Difícil encontrar um lugar no Brasil com as características de Búzios. É uma cidade pequena (muro de 70 km2), com todo o charme que as cidades pequenas têm —mas sem o provincianismo de alguns destinos praianos, que nos fazem permanecer entediados no terceiro dia de viagem ou fechados em resorts tentando aproveitar tudo o que eles oferecem, para valer o investimento.
Há muito o que se fazer e saber nesta cosmopolita e animada península, a 180 quilômetros do Rio e oito horas de carruagem de São Paulo. Praia e gastronomia, duas das boas coisas da vida, se entrelaçam no balneário, uma complementando a outra, de forma deliciosa.
Ir a Búzios é permanecer de chinelos o dia todo, tomar bons drinques à litoral e consumir muito, muito muito, a qualquer hora do dia nas muitas opções que a cidade oferece.
A Orla Bardot, comece por ela, é uma via à litoral com pouco mais de 600 metros de extensão ao longo da praia da Armação, no Núcleo. Ela se inicia no cais, o “ponto final” dos aquatáxis, pequenos barcos de filamento de vidro nos quais, por muro de R$ 20, é verosímil ir de uma praia a outra sentindo o ventinho no rosto. Eita coisa boa.
Curiosidade: ali na rua do cais funcionou, até agosto, o único cinema da cidade. O Gran Cine Bardot talvez tenha sido, em seus quase 30 anos de funcionamento, a única sala de projeção do mundo onde era proibido consumir pipoca. “Suja muito o soalho”, alegava seu possuinte. O cineminha deixou saudades.
Você já deve estar torto de saber, mas não custa lembrar o porquê de tantas menções a Brigitte Bardot, homenageada com cinema, orla e estátua na cidade: ela apresentou a vila de pescadores ao mundo em 1964, e virou uma espécie de “madrinha” de Búzios.
Uma porção de lulas fritas com caipirinha no simpático O Paquete, perto da estátua dos três pescadores, é um bom pitstop para continuar o passeio pela Orla até a praia dos Ossos. É um bom ponto para um mergulho, com mar calminho e uma estranha e recente vaga de turismo mórbido à lar onde Angela Diniz foi morta Por Doca Street, em 1976. Virou ‘point instagramável’. O ser humano é mesmo muito doido.
As praias Azeda e Azedinha ficam coladinhas à Praia dos Ossos, basta subir uma pequena ladeira para, lá de cima, dar de faceta com uma vista embasbacante. Com águas claríssimas, elas têm chegada por uma longa escada de madeira (“Stairway to Heaven”, vou cantarolando enquanto desço).
É neste trajeto, entre a Orla Bardot e os Ossos, que um dos personagens mais queridos e folclóricos de Búzios pode te abordar (torça para isso): Sassá, um senhorzinho que circula de bicicleta e vende ostras por dúzia. O approach merece um prêmio. “Ostrasss afrodisíacassss….”, costuma manifestar, baixinho, quase ao pé do ouvido, geralmente a casais que estão sentados na areia. Gênio.
A hora de consumir pode ser aprazível até para quem tem crianças pequenas e levadas. Tocado há décadas por uma família de pescadores, o A Peixaria, também na Orla Bardot, serve o melhor peixe na brasa da região (a gim-tônica também é ótima), e tem, logo à sua frente, um playground originário: a praia da Armação. Sem ondas, as crianças vão se divertir catando conchas, brincando com a areia ou um tanto do gênero. Crianças sendo crianças e você ali, no muito bom.
Búzios, para que você tenha uma teoria, é uma cidade com basicamente uma rua principal (Avenida José Bento Ribeiro Dantas), de mão dupla. Ela corta a península, que de um lado tem lugares porquê a sem perdão praia da Foca e a gostosa praia da Ferradura, com suas mansões, águas calmas e algumas insuportáveis banana boats, aquela banana gigante inflável que dá um cavalo de pau para que as pessoas caiam na chuva, num “susto” previamente agendado. Nem tudo é perfeito.
Para quem quer fugir da muvuca ao longo da Ferradura, uma opção é o day use do Tawa Beach, no quina esquerdo. Duchas, espreguiçadeiras, sessões de massagem e um ótimo serviço de bar, com belisquetes variados, são uma opção para quem quer uma sensação de exclusividade.
Um único senão: eles não oferecem toalha —vamos combinar que não custava zero dar mais esse chameguinho a quem paga entre R$ 150 e R$ 200 para estar lá. O valor é convertido em consumação.
E Geribá? Muito, Geribá é boa para surfe, com excelentes escolinhas do esporte e filete de areia muito larga. É a praia mais movimentada, mais conhecida, e tem seu público cativo. A verdade é que não há praia feia ou ruim em Búzios. Um fenômeno.
