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Homens aderem ao permanente para criar cachos nos cabelos – 07/05/2023 – Estilo

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The New York Times

As permanentes dos homens modernos geram muito estrondo, para um penteado tão suave. No TikTok, a hashtag #menperm, que se refere a uma das mais recentes tendências capilares nascidas no aplicativo, atraiu mais de 20,7 milhões de visualizações.

Os vídeos sobre o penteado começam frequentemente com um varão sentado em uma cadeira de salão de fígaro, fotografado dos ombros para cima. A câmera gira em torno de sua cabeça antes de exibir a imagem final que diadema o penteado: ondas sedosas e volumosas, esculpidas com laquê e reproduzindo o look desenvolto das boys bands de K-pop.

“Vi um vídeo de um influenciador asiático no TikTok, e ele tinha cabelo encaracolado; pensei que aquilo não tinha zero a ver, porque a maioria dos asiáticos tem cabelo liso”, disse Brandon Dhakhwa, 20, que é estudante em Durham, Inglaterra. “Mas depois pesquisei um pouco e descobri que ele tinha feito uma permanente.”

Outrora popular, sobretudo entre os homens coreanos e os americanos de origem coreana, o penteado se expandiu gradualmente para além dessas categorias de usuários, nos últimos quatro anos —graças, em secção, à subida meteórica do serviço de vídeos TikTok e das bandas de K-pop. Embora o penteado não seja uma novidade na Coreia do Sul, a sua adoção mais ampla significa uma mudança notável em relação ao início dos anos 2000, quando o uso do termo “metrossexual” —utilizado para descrever homens que prestam atenção à estética pessoal— se tornou popular.

Na Coreia do Sul, os padrões de venustidade estão intimamente ligados à indústria músico, “simbolizados pelo ídolo do K-pop com pele perfeita, imaculadamente vestido e com um cabelo perfeito”, disse S. Heijin Lee, que, porquê professora assistente de estudos sobre mulheres, gênero e sexualidade na Universidade do Havaí, em Manoa, pesquisa a cultura pop coreana, venustidade e mídias digitais.

Essas mesmas características veneradas —ou, no caso, as permanentes dos homens— são mais tarde colocadas em circulação por meio da mídia social.

Brendan Noji, 25, que trabalha em prestação de serviços para jovens LGBTQ e vive em Los Angeles, viu o penteado inicialmente na Internet durante a quarentena, nos primeiros dias da pandemia.

Noji disse que tinha um longo histórico de “desencontros” com relação a todas as modas capilares masculinas das últimas duas décadas: primeiro o cabelo retalhado a escovinha (Brad Pitt em “Sr. e Sra. Smith – Um Par do Fragor”), transformado em penteado à Justin Bieber (reinterpretação do velho galanteio em tigela) e, depois, em topete, sucedido por um coque masculino (no estilo dos hipsters e dos skatistas de Williamsburg, Brooklyn, por volta de 2015).

Antes de ir ao salão, ele fez a prelecção de morada. Compilou um repositório de referências que incluía Gong Yoo, o ator de “Round 6”, Lee Minho, o ator de “Pachinko”, e o grupo de K-pop BTS.

E desde a sua primeira permanente, em junho de 2020, Noji já fez o tratamento mais 10 vezes. “Adoro os meus cachos”, ele disse. “Sinto-me muito mais autoconfiante.”

“O cabelo ondulado adiciona muito mais personalidade, e ela parece muito mais próxima da minha.”

“VISTOSO, MAS NÃO EXAGERADO”

As permanentes obviamente não são novidade para os americanos: “hair bands” de rock pesado. Faixas para o cabelo. Sprays para o cabelo. Cabelos despenteados. A dez de 1980 é uma das mais memoráveis em termos de estilo dos cabelos nos Estados Unidos. Se o televisor estivesse ligado, lá estavam os penteados: cabelos duros porquê pedra, bufantes, com cachos maiores do que a vida, que cheiravam a estragado e exigiam hidratação.

Ao contrário de sua prima americana, que leva gel e produtos demais, a “permanente coreana” é muito mais sutil. É quase imperceptível, de modo a parecer proveniente.

Ben Duong, 19, estudante em Greenville, Carolina do Sul, descreveu os seus cachos soltos porquê “vistosos, mas não exagerados”. O seu penteado bastou para convencer dois amigos que o acompanharam à sua segunda consulta quanto a uma permanente a testar o processo.

Tyler Jung, 26, crítico em Novidade York, disse que só há dois tipos de pessoas no mundo: as que compreendem o penteado e as que não o compreendem. “Há pessoas que não reparam ou não prestam atenção, e isso pode ser interpretado porquê se a permanente ‘não estivesse funcionando’”, disse. “Mas, de certa forma, significa que o cabelo não parece sintético ou estranho, o que é a pior sensação que se pode ter com relação a um novo galanteio de cabelo.”

