No interno da floresta, aonde se chega com o navio da Expedição Katerre partindo de Novo Airão (AM), o braço do rio Jauaperi marca o planta entre Roraima e Amazonas. A única partilha provável, porém, é mesmo a da cartografia. Em dadas horas do dia, mal se distingue firmamento e rio, terreno e chuva, vegetal e bicho.
Seriam quase 300 km entre Manaus e o igarapé Xixuaú caso a intervalo fosse medida em traço reta, exceto que na Amazônia zero se mede pelo menor pausa entre dois pontos. O navio navega à velocidade média de 17 km/h, as curvas no curso d’chuva alongam o tempo, o caminho retorce, força a pausa, pede atenção.
Existe um pouco de fantástico em atravessar pela primeira vez um rio imenso, agora novamente pleno em seguida a seca que devastou a região em setembro e outubro, e no estado de suspensão a que essa segmento da floresta nos convida.
São sons de macacos e pássaros que espiralam pelos tímpanos, indiscerníveis ao ouvido namorado; respira-se dissemelhante. E quando se troca a embarcação de cabines confortáveis pela menorzinha para um passeio, o ritmo do canoeiro conduz a outra dimensão.
Essa sensação prevalece nos oito dias de expedição —a Katerre oferece roteiros mais curtos e mais frequentes, além de um para as Serras Guerreiras de Tapuruquara (AM), mais longo do que o do Xixuaú.
É uma viagem na qual nenhum sentido passa incólume. A comida a bordo, preparada por uma equipe de três cozinheiras esmeradas, reúne o que existe de mais fresco no rio e na terreno: muito peixe (aruanã, matrinxã, tucunaré, pirarucu e às vezes com a chuva potente ou a correnteza que ganha força entre pequenas quedas, iranha, se o turista fisgar), açaí, farinha de Uarini, frutas locais.
De tudo o que vai perdurar na memória, entretanto, os sons são o mais definitivo. O guia pede atenção para emular um piar de ave. O do macaco não saiu muito, já o do jacaré funcionou e deu ao turista a perdão de um diálogo zopo entre varão e réptil. Em alguns momentos, a chuva entra na sinfonia, na hora da chuva potente ou quando a correnteza ganha força entre pequenas quedas.
Não se paga pouco pela experiência. As expedições da Katerre custam a partir de R$ 1.200 a diária em cabine compartilhada com pensão completa. Há um tarifário ilustre para aqueles que desejarem fretar o navio em grupo e montar o próprio trajecto dentro das possibilidades.
Ruy Tone, o paulistano obcecado por viagens exóticas e sustentáveis que pegou segmento dos ganhos da construtora da família e se tornou sócio da Katerre há dez anos, tem pretensões maiores.
Ele quer ajudar a fazer de Novo Airão, cidade que se estende por 25,5 milénio km² à margem do Preto e abrange o Parque Pátrio Anavilhanas, um polo para quem quer saber a floresta por dentro. Isso inclui aumentar a escolaridade da população, injetar na economia sítio novos produtos para a indústria (mormente a cosmética) e incutir a vontade de preservar a mata em quem tira dela o sustento.
Por ora o projecto vai muito. Já são três os barcos de cruzeiro da Katerre, todos construídos ou adaptados com inspiração nos modelos regionais e com conforto suficiente para prometer uma estadia de luxo nos parâmetros amazônicos.
Há cabines individuais e duplas com banheiro espaçoso, ar condicionado na maior segmento do dia, e as refeições memoráveis muito frescas (há ainda um cardápio trivial, bife, torta e pizza, para quem assim preferir). Ruy também gosta de oferecer vinhos de bons rótulos aos passageiros para embalar as conversas na mesa comunitária, pouco antes ou pouco depois de a embarcação ancorar para a noite.
Quando a reportagem participou da expedição, o elenco no navio era eclético. Além do possessor da empresa, do guia Josué Basílio e da tripulação, havia um parelha de turistas britânicos (a Katerre diz que a maior segmento de seu público é brasiliano, mas a procura por estrangeiros é grande); dois brasileiros que contribuem para um projeto ambiental impulsionado pelo empresário paulista e duas técnicas do ICMBio.
