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Ainda somos os mesmos e almoçamos como nossos pais – 07/07/2023 – Cozinha Bruta

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A semana foi do jeitinho que a Volkswagen queria: metade falou bem, a outra metade falou mal, mas todo mundo ajudou a propalar o mercantil da montadora em que a cantora Elis Regina, ressuscitada por perceptibilidade sintético, contracena com a filha Maria Rita.

Eu, inclusive, neste exato momento.

Os críticos acusam Maria Rita de lucrar numerário sobre o morto da mãe e, muito grave, para promover uma empresa que apoiou a ditadura militar no Brasil. Duvido que Elis vá se incomodar, pois está morta.

E concordo com o João Marcello Bôscoli, outro rebento de Elis: quase toda empresa tem pecados pretéritos, maiores ou menores, camuflados ou evidentes. As alemãs, portanto, vixe! Pesquise as origens da Adidas e da Puma, marcas queridinhas dos modernos. Vai deixar de tomar aspirina também?

Outro branco de sátira é o ocupação de “Uma vez que Nossos Pais”, composta por Belchior e interpretada por Elis, porquê jingle para vender sege.

Não é exatamente uma ode à convívio harmoniosa de gerações, mas me parece que esse pessoal nasceu ontem e nunca viu um reclame na vida. Publicidade é a arte de deturpar o sentido original das coisas.

“Uma vez que Nossos Pais” trata da raiva e do temor da juventude dos anos 1970, com esquinas perigosas e sinais fechados. Evolui até concluir amargamente que, no término das contas, jovens e velhos são a mesma tralha.

É frustrante, pois dói entender que as gerações anteriores também se iludiram na presunção de que eram o alecrim dourado da existência humana. Mas a colocação traz qualquer fôlego: não há folga numa vida só de novidade e revolução.

Quando o jovem descobre que precisa repousar, cede ao inevitável. Relaxa, compra um pijama confortável e um chinelo parecido com o do pai, exclusivamente menos horroroso.

Estava viajando nessas abobrinhas quando me peguei comprando, na rotisseria do supermercado, arroz, feijoeiro e frango assado para aquecer no micro-ondas e almoçar em vivenda.

Meus pais adoravam almoçar em supermercados aos sábados. Jesus, porquê eu detestava! Nos meus 14 ou 15 anos, queria testar restaurantes, ver lugares bacanas, manducar longe daquele coquetel de aromas de amaciante, açúcar, vinagre e ração de cachorro.

Pai e mãe só pensavam em resolver a vida sem sobressaltos. Compras e almoço na mesma saída, economia de tempo e de grana. E toca para a lanchonete do Bompreço da avenida Ricardo Jafet.

Saí da vivenda dos pais e me meti a fazer tudo dissemelhante. Se eles jantavam cedo, eu jantava tarde. Se temiam sabores novos, eu me jogava na comida asiática, no nordestino raiz, no restaurante daquele fulano que faz um negócio que só ele faz.

Inventava tendência –e ainda invento– até no almoço dos dias de semana. Quando trabalhava em redação, torrava o salário em restaurantes bons; no home office, dei para cozinhar coisas criativas. Uma hora cansa.

Cansado, recorri à rotisseria do supermercado. O próximo passo é manducar lá mesmo, porquê faziam meus pais.

E o bufê de sopas da panificação que me aguarde: dia desses apareço para tomar caldo de mandioquinha com torrada de alho. Às 18h em ponto.


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