Início Turismo Copacabana Palace seguirá o mesmo após 100 anos? – 02/08/2023 – Turismo

Copacabana Palace seguirá o mesmo após 100 anos? – 02/08/2023 – Turismo

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Um dos desafios da grande hotelaria de hoje é o mesmo que vejo em outros ramos associados ao consumo de luxo: é manter um caráter e uma personalidade (pois, sim, coisas caras e famosas podem muito muito ser unicamente padronizadas, perdidas na povaréu).

O capitalismo ruma, há muito, para a apropriação de marcas em conglomerados financeiros, inclusive marcas historicamente associadas ao nome de seus artesãos criadores. Corporações tendem a tragar e empilhar antigas tradições. Vale para voga, bebidas, automóveis, livros.

Na hotelaria, seus princípios modernos foram instituídos pela dupla Ritz-Escoffier. Que não eram marcas, eram pessoas: o hoteleiro suíço César Ritz (1850-1918) e o chef de cozinha gaulês Auguste Escoffier (1846-1935). Os hotéis que criaram eram administrados por eles, que deixavam sua filosofia e sua marca pessoal em cada cortinado suspensa, em cada xícara de chá.

Conversando há pouco com um diretor do centenário hotel La Mamounia, de Marrakesh (tendo sempre porquê possuinte principal uma empresa estatal –portanto, sob os auspícios da família real), ele contou que seu trabalho anterior, numa grande rede, foi implantar um novo hotel. Inaugurado, ele foi realçado para uma novidade função em outro país, frustrando seu libido de permanecer acompanhando o incremento da obra que ele tanto fez para erguer. Desistiu portanto das grandes redes.

Tenho esta mania de perscrutar restaurantes e hotéis à procura da “mão do possuinte”. Lamentei quando soube que o majestoso Crillon, de Paris, não pertencia mais à família Taittinger (aquela mesma, dos champanhes). E exultei quando vi que o Hôtel de Paris, de Montecarlo, que pertence à empresa do príncipe de Mônaco, ao passar por uma reforma multimilionária ressurgiu renovado, mas mantendo sempre o mesmo padrão (de elegância até mais discreta, menos ostentatória, apesar de tanta futilidade ao volta).

Fico feliz em ver, mesmo com marcas que se expandem, a mão de um pai, que permanece porquê proprietário ou sócio –no caso do Brasil, ocorre com hotéis de rede como Fasano (o exemplo mais superabundante), Emiliano, Unique.

Sei que não adianta ser saudosista, a máquina é voraz e seguirá devorando marcas e produtos locais. Mas acho interessante quando o processo se dá em pequenos nichos –porquê, na hotelaria, acontece com pequenas coleções de hotéis de luxo ou de charme.

Foi o que aconteceu com o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, que ao trespassar do controle da família fundadora, logo faria secção de uma boutique de hotéis históricos com uma visão clara de restaurar antigas joias da hotelaria.

Oferecido que a família fundadora não mais se dedicava ao hotel, foi uma boa notícia. Sou um velho frequentador, mormente em função do meu trabalho (não do meu bolso…). Sempre gostei do seu envolvente, do seu prédio (mera imitação –mas com o tempo, ela se incorpora na paisagem e ganha nosso afeto).

Durante anos tive um cartão de crédito somente porque acumulava pontos que podiam ser trocados por hospedagens no Despensa (num apartamento de fundos e sem recta ao caríssimo moca da manhã –que eu tomava com a família na vivenda de sucos baratinha ali perto). Pois mesmo eu sendo leste hóspede mixo, pagando com pontos um quarto dos fundos e ainda economizando no moca, era tratado porquê um habitué (que de traje fui me tornando): já no check-in sempre era presenteado com um quarto melhor, de frente para o glorioso mar de Copacabana.

Com gestos destes você se sente em vivenda: porquê se estivesse na pensão familiar de uma tia, se me perdoam o notório excesso. Um dos motivos pelo qual sempre me agradou permanecer lá é que, coisa raríssima num hotel, eu convido meus amigos cariocas para um drinque na Pérgula (o restaurante “confinado” entre a vista do mar e a da piscina), e eles vão. É porquê se eu estivesse em vivenda, e eles também.

Contra a padronização da hotelaria, contra o espírito americano de exportar mundo afora um estilo de vida que não é o do mundo afora, é muito bom ver um hotel que consegue manter, mesmo para os locais, o papel de ser um espelho da cidade —a ponto de ter até sobrenome que todos (frequentadores ou não) conhecem.

Depois de ser comprado pelo pequeno grupo de hotéis históricos, agora o Despensa pertence a uma corporação gigante, a LVMH, que comprou a marca Belmond e seu charmoso portfólio. É o novo duelo que se impõe. Conseguirá o hotel, daqui a uma dez, ser ainda considerado pelos cariocas porquê “coisa nossa”? Conseguirei eu seguir sentindo ali o protecção da pensão da tia? Porque o melhor teste para um hotel de qualquer porte não é oferecer o luxo, mas a sensação de acolhimento.

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