Alguns meses detrás, participei de uma degustação de ovos de Páscoa para a Folha. Fiquei surpreso com a quantidade de ovos com pistache –misturado ao chocolate ou, mais frequentemente, na forma de uma pasta esverdeada e muito guloseima que recheava a casca.
Agora, na bica do Natal, o fenômeno se repete com os panetones.
Influenciadores inundam as redes com atos libidinosos de panetones sendo acariciados e apalpados e esguichando teor verdejante e gosmento.
O resultado mais semelhante a esse creme de pistache é a popular Nutella. Parece que o manipanço da Nutella está desgastado, logo os doceiros decidiram apostar em sua versão verdejante e supostamente mais sofisticada.
Aí está o truque.
Esse creme de pistache não é melhor nem mais chique do que a surrada Nutella de chocolate e avelã. Sequer é verdejante de verdade.
Pistache moído fica cinzento por dois motivos: 1) ele é tão verdejante quanto alguns imaginam e; 2) a polpa triturada, exposta ao ar, sofre oxidação. Zero de mais. Mas o povo pesa a mão em corantes, naturais (uma vez que a clorofila) ou não, para deixar as coisas de pistache numa tonalidade Shrek.
Ou por outra, o tal creme de pistache leva toneladas de açúcar, gorduras e leite. Para atender ao paladar dos consumidores de Nutella e para tornar o resultado menos dispendioso.
O pistache é um substância fantástico, de sabor quebradiço que funciona tanto em doces quanto em salgados. Uma pena que tenha sido agredido na Páscoa para ser fraco de vez no Natal.
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