Início Saúde Ciência psicodélica vai bem, empresas vão mal – 30/03/2023 – Virada Psicodélica

Ciência psicodélica vai bem, empresas vão mal – 30/03/2023 – Virada Psicodélica

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Há quem diga que estourou a bolha de excitação com avanços da ciência psicodélica, em seu ressurgimento para a medicina há menos de duas décadas. Antes da Guerra às Drogas, muro de 40 milénio pessoas chegaram a ser tratadas com compostos alteradores da consciência, mas entre 1970 e 2000 os estudos clínicos refluíram sob o tacão proibicionista, para retornar com força a partir de 2010.

Empresas e governos estaduais dos EUA enfrentam dificuldades neste ano, é verdade, para reabilitar substâncias uma vez que psilocibina, DMT, MDMA e LSD na requisito de medicamentos. Mas a pesquisa segue seu curso metódico para torná-los alternativas terapêuticas contra transtornos uma vez que depressão e estresse pós-traumático.

Se for para privilegiar más notícias, basta voltar o olhar para startups e investidores do setor psicodélico, que até 2021 estavam em ebulição. De lá para cá, vários baldes de chuva fria: a atai Life Sciences, uma gigante do ramo, cortou 30% de pessoal e viu suas ações recuarem de US$ 5,60 para US$ 1,20; na Cybin, incisão de 15% e recuo de US$ 1,14 a US$ 0,41; na MindMed, de US$ 19,95 a US$ 2,85.

O Psychedelic Invest Índice caiu 15,13% nos últimos 12 meses. Estima-se que sobreviverão no mercado somente 8 de cada 10 startups.

Foi à bancarrota a Synthesis, da Holanda que planejava abrir uma clínica de psilocibina em Oregon, estado americano onde cogumelos Psilocybe cubensis se tornaram legais neste ano. Ficaram na mão duas centenas de alunos matriculados em seu curso para formar facilitadores de psilocibina.

Na segunda quinzena de março, fecharam as portas unidades em 13 estados americanos de duas grandes redes de tratamento com cetamina, Ketamine Wellness Centers e Field Trip. O analgésico não é um psicodélico clássico, mas o efeito dissociativo do uso fora de bula (off-label) tem mostrado bons resultados contra depressão.

A Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (Maps, em inglês) teve de dar um cavalo de pau e está oferecendo a venda indireta de ações de seu braço mercantil Maps PBC. Em 37 anos de existência, a ONG levantou com filantropos US$ 140 milhões (mais de R$ 700 milhões) para financiar estudos clínicos que puseram a droga MDMA às portas de aprovação pela FDA para tratar estresse pós-traumático.

Agora, no entanto, o fundador Rick Doblin pena para conseguir recursos necessários à implementação do tratamento no mercado, mal a licença da FDA transpor, possivelmente em 2024. Precisou recorrer à estratégia de pedir empréstimo que, se não forem ressarcidos, darão a investidores o recta de receber ações da Maps PBC em troca.

As más novas na esfera corporativa são muitas, mas podem não simbolizar mais que adaptação previsível num mercado efervescente em promessas exageradas de lucros. Em paralelo, nos campos lícito e científico, as coisas não vão zero mal.

Além de Washington DC, Oregon e Colorado, que descriminalizaram os cogumelos psicodélicos P. cubensis, outros 15 estados americanos preparam ou cogitam legislações no sentido liberalizante, uma vez que Califórnia, Flórida e Novidade York. Várias cidades já deram passos na mesma direção, assim uma vez que os governos da Austrália e do Canadá. O Congresso americano pode facilitar a reclassificação de psicodélicos.

Verdade que estão demorando as licenças para penetrar centros de atendimento com psilocibina em Oregon, onde o governo estadual começou a receber pedidos em janeiro. O processo é burocrático e custoso, o que deve restringir muito o chegada às sessões de preparação, dosagem e integração, pacote que poderá custar alguns milhares de dólares. Mas surgiu notícia animadora: a secretaria de saúde (OHA) concedeu à Satori Farms a primeira licença para cultivar os fungos psicodélicos.

