Em viagens, uma vez que na vida, algumas das melhores coisas acontecem de surpresa. Um pequeno meandro de rota pode valer uma grande invenção, daquelas que ficarão conosco para sempre. A invenção de Morretes, pequena cidade histórica do Paraná, a 70 km de Curitiba e 410 km de São Paulo, certamente é uma delas.
O leitor irá me perdoar pelo uso da primeira pessoa. O relato em forma de crônica se justificará, espero, ao longo dos próximos parágrafos. Acredito ser a melhor maneira de registrar a dupla invenção: de Morretes e de alguma coisa pessoal na cidade.
Numa das muitas viagens feitas de sege entre Porto Alegre e São Paulo, ida e volta, pensei em percorrer o trajeto da Estrada da Graciosa até Paranaguá, pois sempre fui atraído pelas placas que o indicavam no trajectória da rodovia Régis Bittencourt, entre Curitiba e a lema do Paraná com São Paulo.
Um camarada me deu a dica: Paranaguá é lícito, mas é também uma cidade maior, menos turística. Mais bacanas para saber são as cidades históricas de Morretes e Antonina, que ficam no caminho. Aliás, a Estrada da Graciosa termina em Antonina, antes de Paranaguá.
As três cidades ficam dentro da Grande Suplente da Mata Atlântica, na Serra do Mar, que ocupa boa secção dos estados de Paraná e São Paulo, além de trechos de Santa Catarina.
Pesquisando sobre elas, minha esposa, que me acompanhou em algumas das viagens, descobriu que Morretes é preparada para receber turistas, e nela há uma hospedaria antiga chamada Hotel Nhundiaquara, na cercadura do rio de mesmo nome, que funciona desde 1945 e que antes disso havia sido cassino, escola, fábrica de meias e até um meio espírita.
No site do hotel, existe uma “História da Família Telheiro”. Porquê assim? Desconhecia a existência de parentes em Morretes, ainda mais com esse pendor histórico, embora cônscio de que na capital paranaense há um ramo distante da família. A curiosidade aumentou.
Os sites de reservas davam uma vez que esgotadas as vagas nesse hotel histórico. Lá, mas, descobrimos que alguns quartos mais antigos estavam vagos. Ficamos num quarto de pé recta cimo, com vista para o belo rio Nhumdiaquara.
Que o leitor não entenda o relato uma vez que uma propaganda do hotel. Existem outros na cidade, presumivelmente tão bons quanto nascente. Fomos atraídos a ele primeiramente pela história, depois pela história da família. Foi, portanto, uma opção muito pessoal. Daí o uso da primeira pessoa.
Montando base em Morretes, cidade fundada em 1733, atualmente com murado de 17 milénio habitantes, dá para ir a Antonina e a Paranaguá com facilidade e rapidez. Morretes, portanto, é também um ponto estratégico para saber a região.
Antes, porém, foi necessário encarar a Estrada da Graciosa, com suas curvas desafiadoras, a vasa causada pelas obras em sua extensão, os belos paralelepípedos, as vistas da Serra do Mar.
Já é uma experiência por si só inolvidável. Mas tivemos sorte de passar por ela antes de a chuva chegar. Não me parece um caminho viável posteriormente algumas gotas de chuva, a vasa das obras se misturando à que escorre das encostas.
Não é o único caminho provável. Existem outras estradas para quem estiver de sege, e um encantador passeio de trem, que sai de Curitiba em direção a Morretes, numa viagem que dura mais de quatro horas.
Em conversa com o atual proprietário do Hotel Nhundiaquara, primo de qualquer proporção distante, ele me mostrou uma árvore genealógica que encomendou de um historiador. Nessa árvore, espalhada por um longo rolo panorâmico, o ramo que eu conhecia da família estava solitário, no esquina subordinado esquerdo.
Completei algumas lacunas desse ramo com um lápis e descobri que a raiz do sobrenome, provavelmente, vem da matriarca, Maria da Glória, que gostava de se sentar ao telheiro de sua mansão na Guarda, em Portugal. Foi uma vez que um passeio até o início do século 19 e às origens do sobrenome Telheiro.
Apesar da chuva que caía fraca e incessantemente pela cidade, conseguimos saber muito Morretes, seu ar romântico, a venustidade dos casarões à cercadura do rio, a Ponte Velha, a estação ferroviária, o charme das mesas embaixo das árvores, em suma, cartões postais de uma belíssima cidade, que se estivesse na Europa receberia milhares de turistas por dia.
As opções de almoço são vastas. Quase todos os casarões do meio, à cercadura do rio, incluindo o do hotel, viraram restaurantes, onde se come o prato típico da região, o barreado. Basicamente, é um punhado de músculos bovina cozida por oito horas ou mais e misturada à goma de farinha de mandioca.
A apresentação do prato é uma performance, em que o garçom faz a mistura e praticamente vira o prato em cima de nossas cabeças, provocando qualquer susto, minorado pela segurança com que executa os movimentos.
Zero acontece. A comida adere ao prato com impressionante firmeza. Penso que a maçaroca vai grudar no estômago também, mas posteriormente um tempo tudo se harmoniza e podemos saborear um ótimo prato enquanto observamos as gotas da chuva ondulando o revérbero no rio.
Podemos misturar a músculos com arroz também. Fica uma delícia. E saborear os frutos do mar que são servidos no conjunto. É uma ótima experiência.
Em seguida o almoço, várias opções se oferecem. Uma delas é dar uma volta na cercadura do rio, atravessando pelas duas pontes, a velha e a novidade, que limitam o meio da cidade. A venustidade da cidade se revela portanto de vários ângulos, sejam quais forem as condições meteorológicas.
Outra é se aventurar pelos diversos parques e trilhas na região, incluindo as do Parque Estadual Pico do Marumbi e as do Parque Estadual do Pau Vazio, de onde se tem belas vistas da região, incluindo algumas cachoeiras belíssimas.
Passar de três a cinco dias em Morretes, com ou sem visitas a Antonina ou Paranaguá, é uma supimpa opção de férias, seja para repousar ou contemplar belezas naturais e históricas, seja para se aventurar pela natureza ou ter um indiferente na espinha com a apresentação do barreado.