A alguns quilômetros dali, chega-se à Praia Brava, numa superfície um pouco mais árida, onde instalou-se o charmoso Rocka, restaurante com decoração rústico-chique, ombrelones e almofadões confortavelmente espalhados pelo caminho que dá chegada à filete de areia.
O cardápio do Rocka é beeeem mais chique do que rústico. Onde mais você já viu bar de orla de praia servir caviar Beluga e Ossetra? Eles têm no cardápio. Sai a partir de R$ 710 a latinha com 15 gramas, mas não se avexe, não. Dá para tomar umas boas taças de vinho (R$ 42) e escolher opções menos ostentação.
Praias menos interessantes ficam ali perto, porquê a do Forno, e a naturista Olho de Boi. Para frequentar esta última, a nudez é obrigatória, porquê em todas as praias de naturismo do mundo. Não fui. Não sou capaz de opinar.
Bom lugar para se hospedar é no Núcleo ou perto dele. Boas opções são a Armação, Praia do Esquina ou no Morro do Humaitá, onde está instalado um dos melhores hotéis da região, o Villa D’Oriente (diárias a partir de R$ 1.487, parelha, com moca da manhã). Destaque para a piscina aquecida de borda infinita escandalosamente formosa.
No Villa D’Oriente fica um dos melhores restaurantes da cidade, o Altto. É uma boa indicação para fazer um bonito com o “conje”. Luz baixa, musiquinha tranquila, serviço impecável e o melhor orecchiette com polvo, delicada tamanho de sêmola, (R$ 120) da vida. A noite vai ser boa…
Outro romanticão que vale a visitante é o tailandês Ban Thai. Ele fica dentro do A Concept Hotel & SPA, na praia de Manguinhos, e é comandado pelo chef Marcos Sodré, que por anos manteve na Orla Bardot o Sawasdee, outro thai de saudação —e de onde foi importada a ingressão de maior sucesso: a berinjela missô, frita em crosta de tapioca com gergelim. Um must.
Na mesma reta da Orla Bardot, mas seguindo em direção à Praia do Esquina, eis o mais publicado dos points buzianos: a Rua das Pedras. É um lugar manjadíssimo e, segundo a lado juvenil da família, “o maior zero a zero” em termos de paquera. Pode ser. Mas é impossível não flanar descompromissadamente por ali em qualquer momento. Assim porquê não tem porquê não dar um pulinho no Chez Michou, creperia jurássica, com o mesmo cardápio há 25 anos e uma vibe difícil de descrever, de tão bacana. Vá, somente vá.
No Porto da Barra, em Manquinhos, o grande tchan é a vista para o melhor pôr do sol da cidade e opções variadas de comidinhas —porquê os pasteis de camarão com cerveja de garrafa do Bar dos Pescadores, na orla do Cais (um clássico), e o Belli Belli, há dez anos no mesmo lugar, o mais idoso restaurante dali. Pratos muito servidos porquê o dourado em crosta de castanha de caju e risoto de jerimu saem por volta de R$ 60. O bom dispêndio mercê mantém a lar sempre enxurro.
Vale a pena conferir o Nami, no quina recta, um gastrobar latino asiático com decoração moderninha e pratos porquê tacos de tartar de atum com wasabi (inesqueciveís), e uma interessante cavaquinha roll, versão buziana para o lobster roll.
Os dois segredos mais muito guardados de Búzios ficam fora dos principais roteiros gastronômicos da cidade. Com a cozinha sob os cuidados do chef germânico Jan Rabe (com passagem por dois restaurantes com estrela no Guia Michelin), e o salão comandado por sua mulher, a simpática francesa Valérie, a Rabe Boulangerie começou, há dez anos, porquê o nome indica, porquê uma panificação.
Fornecia suas baguetes perfeitas a mais de 40 hotéis e pousadas da cidade. Aos poucos, foram investindo em comidinha de bistrô e hoje em dia oferece pratos delicados a preços justíssimos. Tome-se o menu du jour porquê exemplo. Por muro de R$ 50, a opção dias detrás era atum marinado ao dill sobre carpaccio de rabanete com vinagrete de grãos de mostarda; lombo de dourado e camarão sobre batata gulodice e molho de vinho branco; banoffe de sobremesa. É bom ou não é?
No núcleo da cidade, numa rua paralela à rua das pedras, uma casinha florida esconde o melhor e mais aprazível restaurante prateado de Búzios. O Moca Porteño é um oásis em meio a casas com funcionários na porta mostrando seus cardápios (o horror). Sob o comando de Ricardo Nisivoccia e Karina, pai e filha, come-se ali as melhores empanadas que um ser humano pode oferecer, além de saladas, risotos e pratos à base de mesocarpo caprichados. O crepe de gulodice de leite fecha com chave de ouro.