Quando eu era pivete, meus pais me levavam a uma pizzaria de bairro que ostentava a seguinte placa na parece: “A melhor pizza da região”.
De alguma forma, eu já entendia a síndrome de impostor que levava os donos do restaurante a serem tão modestos na pretensão. Eu adorava aquela honestidade meio acabrunhada, só faltava um “talvez” no letreiro.
A maioria das pessoas não tem o menor pudor de se declarar melhor do mundo nisso ou naquilo, rei da cocada preta, top dos topzeras.
Essa presunção faz parte das estratégias de venda desde que o mundo é mundo. Não morreu e não morrerá por uma simples razão: é um pavoneio que não tem porquê ser verificado.
Agora, fico sabendo que há anos o Burger King move uma ação judicial contra o Madero, a termo de obrigar a rede concorrente a provar que faz o melhor hambúrguer do mundo. Esse é o slogan do Madero, totalmente disparatado para quem faz o pior hambúrguer do mundo.
Mas e aí? Uma vez que provar uma coisa dessas?
Segundo reportagem do jornal O Mundo, o Burguer King “queria que fosse realizada uma prova pericial”. Perdão? Iam invocar uns blogueiros de hambúrguer para uma degustação técnica?
Ainda segundo o texto, o BK alega que o Madero não comprovou “liderança de mercado em contexto mundial”. Ah, formosura, por esse critério só eles e o sanduba do palhaço Ronaldo McDonaldo estão no páreo.
Desde quando liderança de mercado é qualidade? Não tá escrito que tem de jumento disposto a dar numerário por comida ruim.
As pessoas adoram rankings. A prensa também, porque dá leitura. O problema com eles é que todos são furados, não valem zero. Não existe melhor hambúrguer do mundo nem melhor restaurante. Tripadvisor, Taste Atlas, 50 Best Restaurants, zero disso vale uma pamonha. Cada um diz o que quer.
Depois de idas e vindas, baixou a sensatez no tribunal: o STJ negou na terça-feira (21) o pedido do Burger King.
E cá bateu uma pitada de consolação. Eu também não tenho prova objetiva, impressa e auditável de que o Madero faz o pior hambúrguer do mundo, como já andei escrevendo.
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