A lista de universidades que mantêm centros ou grupos importantes de pesquisa com psicodélicos, compilada pelo site Blossom, é impressionante: Johns Hopkins, Imperial College Londres, Arizona, Califórnia em San Diego, Berkeley, Davis e São Francisco, NYU, Harvard, Stanford, Yale, Texas em Austin, Nebraska, Saúde e Ciência de Oregon. Washington State. Minnesota, Columbia, Duke, Emory, Michigan, Wisconsin em Madison, Toronto, USP, UFRN, Buenos Aires, Basileia, Maastricht, Leiden, Utrecht, Zurique, Manchester, Charité Berlim, Copenhague, University College Londres, King’s College Londres, Aarhus, Monash, Sydney…

Ufa. Quem estranhar a presença de instituições brasileiras na lista saiba que há mais, como se pode conferir aqui. A informação mais recente é que a Unifesp recebeu da empresa Bienstar uma primeira parcela de financiamento para iniciar estudos clínicos com ayahuasca e cogumelos para alcoolismo e tabagismo, respectivamente.

Novos artigos sobre saem toda hora, inclusive brasileiros. O grupo da UFRN, por exemplo, publicou no último dia 15, com colaboradores de Alemanha, Espanha, Irlanda e Itália, uma estudo sobre como se intensifica a conversa entre áreas e redes do cérebro após a ingestão de ayahuasca. Desse estudo provém a linda e grandiloquente imagem que abre levante post.

O principal formado psicodélico do chá usado ritualmente nas igrejas Santo Daime, União do Vegetal (UDV) e Barquinha é a dimetiltriptamina (DMT). O alcaloide esteve na origem, também, mas puro e injetado em 20 voluntários, do estudo mais comentado das últimas semanas, realizado pelo Imperial College de Londres.

O chileno Christopher Timmermann é o primeiro responsável do item publicado dia 20 no periódico da Liceu Vernáculo de Ciências dos EUA, PNAS, sob o título “Efeitos da DMT no Cérebro Humano Avaliados via EEG-fMRI”. Na equipe estão também as celebridades David Nutt e Robin Carhart-Harris, que levaram o Imperial College à vanguarda da pesquisa psicodélica.

Eles combinaram sinais elétricos cerebrais captados por eletroencefalografia (EEG) com imagens de ativação neuronal obtidas com sonância magnética funcional (fMRI). Com isso, detectaram que a profunda mudança da consciência sob DMT abrange o aumento da conectividade funcional global do cérebro escoltado de desintegração de redes neurais, reforçando o padrão do cérebro entrópico de Carhart-Harris para descrever o efeito psicodélico.

A ciência psicodélica vai muito, obrigado, embora as tentativas de monetizá-la por meio de startups, patentes, IPOs e corporações estejam tropeçando. Talvez seja melhor caminhar lentamente, mesmo, com passos firmes apoiados em dados clínicos e tecnologias de uso consagradas há séculos por povos indígenas, em lugar de comprar pelo valor de face o interesse numulário no ressurgimento psicodélico.

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AVISO AOS NAVEGANTES – Psicodélicos ainda são terapias experimentais e, certamente, não constituem panaceia para todos os transtornos psíquicos, nem devem ser objeto de automedicação. Fale com seu terapeuta ou médico antes de se aventurar na dimensão.

Para saber mais sobre a história e novos desenvolvimentos da ciência nessa dimensão, inclusive no Brasil, procure meu livro “Psiconautas – Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira”.

Sobre a tendência de legalização do uso terapêutico e adulto de psicodélicos nos EUA, veja a reportagem “Cogumelos Livres” na edição de dezembro de 2022 na revista Piauí.

Não deixe de ver também na Folha as reportagens da série “A Ressurreição da Jurema”:

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/07/reporter-conta-experiencia-de-inalar-dmt-psicodelico-em-teste-contra-depressao.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/07/da-caatinga-ao-laboratorio-cientistas-investigam-efeito-antidepressivo-de-psicodelico.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/07/cultos-com-alucinogeno-da-jurema-florescem-no-nordeste.shtml

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