São Paulo
Filha, mana e mãe, Samara Felippo, 44, encara a maternidade de forma prática e fala sobre ela sem papas na língua. “Ser mãe é um game. A gente só vai mudando de fases, você vai jogando e morrendo e sobrevivendo”, compara em bate-papo com o F5.
“A gente morde a língua também, e faz coisas que disse que não faria”, diz a carioca, que vai comemorar nascente Dia das Mães com as filhas Alícia, 14, e Lara, 10, frutos de seu relacionamento com o ex-jogador de basquete Leandrinho Barbosa. O parelha ficou junto entre 2005 e 2013, mas hoje Samara cuida das meninas sozinha.
Ela esclarece que, para ela, mãe solo é aquela que é responsável pelos cuidados diários dos filhos, mesmo que essa mulher esteja em um relacionamento. “Uma frase que repito sempre é: mãe solo pode ser casada. E o termo é ‘mãe solo’, e não ‘mãe solteira’, porque minha maternidade não tem a ver com meu estado social”, afirma.
“Existem homens que saem para trabalhar, para crescer profissionalmente na curso, e a mãe fica em morada sozinha com toda a demanda emocional, psicológica”, explica. “Mas às vezes, essa mulher continua nessa relação por uma sujeição financeira ou emocional.”
Samara conta que abdicou de muitos sonhos para ser mãe, mas não se arrepende. Ela diz só descobrir injusto ainda subsistir o mito do “paizão”, adjetivo usado —muitas vezes— para qualificar quem só faz o essencial e, mesmo assim, recebe uma chuva de elogios.
“É obrigação chegar junto, não só financeiramente, mas emocionalmente”, afirma. “Nós, mulheres, vestimos a camisa da ‘heroína’, quando, na verdade, estamos exaustas. Quando eu ‘milito’ nas minhas redes e digo ‘eu senhoril minhas filhas, mas não paladar de ser mãe’, eu não falo sobre as pessoas não terem filhos. Mas sobre as pessoas terem filhos com muita consciência”, explica.
Cercada por uma rede de espeque, Samara conta com ajuda de familiares, amigos e da mãe, Lea Felippo, que é apaixonada pelas netas. “Uma mulher sem rede de espeque é exausta, sobrecarregada, histérica, dramática”, diz.
“Me perguntam sempre uma vez que tive coragem de me separar com duas filhas. Mas foi quando eu consegui enxergar o que não queria mais para mim. E aí fui me apropriando de mim. Hoje, até com amizade, se está sendo toxico, se está me adoecendo, eu tiro da minha vida”, conta. “Fomos ensinadas a sermos boazinhas, gentis. Eu vim de uma criação muito conservadora, pouco questionadora. Hoje, eu não guardo mais zero, coloco tudo para fora.”
Com personalidade potente, a atriz diz ser um livro destapado e falar, fazer e vestir o que quer. Ela costuma debater com seus mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais sobre maternidade solo, sexualidade e política, entre outros temas. Aos “palpiteiros de plantão”, afirma que não se incomoda com a opinião alheia.
“Eu faço 45 anos neste ano”, lembra ela, que ainda é bastante lembrada pelo papel de Érica, que interpretou entre 1999 e 2002 em “Malhação” (Orbe). Segmento do público estranhou quando ela resolveu assumir as mechas brancas no cabelo. E sempre tem também quem critique quando ela publica alguma foto mais sensual nas redes sociais.
“Eu acredito que a mãe perfeita até existe, mas ela ainda não teve fruto”, dispara a atriz. “Essa teoria dessa mãe pura, estirpe, vem reverberar quando eu coloco a roupa que eu quero e sou julgada. E aí junta essa imagem que a sociedade idealiza, com o machismo estrutural —porque quando uma mulher se veste assim é ‘vulgar’, é ‘promíscua’… Mas estamos caminhando a passos de formiga.”
Para a psicanalista Val Marquesi, essa idealização da maternidade é realmente perigosa. Ela aconselha a não permanecer se comparando com outras mães e avalia que, com isso, pode surgir (ou aumentar) uma sensação de não se descobrir merecedora ou suficiente uma vez que mãe: “As redes sociais podem trazer muitos prejuízos a saúde mental”.
“É importante ler e estudar, mas o mais importante é que a mãe aprenda a se conectar com o fruto”, diz. “É ouvir experiências, mas buscar filtrar. Pois o que funciona para uma mãe, não funciona para outra. Acho que o pior para a mãe é a verificação. As redes são unicamente um recorte bonito da vida da pessoa e não representa o todo. Logo é cruel se confrontar. Arrisco expressar que a verificação seja pior do que o excesso de informações.”
A verificação, aliás, é um tema que Samara sempre tenta levar para suas redes. A atriz conta que recebe muitos desabafos e agradecimentos por meio de seus perfis. “Essa vontade de falar vem dessa rede de mulheres enorme. Recebo relatos de mulheres dizendo que não se sentem um monstro na maternidade, uma vez que: ‘Obrigada, você tirou uma tonelada de dentro de mim’, ‘a gente é silenciada o tempo inteiro’, ‘você é muito real’.”
A atriz juntou esse turbilhão de sentimentos e desabafos, o que culminou no projeto da peça “Mulheres Que Nascem com os Filhos”, que tem direção de Rita Elmôr e estará em papeleta no teatro MorumbiShopping (zona sul de São Paulo) nos dias 1º, 2, 3 e 4 de junho. Ao lado da amiga e atriz Carolinie Figueiredo, ela conta que ambas tinham o libido de entender as transformação sofridas por elas depois se tornarem mães.
“A gente idealiza o parto, a amamentação, a relação perfeita, a mãe perfeita que queremos ser. E é sobre isso que falamos na peça. Uma vez que mourejar com a frustração quando as coisas dão falso e quando nos empoderamos dessa maternidade e dessa mulher que renasce depois dos filhos. São histórias reais e uma desromantização feroz”, antecipa.