Nunca irregularidade: você viaja, os espiões cibernéticos viajam com você. Em vez do proclamação tosco do milagre contra a calvície em Osasco, aparece um pouco sobre um levanta-defunto sexual em Londres.
Pode não ser tão ruim. O algoritmo do ex-Twitter me apresentou um artigo interessante do Telegraph, jornal britânico de direita, que eu não sigo.
O texto versa sobre uma vez que o abacate se tornou uma trincheira nas chamadas guerras culturais. Mesmo que não saiba plenamente, você luta em alguma delas há pelo menos dez anos.
São os atritos geracionais: a troca de sopapos entre os jovens, os ex-jovens que não se reconhecem uma vez que tais e os quase velhos encharcados de nostalgia.
É a treta entre a piada homofóbica e a sarau alcohol-free do louvor ao cacau sagrado. A contenda de quem labareda as cotas de mimimi contra quem se engaja nas causas das minorias.
O combate atua em numerosas frentes. A sustento é uma delas.
De um lado, vegetarianos, veganos, entusiastas de dietas saudáveis e defensores de uma produção de víveres sustentável e socialmente justa. Do outro, a galera para quem sódio, gordura e açúcar constroem o caráter de um varão.
O abacate se encaixa uma vez que símbolo de um estilo de vida que prioriza comidas vegetais, naturais, nutritivas e metidas a besta.
A tal da avocado toast –torrada de abacate no pão de levedação proveniente com ovo pochê e outras gourmezices– se tornou uma bandeira identitária. Mas há alguns problemas.
O cultivo de abacate para abastecer toda essa galera modernosa foi parar na mão dos cartéis mexicanos, além de drenar reservas hídricas e promover desmatamento.
A turma da salsicha com miojo apontou, não sem fundamento, a hipocrisia da falange adversária.
A resposta, cá no Reino Uno, veio de forma um tanto cômica. A rede londrina de restaurantes mexicanos El Pastor anunciou que nenhum abacate servido lá passa nas mão do tráfico.
Ainda que seja verdade, tem efeito pífio no estrago da febre global do abacate. Europeus e americanos fingem não ver que o abacate –assim uma vez que qualquer resultado tropical– viaja longos e insustentáveis quilômetros para encontrar seus distintos paladares.
E o Brasil com isso?
O abacate dá na rua, até em cidades grandes uma vez que São Paulo. Não tem privilégio, não tem monocultura devastadora. E tem uma cultura abacateira própria.
Enquanto o resto do mundo come abacate salso, a gente taca açúcar. Guacamole era coisa diferentona até a viradela do século.
Mas aí veio, com o demora regulamentar, a modinha da torrada. Pegaram uma variedade pequena e exótica de abacate, que os gringos conhecem por “hass”. Rebatizaram-na de “avocado”, abacate em inglês.
Pipocam em São Paulo as “comedorias” especializadas em avocado toast e demais macaquices das estranhezas que nascem em West Hollywood e cercanias.
Seria só patético se não ameaçasse uma peculiaridade cultural nossa e, não menos importante, a vitamina de abacate com leite e açúcar. Abacate daquele grandão, com casca rútilo.
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