.

E me transportava a outras Florianópolis –a de um verão em família na lagoa da Conceição, entre tainhas e camarões; ou, anos antes, na presença de a iminência de sermos presos pela ditadura militar, a de um exílio improvisado com meus irmãos numa barraca sob um cajueiro na praia de Cacupé.

Não foi tudo. A intempérie que nos afastou do mar, da piscina, de passeios de navio abriu ainda espaço para o romance “Solução de Dois Estados”, de Michel Laub, retrato estéril de uma relação mesquinha, porquê que pavimentando a volta para a selva paulistana.

Confesso que tinha no tablet um livro pela metade, ao qual poderia ter recorrido. Mas um livro de história da gastronomia, mais com pinta de trabalho do que de sota. Foi um prazer tropicar em obras inesperadas, de temas imprevistos, ao alcance da mão.

Os livros que manuseei no hotel estavam virgens. O de Mario Prata era de 2008, mas parecia intocado, a não ser pelo tempo, que deixara pequenas manchas acobreadas de umidade. Porquê se fossem mera decoração. Desperdício.


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