São Paulo
O nome dela é Gal. Ou melhor, Maria Gal. Nascida há 47 anos na mesma Salvador de Gal Costa (1945-2022), Maria das Graças Quaresma dos Santos é atriz e ativista e atualmente está no ar em “Amor Perfeito”, novela da Globo que tem como protagonista uma família inter-racial e elenco formado com igual quantidade de atores negros e brancos. Era exatamente ali que Gal queria estar. “Eu mereci.”
“Hoje, quando chego na Orbe para gravar, faço um tirocínio mental de pensar: ‘Eu mereço, eu posso, eu quero mais’. Penso que aquele lugar também é meu, que a minha fala faz diferença”, diz a atriz. Esse mantra costuma ser entoado a cada vez que sua autoestima dá uma fraquejada por conta dos episódios de discriminação que já teve de enfrentar ao longo da vida.
O mais marcante deles talvez tenha sido em sua juvenilidade, quando foi barrada em um conjunto do Carnaval de rua de Salvador. “Eu quis transpor nele, dentro da corda, onde 99% das pessoas eram brancas. Não me aprovaram. Portanto minha mãe foi lá para entender o que tinha ocorrido, não deram explicação alguma, e me aprovaram depois”, lembra a atriz, que interpreta Neiva, amiga e confidente de Marê, personagem da protagonista Camila Queiroz, na romance de Duca Rachid e Júlio Fischer.
Gal sempre foi engajada nas questões ligadas à paridade de gênero e, recentemente, lançou uma vez que coautora um livro que reúne histórias de mulheres de diferentes áreas, em que contam uma vez que resistiram aos obstáculos e conseguiram chegar lá. Lá onde? Aonde quer que elas queiram —no caso dela, ao núcleo principal de uma romance da Orbe (onde já havia trabalhado antes, mas em papéis menores).
“Uma Sobe e Puxa A Outra” foi best-seller na primeira semana de vendas e a atriz destaca o quanto isso simboliza a força da união das mulheres. “Somos tão potentes juntas! Eu fico sempre na incerteza se a gente tem essa rivalidade feminina velada ou se isso foi disposto por conta da nossa sociedade machista. O que eu percebo é que, de um tempo para cá, estamos nos conscientizando sobre a questão do machismo e estamos criando redes de suporte.”
Gal também é empresária e criou há mais de uma dezena a produtora Move Maria, que procura uma maior representatividade negra no audiovisual brasiliano. A luta pela paridade racial também a leva a cutucar uma outra ferida: o não-cumprimento da Lei nº 10.639 de 2003, que estabelece a inclusão de matérias uma vez que história e cultura afro-brasileira e indígena na grade escolar do país.
“Existe uma desinformação da tarifa, uma ignorância muito grande. Vivemos em um país em que quase metade acredita que não existe racismo no Brasil. Tenho minhas dúvidas se é realmente um ignorância ou um ignorância com terror de perder seus privilégios”, afirma.