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Copacabana Palace, aos 100 anos, conta história do Brasil – 02/08/2023 – Turismo

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Há século anos, não havia muito o que ver cá. Quem abriu as janelas do Copacabana Palace para sentir a brisa do mar, no dia 13 de agosto de 1923, olhou para uma região ainda esvaziada: além da areia, havia árvores, poucas casas, pescadores.

Do lado de dentro, candelabros tchecos, carpetes ingleses, porcelanas francesas, móveis suecos, cristais Baccarat –e hóspedes em exclusivamente seis quartos para ver aquela pompa toda. Mesmo assim, eram mais de milénio empregados.

O contraste entre paisagem e sede do projeto ilustra os riscos de fracassar que o Despensa correu. Mesmo assim, o hotel chega agora ao seu centenário, com uma história que se mistura à do país, em um bairro que passou de semideserto a fervilhante.

Foram os hóspedes que, ao longo das décadas, emprestaram sua renome ao Despensa. Cá, Orson Welles arremessou, da janela do quarto, sua máquina de redigir na piscina, a mesma onde a princesa Diana nadaria décadas depois numa noite quente de abril.

A lista de hóspedes inclui políticos, cientistas, músicos, escritores, nobres e plebeus. Seus nomes estão nas páginas amareladas de um documento histórico ao qual poucos têm entrada, o livro de ouro do hotel.

Nele, aparecem Santos Dumont, Walt Disney, Madonna, Nelson Mandela, e o agora rei Charles 3º, nos tempos menos glamourosos de príncipe. Também passou pelas suítes o rei Carol, da Romênia, que foi destronado na Segunda Guerra e chegou ao Despensa com a amante e oito cães pequineses. A lista é enorme.

Zero mau para um hotel que poderia ter naufragado logo de rostro. O Despensa foi um projeto capitaneado por Octávio Guinle (1886-1968), concebido sob inspiração de hotéis da Riviera Francesa. A teoria tinha sido do logo presidente Epitácio Pessoa, que queria um lugar para convidados da celebração do centenário da Independência se hospedarem.

Pessoa prometeu que Octávio poderia ter um cassino ali. Pouco tempo depois da sinceridade do hotel, o governo proibiu os jogos de má sorte. E agora, porquê remunerar as garrafas de uísque?

Dez anos depois, com a autorização do governo Getulio Vargas, o cassino finalmente saiu, e o Copacabana Palace marcou a jogatina na velha capital —com seus grã-finos jogando roleta e carteado. A sarau do pessoal do tecido verdejante só durou até 1946, quando veio a novidade proibição dos jogos.

Nesses dois momentos, os salões do Despensa ajudaram a redigir a história da música brasileira.

Na quadra das roletas, os cassinos tinham orquestras e recebiam estrelas nacionais e de fora do país. Depois, viria a era das boates –o salão chamado de Meia-Noite, no hotel, é considerado a primeira do Brasil. Essas casas noturnas foram o envolvente ideal para o sucesso do samba-canção, uma história resgatada por Ruy Castro em “A Noite do Meu Bem”.

O livro de Ruy é uma das principais obras a retratar um dos períodos mais intensos da história do hotel. Foi o auge de figuras porquê Jorginho Guinle, sobrinho de Octávio, que ostentou com orgulho o título de playboy e foi um dos símbolos do Despensa. Ele e os amigos garantiam que não faltasse tema para as colunas sociais.

“O Octávio e o Despensa projetam o nome dos Guinle para a história. E, quando surgiu, o hotel era o sub negócio da família. Eles tinham a licença do porto de Santos, um banco sólido, uma companhia de vigor elétrica… A hotelaria era um zero”, diz o historiador Clóvis Bulcão, responsável de “Os Guinle – A História de uma Dinastia”.

Posteriormente a morte de Octávio, em 1968, o hotel foi se afundando em uma crise. Os anos 1980 costumam ser lembrados porquê um período de decadência –para se ter uma teoria, o Despensa não tinha nem ar condicionado nos quartos, quando outros hotéis de luxo já tinham se instalado na zona sul. Em 1989, foi vendido para um grupo estrangeiro, que hoje se labareda Belmond.

“Decadente é uma vocábulo poderoso, mas adequada”, lembra Philip Carruthers, primeiro diretor-superintendente do hotel depois da saída dos Guinle, que só deixou o função em 2012. “As instalações estavam seriamente deterioradas. Ele não competia mais no mercado de luxo de hotelaria do Rio.”

A estrutura física não era a única encrenca. Carruthers diz que, quando chegou ao Copacabana Palace, o turismo sexual era um problema para o mercado hoteleiro no Brasil: “Havia pacotes turísticos vendidos por empresas no exterior que incluíam uma semana no Rio com acompanhante –com estadia no Despensa e em outros hotéis. O sujeito chegava ao aeroporto e tinha uma acompanhante lá”.