A permanente coreana (“permanente” é abreviatura de “vaga permanente”) se distingue por outras razões: Os cachos do topo são tenros e soltos; o penteado é versátil e pode ser ajeitado com o pente ou usado com franja; e os lados e a secção de trás da cabeça são aparados com uma tesoura. Por qualquer moeda a mais, uma pessoa pode optar por um permanente “para insignificante”, que relaxa e achata os fios teimosos de cabelo que sobressaem, criando uma ar mais suave.

“Atribui-se a Karl Nessler a geração da primeira máquina de ondas permanentes, em 1906, e ela rapidamente se tornou geral na maior secção dos salões de venustidade”, afirmou a historiadora Rachael Gibson, cuja especialidade é o cabelo. Mas, acrescentou, a permanente deixou suas origens muito para trás e já não é executada com “métodos utilizados na indústria têxtil para mudar as fibras”.

A permanente “sem máquina”, que utiliza unicamente produtos químicos para mudar a textura do cabelo, foi criada em 1932 pela Zotos, e kits de permanente caseiros se tornaram amplamente disponíveis na dez de 1940, afirmou Gibson.

No início dos anos 1900, Garrett Morgan, um pioneiro entre os inventores negros americanos, descobriu um alisador de cabelo eficaz, ou o que é mais sabido atualmente porquê relaxante. Em vez de gerar caracóis, o tratamento químico alisava os fios. Embora os alisadores tenham sido historicamente utilizados pelos negros e outras comunidades que têm cachos naturais, o tratamento e as aplicações para salientar esses cachos contribuíram para alguns dos penteados mais emblemáticos dos homens negros.

A origem do estilo moderno de permanente não é clara, mas algumas das mais conhecidas celebridades coreanas do sexo masculino, incluindo o jogador de futebol Ahn Jung-hwan e Bae Yong-joon, ator do K-drama “Winter Sonata” (também conhecida porquê “Sonata de Inverno”), são amplamente creditadas porquê tendo popularizado a permanente masculina durante o início da dez de 1980, afirmou Sehwa Jin, cabeleireiro e proprietário do Naamza, um salão de Los Angeles especializado em penteados populares entre os homens coreanos.

Desde logo, surgiram “vários estilos de permanente ondulada”, outro termo para se referir a levante penteado, entre os quais aquele que vem ganhando popularidade atualmente entre os membros da Geração Z e da Geração Milênio, disse Mujin Choi, um cabeleireiro sul-coreano que trabalhou com o grupo BTS.

Jin acrescentou que há décadas existem várias interpretações das permanentes masculinas, no Japão e na Coreia do Sul, mas as diferenças residem “na voga e no estilo de cada país”. Os métodos e ferramentas por trás da permanente, no entanto, não são assim tão diferentes dos usados para produzir as elásticas cabeleiras que dominavam os penteados masculinos americanos no final do século 20.

Ambos utilizam soluções químicas e chapinhas plásticas. Ambos podem impor calor, a depender do paisagem desejado, e ambos mantêm os cachos por entre dois e seis meses, a depender do interesse da pessoa nos cuidados posteriores, que incluem hidratação, evitar a umidade e usar produtos feitos para cabelos tratados. E, para reportar uma frase de Elle Woods em “Legalmente Loira”, todos precisam seguir a mesma regra fundamental: “É proibido molhar o cabelo por pelo menos 24 horas depois de fazer uma permanente”.

O preço do procedimento nos Estados Unidos, de entre US$ 120 e US$ 400 (R$ 593 a R$ 1977), fica na tira mais subida do dispêndio dos tratamentos capilares para homens e depende de vários fatores, incluindo localização, o número de produtos capilares necessários e a gorjeta (as permanentes para homens são consideravelmente mais baratas na Coreia do Sul, variando entre US$ 25 e US$ 165, ou seja de R$ 123 a R$ 815). Mas a Geração Z e a Geração Milênio continuam a afluir aos cabeleireiros com o exalo de fãs de K-pop.

Christian Kon, que trabalha com recrutamento de pessoal em Los Angeles, passou secção de sua puerícia no Japão, onde as permanentes masculinas são comuns. De 2011 para cá, ele faz uma permanente de três em três meses. Para ele, a conveniência supera o dispêndio.

“Uma permanente requer pouca manutenção”, disse Kon, 30. “Concórdia e o meu cabelo está pronto. Já tenho volume. Já tenho textura. Já tenho cachos.”

Noji acredita que ele também tenha chegado a um compromisso firme com a permanente. Mas às vezes sente falta de suas madeixas naturais. “De vez em quando, penso em voltar ao meu cabelo liso”, disse Noji. “Mas depois me lembro de que esse é o problema das permanentes: Elas não são realmente permanentes.”

A PERMANENTE COMO PORTA DE ENTRADA

Embora modas quanto a penteados surjam e desapareçam o tempo todo, a permanente dos homens modernos evoluiu. E se tornou um pouco semelhante a uma porta de ingresso.

Depois que começaram a tratar de suas madeixas, os jovens que falaram ao The New York Times disseram que passaram a investir mais reflexão (e moeda) em suas práticas gerais de cuidados pessoais. A alquimia do calor e das soluções de permanente agressivas pode danificar o epiderme viloso e os folículos capilares, e não massagear os cabelos com óleo capilar com a frequência devida pode resultar em cabelos secos e quebradiços.

