A demanda por teor novo o tempo todo é alguma coisa cruel nestes tempos de tiktokização de tudo, inclusive da gastronomia. Tome receitas surpreendentes, tome vídeo caça-clique. Tome informação que não serve para zero, mas prende a atenção por preciosos segundos.
Nas últimas semanas, topei com meia dúzia de tutoriais ensinando a fazer leite condensado em morada. Não é alguma coisa só brasílico, tem receita gringa também.
Evidente que eu caí feito um pato e assisti aos filminhos, um pouco pelo nonsense que é replicar em morada um dos pilares da sustento industrial.
Que vantagem Maria leva fazendo leite condensado em morada?
Não vai transpor mais gostoso, porque se trata só de leite e açúcar. Você pode explorar nuances de especiarias ao cozinhar, digamos, ketchup com tomate originário. Mas não leite condensado.
Aliás, uma receita de leite condensado só será bem-sucedida se resultar idêntica ao resultado enlatado. Pois esse é o sabor que se espera.
Não vai transpor mais barato. Precisa explicar o que é indústria e por que ela esmaga pequenos concorrentes tirando vantagem da graduação industrial?
Não será mais prático, obviamente. Leite condensado não é um manjar em si, é um substância culinário que está aí para trinchar etapas na cozinha.
Não será mais saudável, já que leite condensado é necessariamente feito com uma concentração insalubre de açúcar. É tanto açúcar que não precisa de outros conservantes. Se não for exageradamente gulodice, de zero vale o leite condensado.
Enfim, não faz o menor sentido perder tempo com isso.
Uma das receitas que vi, inclusive, mandava espessar o leite líquido com leite em pó.
Tentemos entender. O leite ficou condensado porque foi parcialmente desidratado. Aí você simula o processo com a mistura de leite originário e leite totalmente desidratado. Querem chegar aonde com isso?
Será que a tia dos bolos vai lá e segue a receita? Ou será que só fica hipnotizada por uns minutos, tempo suficiente para ser apresentada a um par de anúncios?
Se quantia tivesse, eu apostaria na segunda hipótese. O leite condensado rendeiro é só um exemplo desse esquema que derrete cérebros.
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