Fui convidado, porquê jornalista, a ir a Brasília para o lançamento solene —na verdade uma retomada— da Marca Brasil com S, que tem o intuito de sintetizar os novos esforços para o turismo do país.
Lamentei não poder ir ao evento organizado pela Embratur (Dependência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) e ApexBrasil (Dependência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), pois a volta da marca chamou minha atenção por vários motivos.
Desde que foi lançada, em 2005, acompanhei com interesse sua escolha. Na idade não escrevia regularmente sobre turismo, porquê hoje, mas já me aventurava neste campo em minhas viagens de gastronomia.
Demais, minha formação é de arquiteto, portanto sensível a questões artísticas e estéticas que também envolvem o mundo das logomarcas, mesmo as comerciais. Para completar, ela foi criada pelo designer Kiko Farkas, de quem trabalho sempre acompanhei e com cuja família, a inaugurar pelo patriarca Thomaz (fotógrafo e cineasta), sempre tive uma relação carinhosa.
São já vários motivos (além do interesse político pelos rumos do Brasil de logo) para ter escoltado a ousada movimentação que naquele momento a Embratur realizava, simbolizada numa marca gráfica.
Mas hoje é mais do que isto. Creio que a retomada da marca anterior representa mais um passo –e não só simbólico— para deixar para trás os anos de um governo criminoso que aterrorizou o Brasil.
Será que uma simples logomarca pode simbolizar tanta coisa?
Creio que sim, da mesma forma que a anterior, implantada em 2019, conseguia –num simples traçado com um slogan— simbolizar um momento de trevas, ignorância e truculência (pesquise e veja as duas, você me entenderá à primeira vista).
A marca que agora se retoma (com novas atualizações) foi criada em 2005, fruto de um longo trabalho. Começou com toda uma conceituação e planejamento do que deveria ser o turismo brasílio, num projeto que implicou também na geração da marca visual, saída de um concurso do qual participaram grandes designers do país.
Para entender a diferença acachapante entre as duas marcas, basta olhá-las. Mas eu poderia reunir que a antiga, que se retoma, é a rosto de um Brasil vivo, inebriante, feliz, expresso em curvas que realçam sua natureza, e ao mesmo tempo moderno e sofisticado, porquê pelo menos pretendemos ser.
Já a marca de 2019 foi feita a toque de caixa por funcionários do governo (certamente tão desqualificados quanto os governantes). O resultado foi uma logomarca visualmente tosca (que qualquer juvenil de bom palato, com um programinha de traçado, faria melhor); vira-latas, com sua ortografia lambe-botas (Brasil escrito com z); e, ainda por cima, com um lema (“Brazil, visit and love us”) que, além de escrito num inglês infantilizado, de tradutor automático, sugere o país porquê sorte de exploração sexual (harmónico com o que disse Bolsonaro, “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade“).
Se uma logomarca pode expressar projetos e intenções, não quer expor que seja a garantia de sua realização. A promoção turística do país evidentemente andou para trás durante a barbárie bolsonarista (quando o governo se orgulhava de ter tornado o Brasil um pária mundial). Mas mesmo antes, caminhava tropegamente, ainda mais se comparada com vários países do mundo (vide Espanha), inclusive latino-americanos (vide Peru), que conseguiram identificar e cevar alvos certeiros. Quem sabe agora é a vez do Brasil.
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