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Autocuidado para mulher negra é impor limites e ter apoio – 19/11/2024 – Equilíbrio

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Quando se fala em autocuidado, é geral associá-lo a skincare, cuidados com o cabelo e ioga. No entanto, mais do que cremes caros e atividades físicas, o autocuidado representa um momento voltado para si, que surge de dentro —e essa prática é desafiadora para a mulher negra.

Em um momento em que se exaltam sais de banho e cristais, torna-se difícil entender o autocuidado uma vez que uma ação que transcende as tendências de mercado. Esse processo começa pelo autoconhecimento e pela imposição de limites, tanto pessoais quanto na relação com os outros. Essa visão é defendida por especialistas uma vez que a psiquiatra e colunista do The New York Times, Pooja Lakshmin, que atende mulheres afetadas por burnout e perfeccionismo.

No Brasil, a perspectiva vem à tona em encontros da ONG Núcleo de Integração na Serra da Misericórdia, no Rio de Janeiro. Foi quando Ana Santos, de 42 anos, coordenadora do grupo, começou a compreender o tema, durante as reuniões semanais com mulheres, focadas em saúde e autocuidado.

“Eu não me via nesse lugar de desvelo. Estava sempre preparando as estruturas para que os encontros acontecessem”, diz Ana, que também é ativista e rabino em cozinha agroecológica.

Moradora do Multíplice da Penha, ela é dona de morada, cuida de sua família e também de outras 40 crianças atendidas pela ONG. “O tempo da mulher preta é outro. É o tempo da sobrevivência, da correria. Um tempo de gerenciar não só a nossa vida, mas também a vida coletiva, porque dentro da favela a gente vive muito coletivamente”, afirma. “Essa coletividade nos distancia do nosso eu e, às vezes, nos faz parecer egoístas.”

A Roda de Mulheres teve início em 2015, em parceria com a clínica da família sítio, contando com médicos e terapeutas ocupacionais. Desde 2019, as atividades são realizadas em colaboração com o Instituto Nutes de Instrução em Ciência e Saúde (Nutes), da UFRJ (Universidade Federalista do Rio de Janeiro).

No primórdio, eram introduzidas práticas voltadas à alimentação, uma vez que receitas de pão branco integral e chás preparados com ervas. “Uma mulher não sai de morada só para um pouco voltado para ela. Mas, se é comida, ela pensa: ‘Vou aprender uma receita para meu marido’ ou ‘porque minha filha está precisando’”, diz Ana.

De pacto com a professora e pesquisadora da UFRJ Ana Lúcia Nunes de Sousa, as participantes começaram a perceber esses encontros uma vez que espaços para cuidarem de si. Com o tempo, as atividades foram além da culinária, incorporando dança, oficinas de massagem e maquiagem. “Organizar a roda também nos colocou no lugar de desvelo, de sermos cuidadas”, afirma Sousa.

“Se antes algumas vinham para receber desvelo, hoje elas também contribuem para o desvelo coletivo”, acrescenta. Na roda, ela trabalha o noção político de autocuidado, preferindo o termo “desvelo radical.” É um pouco antes já abordado por outras pensadoras uma vez que bell hooks e Audre Lorde, que escreveu em “Uma explosão de luz”, obra de 1988: “Cuidar de mim mesmo não é autoindulgência, é autopreservação, e isso é um ato de guerra política”.

O autocuidado também se manifesta por meio de uma rede de suporte, uma vez que explica a psicóloga Shenia Karlsson. Serem tidas uma vez que sujeitos que servem e cuidam dos outros representa um repto para que mulheres negras priorizem o autocuidado, que, na visão da psicóloga, exige considerar seus próprios desejos e necessidades. “Autocuidado é o investimento em si”, enfatiza.

A influenciadora Lívia Teodoro, 33 anos, conhecida nas redes uma vez que Patroa Mesmo, diz que, ao seu ver, o autocuidado é “poder praticar coisas que historicamente me foram negadas.” Entre os exemplos, ela cita ter tempo para resfolgar e realizar seu trabalho sem exaustão.

Também considera cozinhar a comida que gosta, no seu tempo e com seus recursos, uma vez que uma forma de autocuidado. Controle financeiro, aliás, é um paisagem meão em sua jornada, assim uma vez que priorizar a saúde mental.

Shenia ressalta a prestígio ainda de mulheres negras buscarem ajuda psicológica. Durante suas consultas, percebe que muitas pacientes estão física e emocionalmente exaustas por tentarem “dar conta de tudo.” Ela costuma questioná-las: quais os ganhos de ser uma super-mulher? “Descobrimos que não há vantagem nenhuma. Só prejuízos”, conclui.

Na roda de mulheres, Ana encontrou um espaço para despovoar essa faceta, o que foi fundamental, ela diz. “Era o único momento em que eu podia ser uma mulher mais fraca. Ali, eu não precisava ser possante o tempo todo, podia ser uma mulher sem véu, com minhas fragilidades.”

Já para a comunicadora Bárbara Brito, 30 anos, o autocuidado significa respeitar seus próprios limites. “Ao fazer isso, eu reconheço meu valor, que vai além das expectativas dos outros, seja pai, marido ou rebento.”

Com o suporte da terapia, Bárbara compreendeu que não pode carregar o mundo nas costas e tenta transmitir essa prelecção para gerações anteriores, uma vez que sua mãe e tias.

No entanto, o investimento em si ainda é reptador para muitas. Ana destaca os obstáculos em sua procura pelo autocuidado, uma vez que a sustento baseada em ultraprocessados, a urgência de geração de renda e a violência no território.

Para a pesquisadora Sousa, é fundamental pensar em soluções vindas do poder público. “Estamos começando a discutir no Brasil políticas públicas para as mulheres cuidadoras”, afirma.

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