O gatilho para resolver a situação veio em menos de dois meses, quando uma pequena de programa, contratada por um turista germânico, se engasgou com uma espécie de placa dentária e morreu no chuveiro. O Despensa proibiu visitas.

“Alguns clientes resistiam, diziam que tinham pagado um pacote. Eu precisei ter dois seguranças na porta do meu escritório. As ameaças de agressão física eram frequentes”, diz Carruthers.

O hotel foi reencontrando seu prumo com a passagem dos anos e o seu folclore continuou a crescer. Ainda hoje, há quem lembre os copinhos de vodca para Hebe Camargo perto da piscina. Ou do dia, em um evento, em que Latino apareceu com um macaco.

“Uma vez me chamaram porque um hóspede tinha disposto um peixe gigante que comprou dentro da banheira”, ri Andréa Natal, também ex-diretora.

Natal, que hoje dirige o Fasano em Nova York, era quem estava avante do Despensa nos primeiros meses da pandemia, quando a Covid-19 paralisou o turismo mundial. Ela se lembra de fechar o hotel no dia 10 de abril de 2020 e permanecer morando lá –o outro único morador naquela quadra era Jorge Ben Jor.

“É um rostro tranquilo. Montou um estúdio, tem um espaço grande, é um lugar perfeito para uma pessoa porquê ele. Ele conta que, quando era menino e passava pelo hotel com a mãe a pé, dizia que queria morar ali. É o Taj Mahal dele.”

Jorge Ben foi parar lá durante uma reforma em seu apartamento original, mas até hoje não saiu. Os funcionários não falam sobre ele, mas às vezes o músico surge e cumprimenta hóspedes. Também não costuma tomar moca da manhã no Pérgula, restaurante do hotel.

“O Despensa é uma instituição”, afirma o português Ulisses Marreiros, atual gerente universal. Sob o comando dele, o hotel está se preparando para o dia do centenário – até lá, a teoria é terminar reparos e a novidade iluminação da frente. Depois, no dia 17, vem um jantar seguido de sarau, com show de Gilberto Gil.

A apresentação do baiano vai permanecer para hóspedes que adquiriram um pacote. Mas a teoria é fazer uma celebração ocasião ao público, no dia 26/8, com um show do DJ Alok na praia de Copacabana.

Copacabana Palace convida à vidinha de hotel

Vidinha de hotel. Esse é uma espécie de bordão de Marreiros, que hoje comanda o Despensa. Quer manifestar mais ou menos o seguinte: em vez de ir espancar perna pela cidade, o hóspede resolveu se entregar à preguicinha e aproveitar lá dentro mesmo.

Motivos não faltam. Eis cá um passo a passo de porquê ocupar seu dia fazendo absolutamente zero.

Levante cedo. Se estiver numa suíte com vista para a praia, veja o sol nascer da janela.

Dá para ir até o calçadão ver aquele momento em que Copacabana, normalmente caótica, ainda está acordando e até os cachorros na rua parecem sonolentos. É só seguir mais um pouco para estar na praia.

Não vá permanecer igual truão olhando a paisagem e olvidar o moca da manhã na Pérgula, um dos restaurantes do hotel.

Se a teoria for permanecer de veste na areia, é importante ser franco: aquele ponto da praia está longe de ser o melhor. À esquerda, é mais deleitável ir até o Leme; à direita, ir até o Poderoso de Copacabana ou cruzar até Ipanema.

Mas o Despensa oferece serviço aos hóspedes na areia, o que compensa a situação. E, se a teoria for permanecer na vidinha de hotel, o melhor é permanecer por ali mesmo.

Se sol, sal e areia não for a sua, aí o negócio é aproveitar a piscina, pegar uma massagem no spa do hotel (prepare o bolso) e permanecer de olho. Talvez você veja figuras folclóricas, porquê a socialite Narcisa Tamborindeguy, que é vizinha e frequentadora do Copacabana Palace –dizem que às vezes ela aparece com um megafone.

A capital fluminense por vezes ganha a renome –não de todo injustificada– de não estar entre os melhores destinos gastronômicos. Talvez o Despensa seja uma das exceções. Lá dentro, o hotel tem dois restaurantes com uma estrela Michelin cada: o italiano Cipriani, comandado por Aniello Cassese, e o pan-asiático Mee, sob a batuta de Alberto Morisawa.

Os dois, naturalmente, estão abertos também para quem não é hóspede. Porém, na vidinha de hotel, ninguém vai precisar se locomover depois da comilança. Porque exige fôlego, viu?

