Em 25 de maio de 2023, quando é comemorado o 60º natalício da União Africana, na data batizada de Dia da África, tenho uma certeza: essa é a hora e a vez do Brasil e sua diáspora negra retornarem à África. Temos um envolvente favorável de crescente consciência racial, retorno dos voos diretos para os países africanos e de uma política governamental que olha para os 54 países do continente-mãe uma vez que potenciais parceiros de negócios.
Do outro lado, o queda em relação à África é gigante. A quantidade de informações que chega ao Brasil é daqueles reflexos do racismo estrutural pouco falados. Enfim, por que os grandes veículos não mantêm correspondentes no continente e não priorizam as informações sobre eles? Com tão poucos dados é proveniente a venda de um lugar estereotipado e resumido uma vez que se fosse somente um país.
O Brasil envia suas novelas e missionários de igrejas pentecostais, mas não recebe a mesma gama de informações de volta. Ao mesmo tempo, o número de migrantes africanos é crescente em cidades uma vez que São Paulo, que viu a região da República, no núcleo, se tornar, uma pequena África.
Datas comemorativas servem também para dar visibilidade a temas urgentes. E, esse 25 de maio, marca uma série de eventos. Entre eles, a 11ª edição, Festival Back2Black (B2B) no Rio, entre hoje (25) e sábado (27), com artistas de diversos ritmos do continente; o Festival Musiques D’afrique, que desde terça-feira (23) até amanhã (26), ocupa o Largo Paissandu, em São Paulo, com música, performance, dança e trova.
Já o África Fashion Week que já ocorre no Reino Unificado e Nigéria estreia sua versão brasileira, o AFWB, entre hoje (25) e sábado (27) com desfiles e uma série de rodadas de negócios no Expo Center Setentrião, em São Paulo.
No turismo, tivemos o “ano do retorno” promovido por Gana em 2019 que incentivava pessoas da diáspora africana a retornarem ao país. O sucesso foi tamanho que o país tentou repetir a ação em 2020, ano em que a pandemia paralisou o fluxo de turistas no mundo todo. Antes da Covid-19, o número de voos semanais para a África do Sul, por exemplo, chegou a 12 e foram reduzidos a zero a partir de abril de 2020.
Agora, a Latam anunciou que vai voltar com 3 frequências semanais a partir de setembro e há negociações avançadas sobre o retorno do voo da South African Airways. Nos três primeiros meses de 2020, pouco antes do início da pandemia, mais de 25 milénio turistas brasileiros foram para a África do Sul, sendo o quinto mercado em envio de turistas para o país, segundo a sucursal que promove o direcção por cá, a Descubra África do Sul.
A conversão do real para o rand, moeda sul-africana, é um dos atrativos do país, que, em 2024, vai comemorar ainda os 30 anos de democracia, com ações que relembram o termo do Apartheid.
A sucursal de promoção vê o retorno dos voos diretos com otimismo e aponta o dinamismo África do Sul, que oferece natureza, gastronomia, cultura, história, intercâmbio, além de safáris inesquecíveis. “Há uma infinidade de conexões que podem ser feitas com o retorno do voo, desde as mais óbvias uma vez que o aumento de negócios feitos entre os dois países, com a ajuda do BRICS. Outrossim, acreditamos que haverá um aumento significativo entre as conexões culturais, incluindo artes visuais, música, tendência, gastronomia”, afirma a Descubra África do Sul.
O saldo de transacção entre o Brasil e o continente africano foi de US$ 15,911 bilhões, tapume de R$ 80 bilhões em 2021. Já em 2022, a Secretaria de Negócio Exterior (Secex) informou que de janeiro a outubro, o saldo havia sido de US$ 17,254 bilhões, subida de 36,9% comparada ao mesmo período do ano anterior.
Há também a chegada de novos voos que ligam São Paulo ao Cairo, sem conexões e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, disse em encontro com o setor do afroturismo, em abril, que novas rotas aéreas com o continente africano serão reabertas. “O governo brasílio está negociando a retomada de voos para a África do Sul e Angola, país com o qual deve erigir também roteiros de afroturismo”, informou.
Outrossim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve fazer sua primeira viagem ao continente em junho, quando vai visitar o Congo, num encontro sobre florestas tropicais e também pretende viajar para África do Sul, Moçambique e Angola.
Outro ponto de relação com o continente são os testes de DNA, que descobrem a ancestralidade africana fazendo com que brasileiros retornem aos lugares em que viveram os seus maiores. A Brafrika Viagens é uma das pioneiras no tema e promove encontros, culturas e conexões nunca antes imaginadas pelos brasileiros da diáspora africana.
Tudo isso mostra que temos sede de África e queremos saber e nos conectar mais. O sonho de pisar em solo africano segue cada vez mais verosímil e que esse Dia da África possa selar um retorno à nossa ancestralidade, mirando um horizonte com mais cultura e histórias negras valorizadas.
Viva o continente mãe!