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Comida de velho é vítima do etarismo gastronômico – 26/09/2024 – Cozinha Bruta

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Você começa a cogitar comportar que esteja ficando velho quando as evidências se tornam óbvias e recorrentes. A seleção dos anúncios na internet, por exemplo.

Do zero, aparece clínica para o tratamento de disfunção erétil. Um projecto de saúde para a “melhor idade”. Pelo menos ainda não fui agraciado com propaganda de residencial sênior, vulgo asilo.

Não adianta tingir de acaju a cabeleira. Não adianta escoltar as gírias da garotada —isso é cringe, me avisaram. A internet sabe quantos anos você tem. O mundo sabe que você está velhusco.

De todos os tipos de discriminação —aí inclusos racismo, homofobia e misoginia—, o etarismo é o único que não está plenamente cancelado. Isso decorre do indumentária de que a instituição “cancelamento” foi criada e é operada, na ampla maioria dos casos, por pessoas jovens.

Ainda é socialmente aceito ridicularizar gente velha, hábitos de velho, coisas de velho —o que abarca as comidas de velho.

A comida de velho está nas sopas das padarias, a que os velhos acorrem pouco depois das 18h. São sopas de velho: canja, creme de palmito, feijoeiro com macarrão, creme de quatro queijos, mandioquinha, ervilha com bacon.

A comida de velho se manifesta nos sabores de pizza que as novas gerações abandonaram. Pizza de atum com cebola, pizza de aliche, pizza de escarola.

A comida de velho se apresenta em certos doces. Pediu creme de papaia? Idoso! Quer manjar branco? Xiii, ficou gagá!

Nesses lugares há sempre uma seção dedicada aos filés. Filé à cubana, cuja receita varia bastante. No bar Guanabara, o mais vel…, perdão, velho de São Paulo, ele vem empanado e servido com ervilha, presunto, palmito, bacon, abacaxi, banana à milanesa, arroz à grega e fritas.

Filé à Daniel, a receita que apresento a seguir, é feito ao vinho com molho inglês e bastante alho.

Uma vantagem que o etarismo gastronômico tem em relação ao etarismo universal: ele pode vanescer pela magia do lero-lero. Invente uma historinha emotiva qualquer para relançar a comida de velho porquê novíssima voga.

Logo, pirralhada, fiquem ligados: meu filé não é uma velharia. É vintage, é retrô e uma relíquia culinária.

FILÉ À DANIEL

Rendimento: 2 porções

Dificuldade: fácil

Tempo de preparo: 15 a 20 minutos

Ingredientes

2 bifes altos de filé mignon

100 ml de vinho tinto

150 ml de caldo de mesocarpo

4 dentes de alho picados

2 colheres (sopa) de molho inglês

1 colher (sopa) de extrato de tomate

Óleo vegetal

Sal e pimenta-do-reino a sabor

Modo de fazer

  1. Aqueça uma frigideira de ferro, em lume cocuruto, por pelo menos cinco minutos. Unte os bifes com óleo e os tempere com sal e pimenta.

  2. Grelhe os bifes de todos os lados. Reserve pouco antes de atingir o ponto desejado.

  3. Despeje na frigideira o vinho, o caldo, o alho, o molho inglês e o extrato de tomate. Reduza o lume.

  4. Quando o molho espessar, devolva a mesocarpo à frigideira para reaquecê-la por tapume de dois minutos. Sirva com batata e/ou arroz


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