Rio de Janeiro
Rita Lee tinha muitos amigos no meio músico, mas ela sempre mencionou Elis Regina porquê uma das pessoas mais importantes na sua vida. Em entrevista a Astrid Fontenelle em 1998, a cantora que morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos, revelou um dos momentos mais dramáticos: a prisão quando estava pejada de três meses de seu primeiro fruto, Beto Lee. Era setembro de 1976 e, no dia seguinte de ter sido detida, ela recebeu a visitante da tradutor de “Falso Reluzente” e “Madalena”.
“Na quadra dos festivais da Record, Mutantes e Tropicalismo, Elis passava pela gente virando a rostro. Ela fez secção daquela passeata contra a guitarra elétrica na música brasileira. A última pessoa que eu esperava que fosse me visitar na prisão era a Elis”, contou Rita lembrando que a cantora levou pela mão o fruto João Marcello Bôscoli, de 6 anos. “Quando o carcereiro falou: ‘Ô, Ovelha Negra, tem uma cantora famosa rodando a baiana, dizendo que vai invocar a prelo. Ela quer te ver'”.
Rita lembrou que Elis logo a achou magra demais. “Ela começou a falar duro com os policiais: ‘O que vocês estão fazendo com ela?’. O que ela berrou, o que ela aprontou lá dentro… E você pensa que os caras falavam alguma coisa? Não falavam zero. Ela cobrava: ‘Eu quero um médico já. Se não vier, chamo a prelo’. Ninguém mexia com a Elis. Ela era do Olimpo. A number one!” brincou.
Lee logo prosseguiu no relato: “Elis mandou comprar comida para mim, deu numerário e ainda pediu troco (risos). Ela foi a primeira e única pessoa a me visitar no Hipódromo. Isso depois de ter ficado um tempo no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais – Polícia Social SP). Ficamos muito amigas depois disso”, comentou.
A ex-vocalista dos Mutantes foi presa com suas empresárias e oito integrantes da orquestra Tutti-Frutti. Na versão da polícia, o grupo foi recluso depois denúncias sobre uso de drogas durante uma temporada de shows no Teatro Aquarius. Os agentes reviraram a vivenda de Rita Lee e disseram ter invento 300 gramas de maconha, sobras de cigarros e um narguilê.
Em entrevista à revista “Quem” em 2010, ela contou que tudo tinha sido plantado pela polícia. Na quadra, ela garantiu que a droga não era sua e que tinha parado de fumar devido à gravidez. Rita Lee chegou ser condenada a um ano de prisão domiciliar e multa de 50 salários mínimos.