Início Turismo Amazônia: Seca destrói turismo em comunidades ribeirinhas – 01/11/2023 – Ambiente

Amazônia: Seca destrói turismo em comunidades ribeirinhas – 01/11/2023 – Ambiente

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Comunidades do rio Preto que, até pouco tempo detrás, ofereciam quartos com vista para uma imensidão de águas amazônicas miram agora, vazias de visitantes, o solo rachado pela seca histórica que atinge a amazônia. Com as reservas canceladas em pousadas e restaurantes comunitários na região, quase R$ 200 milénio deixaram de ser arrecadados em outubro.

A Folha esteve, no último final de semana, em duas comunidades ribeirinhas do Amazonas em que o chamado turismo de base comunitária é uma das fontes de renda.

Uma vez que tem ocorrido desde o início da seca, não havia turistas no Saracá e em Santa Helena do Inglês. A consequência para a economia sítio é lógica: potencial acúmulo de dívidas.

Na comunidade Saracá, localizada dentro da RDS (Suplente de Desenvolvimento Sustentável) Rio Preto, no município de Iranduba (AM), Pedrina Brito de Mendonça, 40, aproveitou a escassez totalidade de visitantes para reformar segmento das hospedagens oferecidas.

Do momento atual até janeiro, ocorreria uma das principais épocas de turismo na região. Em outubro, porém, o rio Preto atingiu o menor nível da história.

Segundo Pedrina, não faria sentido as pessoas tentarem ir para lá agora. Apesar da estrutura com restaurante, quartos privativos e até ar-condicionado na pousada no Saracá, não tem porquê ter conforto na situação atual.

Além da dificuldade de entrada, há também questões de segurança. Enfim, com o braço do rio Preto praticamente sequioso em frente à comunidade —restando unicamente um lago, sem entrada ao rio em si—, qualquer deslocamento de emergência se torna um duelo.

“Imagina alguém passar mal cá”, diz Valcléia Solidade, superintendente de desenvolvimento sustentável da ONG FAS (Instalação Amazônia Sustentável), que apoia os projetos da região.

Algumas horas depois, o receio se materializou. Já era noite quando Sebastião Brito de Mendonça, 49, morador do Saracá, passou mal e teve que ser levado às pressas a Manaus —em traço reta, sobre 60 km de intervalo. No atual momento de seca, esse trajeto pode levar mais de uma hora e meia, dependendo do tipo de embarcação.

Há ainda um complicador: a partir do Saracá, para chegar ao paquete no trecho navegável do rio Preto, é preciso caminhar um trecho, transpor o pequeno lago citado anteriormente e ainda caminhar outro considerável pedaço de terreno que antes era rio. Esse esforço até o rio, de indumentária, passa de meia hora.

Fora o susto com Sebastião, a comunidade tem convivido com a dificuldade de chegada de remédio para controlar o diabetes de um dos moradores.

E, além da preocupação com emergências médicas, há o incômodo com possíveis coceiras provocadas por esponjas de chuva rebuçado localmente conhecidas porquê cauxi (Metania reticulata).

Por ali, não é novidade a pruído em quem encosta no cauxi —tanto que já é avisado a pessoas que se hospedam na extensão. Mas, segundo os comunitários, a seca trouxe pó de cauxi para diversos lugares no Saracá, aumentando a chance da situação incômoda.

Centenas de cancelamentos

A seca levou ao cancelamento de, pelo menos, 310 reservas entre hospedagem e restaurantes em cinco comunidades no plebeu rio Preto, de tratado com levantamento feito pela Coligação Amazônia Clima, liderada pela FAS. Essas desistências somam um prejuízo de mais de R$ 190 milénio unicamente em outubro.

A federação procura obter doações para facilitar as populações, principalmente as isoladas, afetadas pela seca histórica na amazônia. O projeto já mapeou tapume de 400 comunidades, aldeias e/ou bairros periféricos que foram afetados pela estiagem.

Mas o quantia que a seca impediu de chegar vai além da questão das hospedagens. No Saracá, por exemplo, há atividades de artesanato e de pesca —que, mesmo fora do período mais lucrativo, ainda poderiam render qualquer quantia, além do iguaria, logicamente.

Desde setembro, a pesca decaiu. “Nessa seca, parou tudo”, diz Sebastião, que é presidente da Associação de Moradores da RDS Rio Preto e, depois de passar mal, conseguiu ser atendido e voltou para a comunidade. “Para tudo e aí fica difícil. O período que não está dando peixe, [normalmente] as meninas estão no artesanato, recebendo cliente.”

Pedrina é uma das responsáveis pelo artesanato na comunidade, segmento do grupo de artesãs chamado Formiguinhas do Saracá. O quantia arrecado nas vendas é dividido pelo grupo. A matéria-prima para a confecção, porquê sementes de açaí e morototó, é comprada na própria comunidade, também fazendo circundar renda. Sem vendas, sem circulação de quantia sítio.

A movimentação de turistas vindos de comunidades ao volta também costumava trazer oportunidades de negócios —porquê em um dia em que influencers hospedados na comunidade Tumbira (um pouco mais distante, a quase 9 km, em traço reta, do Saracá) compraram R$ 3.000 em artesanato. Normalmente, os ganhos mensais do Formiguinhas chegavam a R$ 5.000, segundo Pedrina.

Na seca, porém, a relação relativamente simples, de paquete, entre as comunidades, acabou. O trajectória a pé, superior a meia hora, tem muito sol e poucas sombras entre as vizinhas Saracá e Santa Helena do Inglês, distantes menos de 2 km em traço reta.

Ambas as comunidades, por sinal, receberam, através da FAS, recursos do Fundo Amazônia e escolheram porquê destinar a verba para o desenvolvimento da economia sítio.

O igarapé que dava entrada a Santa Helena virou um pequeno ribeiro de chuva em meio ao terreno sequioso, que, em determinados pontos, chega a ser quebradiço ao ser pisado.

Apesar da paralisação de atividades causada pela seca, as duas comunidades não representam as situações mais críticas da região. Ambas possuem chuva limpa derivada de poços e força elétrica —o que, todavia, traz contas que podem se apinhar sem o quantia circulando.

Outras comunidades isoladas carecem desses elementos. Em algumas, inclusive próximas, há problemas no provimento de chuva e peixes mortos se acumulam nas poças que restam.

Demétrio Vidal Mendonça, 70, o mais velho em Santa Helena do Inglês, e pai de Pedrina e Sebastião, já viu algumas secas severas no sítio, mas sente que essa foi a pior.

O que resta é esperar, dizem os moradores das comunidades, que têm recebido cestas básicas.

“Nem tudo é prejuízo. É uma tragédia, mas serve para a gente fazer uma reflexão”, diz Sebastião. “Eu estava até brincando com a Pedrina: neste período, vamos organizar o que der para organizar, e o que não der, quando a chuva voltar, a gente estrear a trabalhar.”

O jornalista viajou a invitação da FAS (Instalação Amazônia Sustentável).

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