Uma vez que engordar dois quilos em dois dias? Muito simples: dê um pulinho em Minas Gerais, com sua ampla tradição de mesa farta e comida pujante. Difícil evadir de seus efeitos. E olha que no termo de semana pretérito nem me joguei despudoradamente em pecados habituais –uma vez que o fígado com jiló do Mercado Meão (sempre precedido por cachaças, escoltado por muita cerveja, fora as broas ou doces de leite). Nem do Mercado Novo, com seus drinques e comidas que distraem nosso gosto por horas, escoltado de boa prosa.
Boa segmento de meu programa foi muito mais polido. O que não amenizou os efeitos calóricos que toda passagem por Belo Horizonte produz.
Estive, a invitação da Secretaria da Cultura e Turismo do estado, participando do 1º Festival Internacional de Cozinha Mineira Contemporânea. “Internacional” porque quer mostrar ao mundo a moderna gastronomia sítio –nesta primeira edição, houve um intercâmbio com o Caribe, através da ilhota holandesa de Curaçao, cuja cooperação, por sinal, deu origem ao coquetel Caipiblue –cachaça com licor Curaçao Blue.
Ao mesmo tempo, uma vez que apelo contemporâneo, houve nos banquetes o foco de chefs de sabor mineiro, mas pegada autoral –uma vez que Caio Soter (do Pacato de Belo Horizonte) e Felipe Rameh (do Tragaluz de Tiradentes), curador gastronômico do evento.
A contemporaneidade, que extravasa as fronteiras de Minas, era também tema dos debates de dois dias do simpósio “Conversas de Cozinha”. No mesmo sítio, a Feira de Minas exibia o trabalho de pequenos produtores do estado, que esbanjavam ingredientes saudáveis. Zero de excessos. E ainda assim… dois quilos a mais.
Acontece que em Minas é difícil manter a compostura à mesa. No sábado (2), um almoço no Pacato exibe menções criativas aos produtos locais (“ostras” de frango, “escargots” de moela de pato) e conclui com uma extravagância de “cozinha de quintal” –costela bovina, frango assado, picanha, torresmo, farofa, arroz… até licor de gula de leite.
À noite, festim no Palácio da Liberdade, belo prédio do arquiteto Ramos de Azevedo que foi sede do governo e hoje é espaço cultural. Na garbosa sala de jantar, sobre a mesa gigantesca com toalhas bordadas, ladeada por colunas de pedra-sabão lembrando mármore, o jantar assinado por Rameh traz porções pequenas e delicadas –uma vez que o provocante jiló com mostarda, mel e pimenta caipira; e a ventre de porco com purê de banana caramelada, minivegetais e pancs.
Se fosse só isso… mas aí… “óia só procê vê”, uma vez que se diz por ali:
Na véspera, sexta-feira (1), já houvera jantar no hotel Fasano, com sua precisa cozinha italiana. Antes disso, um almoço no Núcleo de Referência do Queijo Artesanal Mineiro, onde chefs instrutores da futura escola de cozinha para jovens vulneráveis serviram um saboroso frango com quiabo e angu.
E no sábado, entre almoço e jantar, visitamos um belo projeto social no Morro das Pedras, comunidade que reúne várias favelas ladeira supra. Conhecemos as instalações dos Arautos do Gueto (@arautosdogueto), com suas aulas para crianças e jovens. Mas também nos jogamos nos irresistíveis pães de queijo do Fred e da Gabi (@mix_lanchesbh); e nos bolinhos de feijoada da Ita (@cozinhadaita). E uma vez que a matéria-prima dos bolinhos estava ali dando sopa… uma vez que antepasto ao festim do palácio, atacamos a feijoada da sorridente Ita.
Não preciso lembrar que entre as atividades passeávamos na feira de produtores que mencionei. E dá-lhe queijo –os do parelha Ribeiro Fiorentini (@ribeirofiorentini) são fantásticos), gula de leite, licor, mel… e sobrepeso momentâneo e guardado.
O jornalista viajou a invitação da Secretaria de Cultura e Turismo do Estado de Minas Gerais
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