“Se quiser manter os seus cachos por muito tempo, você precisa se esforçar um pouco mais”, disse Dylan Norng, 22 anos, professor substituto em Fontana, Califórnia. A rotina de Norng consiste principalmente em usar condicionador e dar batidinhas em seus cachos com uma toalha de microfibra antes de secá-los.

Jung, por outro lado, dirigiu a sua atenção dos fios no topo da cabeça para os do rosto. Desde a sua permanente inicial, em 2020, ele passou por uma coloração das sobrancelhas e um lifting das pestanas.

Os cachos delicados podem ser um sinal de uma mudança mais ampla, do padrão de venustidade masculino arcaico do pretérito para um padrão mais livre e expansivo, hoje.

“Vivemos um momento, pelo menos nos Estados Unidos, em que as gerações mais jovens são muito críticas quanto a um pouco porquê a masculinidade tóxica”, disse Lee. Os penteados dos adorados membros das “boys band” de K-pop e dos atores principais dos dramas coreanos oferecem uma selecção, ela disse.

“Um pouco porquê uma permanente masculina se torna uma forma estética de usar e simbolizar essa mudança”, ela disse.

K-POP, K-DRAMA, K-TUDO

Se desenharmos um gráfico que meça a proliferação das permanentes masculinas, o mais provável é que o traçado coincida com o de um gráfico que trace a popularidade dos grupos de K-pop e dos K-dramas nos Estados Unidos. A prevalência dessas exportações pode ser observada em dois períodos de tempo distintos, que também convergem com a subida de vários aplicativos de redes sociais.

No início da dez de 2010 —quando o Instagram não tinha anúncios e a Geração Milênio ainda usava o Facebook— havia as boy bands BigBang e SHINee, o cantor de “Gangnam Style”, Psy, e a série dramática “Boys Over Flowers” (ou “Meninos Antes de Flores”). Na dez de 2020, que trouxe o boom do streaming de TV e a pandemia, vieram o TikTok, o BTS, o grupo feminino de K-pop Blackpink e a série “Round 6”.

No final da dez de 1990 e no início da dez de 2000, os principais meios de informação dos Estados Unidos e os apresentadores de talk shows se concentravam nos coreanos que queriam fazer cirurgia plástica para “parecerem brancos”, disse Lee (por exemplo, alguns americanos ficaram obcecados com o vestimenta de os asiáticos se submeterem a cirurgias de plástica de pálpebras para obter uma aparência mais ocidental).

“Mas avançamos rapidamente para o momento atual, em que vemos muitas tendências a ‘parecer coreano’”, ela prosseguiu. “Creio que essa mudança ilustre muito a forma pela qual a cultura pop coreana explodiu e se tornou uma sensação global.”

O Naamza, um salão de cabeleireiro sediado em Los Angeles, foi fundado em 2018 e, antes de 2020, as permanentes para homens representavam unicamente 30% de seus negócios. Hoje, essa percentagem mais do que duplicou, de consonância com o gerente do salão, Han Kim. Do outro lado do país, na cidade de Novidade York, o Salon Jatel viu o número de pedidos desse penteado saltar para 22 entre janeiro e março de 2023, na presença de quatro no mesmo período em 2021.

Embora tenha surgido um surto de demanda pela permanente masculina, os pedidos ainda vêm de uma parcela relativamente pequena da clientela, disse Harumi Mikami, estilista do Salon Jatel.

Kim disse que o penteado estava “crescendo rapidamente” e atribuiu ao consumo em tamanho de K-pop e do TikTok uma mudança no perfil demográfico dos clientes do salão. De 2018 a 2019, tapume de 90% dos clientes de Naamza eram coreanos e americanos de origem coreana e “jovens profissionais do sexo masculino que já estavam familiarizados com permanentes”, disse Kim. Depois de 2020, continuou ele, isso mudou para 70% de asiáticos e americanos de origem asiática (incluindo coreanos e americanos de origem coreana) e 30% de homens não asiáticos.

O ímpeto para a permanente de Eric Ambriz foi o libido de testar um pouco novo. “Tenho um cabelo muito grosso e liso, e por isso mudar para o encaracolado foi muito risonho”, disse Ambriz, 32, que é americano de origem mexicana e trabalha na empresa de transporte rodoviário de sua família em Oxnard, Califórnia. “Faz com que a pessoa se sinta dissemelhante.”

Mas para muitos, porquê Norng, que é americano de origem chinesa e cambojana, ver celebridades asiáticas do sexo masculino usando cortes semelhantes foi uma validação mormente possante. “Se fica muito nos ídolos do K-pop, também deve permanecer muito em nós”, ele disse.

Jung, que gasta tapume de US$ 300 (R$ 1.483) em um salão de cabeleireiros de três em três meses, disse que “se você tem alguma renda disponível, por que não quereria ser parecido com um ídolo coreano?”.

Tradução de Paulo Migliacci

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