Também estava no navio o ativista educacional e ambiental Paul Clark, um escocês que adotou a floresta porquê morada nos anos 1990 e com a mulher, a italiana Bianca Bencivenni, passou a alfabetizar crianças ribeirinhas que as escolas comunitárias não alcançam.
Essa constituição revela muito do que a Katerre pretende oferecer para seus clientes: turismo socioambiental no qual entender as comunidades que habitam as margens do Preto é segmento tão importante quanto tomar contato com os animais e a mata.
Cabe ao guia Josué, um indígena Tukano poliglota pleno de boas histórias, conduzir a missão. Instrutor de sobrevivência na selva frequentemente procurado por estrangeiros adeptos da modalidade e por equipes de filmes e realities rodados na região, ele aprendeu com o pai, Adriano, os bônus e os ônus da floresta.
Nesse rol entram quais frutas são comestíveis, fazer queimação a partir de galhos, de qual bicho é cada pegada, qual aranha temer, que vegetação ajudam em caso de ferimento ou mal-estar, onde pisar, o que ouvir, para que lado olhar.
Quando a lua clareava o rio a ponto de fazer a fauna noturna se esconder, Josué enxergou no meio do capim do igapó um jacarezinho de poucas semanas desgarrado. Tomou o filhote nas mãos, explicou suas características aos turistas e o devolveu a chuva sem incômodo. Macaco, gavião, morcego, serpente, tucano, micro-rã, não tem bicho que escape do olhar do guia.
As horas diárias de navegação comportam a prosa acalorada e também a quietude.
Na ocasião desta reportagem, a viagem incluía a soltura de filhotes do projeto Bicho de Casco (tartarugas e outros quelônios recolhidos das praias fluviais para evitar caçadores e outros predadores), logo segmento das paradas nas pequenas comunidades visava contabilizar e reintroduzir na natureza os bichinhos.
Outra segmento era para contemplar as praias à margem do rio ou para mergulhos no meio do leito. Há ainda uma visitante às ruínas de Airão Velho, a antiga sede da cidade onde as vegetação tomaram as edificações em um cenário de distopia à la “Last of Us“.
Dorme-se no navio, e quem quiser pode passar uma das noites na rede sob uma maloca na suplente do Madadá, perto de onde Ruy pretende edificar mais uma hospedagem.
Ele já tem o Mirone do Gavião, um hotel de luxo sustentável constituído de cabines e casas na árvore cheias de comodidades e lindamente integradas na paisagem, além de um restaurante de ar modernista e vista escandalosa do rio.
Ruy não é o único a ancorar seus projetos em Novo Airão, a cidade de 15 milénio habitantes que dista de Manaus pouco mais de duas horas, ou 115 km de estrada predominantemente asfaltada e esburacada.
Nos últimos anos, o município, com o engodo do Parque Pátrio de Anavilhanas e seu arquipélago fluvial, tem se firmado porquê polo de turismo sustentável e um dos principais destinos turísticos do estado. Segundo dados da Amazonastur, são mais de 20 milénio turistas por ano, número próximo ao da mais conhecida Barcelos, ainda que muito inferior dos mais 100 milénio de Presidente Figueiredo e dos mais de 300 milénio da capital, Manaus.
A movimentação fez a oferta de hotéis se variar (há do rústico/comunitário ao sofisticado/luxuoso, sempre com ênfase no ecoturismo) e o governo do estado e a prefeitura investirem em melhorias, capacitação e promoção.
A infraestrutura ainda é limitada, embora a expedição da Katerre esteja muito preparada para emergências. Uma intercorrência médica durante esta reportagem foi prontamente manejada com deslocamento em voadeira até a UBS mais próxima, na comunidade amazonense de Moura.
Desde agosto, o Jacaré-Açu conta com sinal de internet, antes restringido às imediações da cidade, em todo o trajeto. Não precisava. A submersão plena no momento e a desconexão com o restante, por fim, são o ponto cimo do passeio.
A jornalista viajou a invitação da Katerre