No meio do caminho tinha não uma, mas tantas pedras que um escorregão poderia completar com a viagem. Tinha tubarões, e uma bobeada no mar poderia motivar uma tragédia.
Mas também tinha paredões rochosos imponentes, águas cristalinas, golfinhos saltitantes, peixes de todas as cores e tudo o que a natureza tem de mais encantador.
Viajar a Fernando de Noronha é assim —perrengue detrás de perrengue que, se levados a cabo, oferecem experiências capazes de deixar qualquer um boquiaberto. Até quem coleciona passaportes lotados de carimbos.
Prova disso é que a praia do Sancho, a principal do arquipélago, acaba de ser eleita a melhor do mundo pelos usuários do TripAdvisor, o maior site de viagens da internet. O problema é que Noronha não é o sorte mais adequado para crianças, idosos ou pessoas com deficiência.
Para chegar a qualquer praia, há uma penitência —e quanto maior ela for, maior será a recompensa.
Para se banhar no Sancho, por exemplo, é preciso caminhar meio quilômetro e descer um penhasco com 208 degraus, segmento deles incrustados no meio de um paredão de rochas —o que pode impedir a passagem de uma pessoa obesa ou claustrofóbica.
Vencida a provação, porém, a paisagem, já fantástico vista de cima, ganha contornos ainda mais surpreendentes, com um mar de uma heterogeneidade incomparável de peixes, tartarugas e arraias.
A experiência é parecida nas demais praias, sobretudo as do Parque Pátrio Pelágico, que compreende a maior segmento das que são banhadas pelo mar de Dentro, uma vez que é divulgado a segmento do oceano voltada ao continente sul-americano, que sofre menos influência dos ventos e tem águas mais calmas e mais claras do que as do mar de Fora, voltado para a África.
Para ter entrada ao Parque Pátrio Pelágico, aliás, é preciso desembolsar R$ 179. Isso permite a ingressão nas praias do Atalaia, da Caieira e do Leão, além da baía do Sueste, dos Porcos e dos Golfinhos —isto é, as regiões mais famosas e mais bonitas, onde o entrada ainda é condicionado a algumas regras, uma vez que a proibição de bebidas alcoólicas e do uso de drones.
O ingresso não tem relação com a taxa de preservação ambiental da ilha, a TPA, de R$ 92 ao dia. Ambos podem ser pagos tanto via internet quanto na ilhéu, o que não é indicado para quem não quer perder tempo em filas.
Tempo, finalmente, é verba. Em Noronha, mais ainda. Mas é provável poupar.
As boas pousadas da ilhéu têm diárias de R$ 1.000 a R$ 3.000 para um parelha. Uma boa escolha para quem está viajando em família ou entre amigos é alugar uma moradia. As diária são semelhantes, mas cabem mais pessoas.
Dá também para cozinhar em moradia. O preço das mercearias é o duplo de um supermercado do continente, mas ainda assim a conta fica muito mais barata do que consumir em restaurantes ou padarias.
Para não deixar de saber a gastronomia lugar, é provável mesclar um almoço mais simples e rápido feito em moradia com um jantar mais elaborado fora e vice-versa.
Além dos restaurantes de maior renome, uma vez que o Xica da Silva, uma boa opção para consumir frutos do mar é o Cacimba Bistrô, que batiza seus pratos com alguma cafonice em homenagem aos globais.
Também é provável preparar lanches para levar aos passeios. Não só para poupar, mas porque a maioria das praias não tem transacção.
As que têm são boas para almoçar com a vista do mar ou presenciar ao pôr do sol com um drinque em mãos.
Os preços podem assustar. Um dos mais tradicionais, o Bar do Meio, é divulgado uma vez que bar do euro. Uma long neck ali sai por R$ 20, enquanto um prato à la carte para dois vai de R$ 150 a R$ 200. A dica é levar verba, porque o sinal de internet irregularidade muito.
Não é muito mais dispendioso, verdade seja dita, do que se paga em São Paulo ou em praias mais desejadas do Nordeste, uma vez que Porto de Galinhas (PE). A diferença é que os produtos só chegam até lá de paquete.
Os passeios tampouco são muito mais caros do que noutras praias do Nordeste. Importante para saber a ilhéu toda de maneira mais rápida antes de escolher quais pontos explorar com calma, o Ilhota Tour custa R$ 250 por pessoa.
É o mesmo valor do tour de paquete pelo mar de Dentro, que oferece uma vista panorâmica das praias entre os golfinhos.
Os passeios, aliás, precisam ser agendados com antecedência. Enquanto o Ilhota Tour deve ser feito no primeiro dia de viagem, de preferência com sol, para as fotos saírem bonitas, o de paquete precisa ser agendado para um dia em que o mar esteja mais remansado.
Quem não gosta de mar frenético, aliás, precisa ir a Noronha na subida temporada, entre agosto e outubro. Tudo pode permanecer mais dispendioso, mas nos outros meses a ilhéu é atingida por ventos fortes, num
fenômeno chamado “swell”.
As ondas podem permanecer tão altas, que algumas praias se tornam impróprias para banho, o que também impossibilita a realização de passeios uma vez que o mergulho de cilindro.
Caso o leitor não possa viajar noutra idade ou tenha marcado a viagem sem saber do “swell”, uma vez que fez oriente repórter, não há motivo para pânico. A ilhéu seguirá tão bela uma vez que sempre. Se não der para tomar um banho de mar num dia ou no outro, paciência.
Finalmente, não só a maré pode ser um proibitório ali. Os tubarões, constantes no arquipélago, afugentam os turistas. Eles são mais frequentes em algumas regiões —caso da baía do Sueste, interditada para banho devido a um incidente há um ano—, mas é provável avistá-los em qualquer praia.
Mesmo que os ataques sejam raros, nenhum turista quer se aventurar a, com a chuva nas canelas, divisar
um berçário de tubarões.
Noronha é, assim, a prova de que, frente à natureza em seu estado bruto, não somos nem temos controle sobre zero. Por mais clichê que possa tanger, ali, só a possibilidade de contemplar uma
das paisagens mais belas do planeta já é recompensador.