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A linda banana canadense e a picanha triste de Londres – 06/10/2023 – Cozinha Bruta

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O TikTok, que nunca decepciona, nos entregou o vídeo de um influenciador brasiliano a recitar loas para uma banana vendida no Canadá.

“Olha só que formosura que são as bananas canadenses”, afirma o tal Lord Vinhateiro, em vídeo feito na cidade de Vancouver. “Ó, lisinhas!”

Ele parece seduzido com a figura da casca da fruta. Nas suas palavras, sem perebas, erupções cutâneas ou estrias.

Apesar do tom irônico da fala, dá a sensação de que o sujeito pensa mesmo que a banana do Canadá é superior à banana do vale do Ribeira. Porque a fruta brasileira não é tão formosa, ela tem manchas pretas na pele.

Uma tremenda sandice.

Da penúltima vez que vim a Londres, um erro na suplente da hospedagem me fez ser recompensado com um hotel de cinco estrelas em Mayfair, chique no último. Chegando lá, havia uma cesta de frutas com bilhete de boas-vindas.

Eram a frutas mais bonitas que havia visto. Maçã igual à da Branca de Neve. Banana perfeita uma vez que as de Vancouver. Mordi uma, mordi outra. Nenhuma tinha sabor de coisa alguma. Foram as duas para o lixo.

O Waitrose, supermercado mais perto de onde eu moro, só vende vegetais lindos. Tudo lustroso, verdejante, viçoso, liso, com face de coisa cenográfica, feita de cera. Pimentões de cera, melões de isopor, ameixas de plástico.

O consumidor dos países ricos não aceita provisões com figura feiosinha, de pobre. Isso, uma vez que dá para inferir, redunda num desperdício colossal.

Quanto às frutas tropicais, tem outra coisa: elas sempre vêm de longe e precisam sustentar a viagem.

A banana do tiktoker tem uma etiqueta da Dole, megacorporação de frutas que começou com abacaxis havaianos: eles vendem bananas da Costa Rica, Colômbia, Equador e Peru, nenhuma do Canadá.

Para controlar o estoque no discurso do ano, os distribuidores de fruta recorrem a truques da física (temperatura e luz) e da química (gases que induzem à maturação no tempo desejado). Por isso que tem fruta de todo tipo o tempo todo.

Não é esperto querer manducar banana na Inglaterra ou no Canadá. Cá, os mirtilos e as framboesas são o que há.

Quando você viaja para um país distante, martelar em manter a sustento de morada é uma teimosia estúpida. Você paga mais dispendioso e leva comida sofrível.

Mas o povo insiste em sonho de valsa, paçoca (cá tem, mas foi contrabando, depois eu história), biscoito recheado de segunda e achocolatado de quinta. Tudo meio velho e superfaturado.

Pensei nisso quando topei com um bife etiquetado uma vez que picanha no Marks and Spencer, outro varejista inglês. Bifinho miúdo, murcho, triste, músculos inglesa, sem capote de gordura. Nem vi o preço –insignificante nunca é– porque nem cogitei comprar.

Não estou no Brasil. Volto logo, mas por enquanto tento manducar do melhor jeito provável cá, o que não inclui picanha nem banana.

Voltando rapidinho às bananas canadenses, é incorrecto proferir que elas não existem. Pesquisei e vi que há uns malucos com uma fazenda indoor em Ontario, onde também produzem mamão, maracujá e goiaba.

Deve ser tudo, ó, uma bela porcaria.


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