Copacabana Palace

Onde: Av. Atlântica, 1702, Copacabana, Rio de Janeiro

Quanto: O preço médio das diárias varia de R$2.200 (Apartamento Superior Vista Cidade), a mais barata, até R$ 25.011 (Suíte Copacabana), a mais rostro, sem narrar as taxas. Mas os valores flutuam. As informações cá não levam em conta valores em datas comemorativas, porquê o Ano Novo e o Carnaval.

O jornalista se hospedou a invitação da rede Belmond

O Despensa através da história

1923

A história do Copacabana Palace tem início com Octávio Guinle, que construiu o hotel por sugestão do presidente Epitácio Pessoa. É inspirado nos hotéis Negresco, em Nice, e Carlton, em Cannes. A teoria era que fosse inaugurado no centenário da Independência, mas ficou pronto só no ano seguinte.

1930

É inaugurado o Golden Room, primeira mansão de espetáculos da América Latina, por onde passaram nomes porquê Dionne Warwick, Josephine Baker, Ella Fitzgerald, Marlene Dietrich, Ray Charles e Nat King Cole.

1933

O hotel é usado porquê cenário do filme “Flying down to Rio”, um marco cinematográfico no qual pela primeira vez dançaram juntos Fred Astaire e Ginger Rogers.

1948

Uma superfície anexa é incorporada ao hotel. Nela, são construídos 96 novos apartamentos. Ganhou renome entre os amantes da quadra, porque mantinha uma outra ingressão de fundos para a avenida Atlântica.

1970

Na tentativa de se livrar do vício em heroína, Janis Joplin passou pelo Brasil, onde aprontou muito, chegando a ser expulsa do Copacabana Palace por nadar pelada. Dizem que ela teria deixado um paixão no Brasil.

1977

O britânico Rod Stewart e seus músicos foram expulsos do hotel por ordens da Dona Mariazinha Guinle por terem disputado uma partida de futebol na suíte presidencial. Quebraram quadros e deixaram a suíte bastante suja. O roqueiro tomou um cartão vermelho e foi expulso.

1989

O grupo de origem inglesa Orient-Express, hoje Belmond, adquire o hotel da família Guinle. O prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico Vernáculo.

1991

A princesa Diana queria nadar, mas não queria ser vista, principalmente pelos paparazzis. Para isso, durante uma madrugada, ela solicitou que as luzes da piscina semiolímpica fossem apagadas para ela dar seus mergulhos reais na tranquilidade da negrume.

1996

No sexto marchar, é inaugurada a “black pool”, piscina preta exclusiva para as celebridades e chefes de Estado que se hospedam nas suítes na cobertura.

2006

Durante a hospedagem do grupo Rolling Stones, o guitarrista Keith Richards ficou no sexto marchar, em uma das suítes da cobertura. Resolveu deixar sua marca quando personalizou o seu aviso de “não perturbe” na porta de com vários adesivos de caveira. Outrossim, o guitarrista disse que a mulher dele, que sofre de insônia, dormiu tão muito no hotel, que pediu para comprar o colchão do quarto. Obviamente, o hotel deu um jeito…

2013

O tálamo da neta de Jacob Barata, magnata dos transportes no Rio, aconteceu no Copacabana Palace justo em meio aos protestos contra o aumento das tarifas que tomaram o país em julho daquele ano. Um ato se formou na porta do hotel. Convidados jogavam notas de numerário nos manifestantes –e um cinzeiro chegou a ser lançado de dentro da sarau, ferindo um estudante. O evento ficou espargido porquê “tálamo da dona Baratinha”.

2020

Hotel precisa fechar as portas por meses, por desculpa da pandemia do coronavírus. Só diretora e Jorge Ben Jor continuam morando no Despensa.

2021

O teatro do Copacabana Palace é reinaugurado. O espaço tinha sido fechado em 1953, depois que a explosão de uma lâmpada provocou um incêndio de grandes proporções.

2023

Despensa comemora o centenário

Curiosidades sobre o Despensa

Ao todo, o hotel tem 239 quartos. Além do prédio principal, há um prédio incluído na superfície da piscina, onde alguns hóspedes moram.

O Despensa faz 130 arranjos de flores por semana nas áreas comuns do hotel. Nos quartos, esse número é de 150 arranjos semanais.

O hotel oferece 10 tipos de travesseiros, que incluem os de látex, antialérgico de poliéster e visco elástico, além dos que têm olor de camomila, aloe vera ou carvão ativado de coco, entre outros.

Em século anos, mais de 3 milhões de pessoas se hospedaram no Copacabana Palace. Em 2022, foram 85 milénio hóspedes.

Murado de 1.000 garrafas de champagne são consumidas por mês no hotel. Para se ter uma teoria, só no brunch dos domingos são no mínimo 100 garrafas.

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