Início Turismo Argentina: conheça Salta, Cafayate, Cachi e Humahuaca – 09/05/2024 – Turismo

Argentina: conheça Salta, Cafayate, Cachi e Humahuaca – 09/05/2024 – Turismo

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Crise é um pouco que nunca sai de voga na Argentina, mas passam-se os anos e Buenos Aires segue a encantar os brasileiros. Pudera: calçadas perfeitas, simetria arquitetônica, limite de profundidade decente de prédios, quarteirões precisamente simétricos, numeração de ruas judiciosa, jardins cuidados, croissants bons e baratos. Uma capital europeia, uma vez que dizem, com a vantagem de ter taxistas loquazes, simpáticos, e que você paga em peso. Tudo o que cidade alguma do Brasil nunca ostentou.

Posto isso, talvez seja hora de transferir o protagonismo da capital para outros rincões da Argentina.

A Argentina é belíssima e tem culturas muito diferentes e particulares em suas diferentes regiões. Salta e Jujuy, dois estados vizinhos do extremo setentrião do país, respiram a cultura andina e o legado inca, que também chegou ali. Embora ainda não sejam os Andes, as áreas próximas a Salta e San Salvador de Jujuy, suas capitais, são montanhosas, com alguns lugares supra dos 4 milénio metros de altitude.

Sol, firmamento azul e montanhas de muitas cores, com tons de verdes e vermelhos impressionantes, acompanham o viajante ao longo das estradas que cruzam os estados.

Rumo setentrião, em direção à fronteira com a Bolívia, o domínio é o da quebrada de Humahuaca, patrimônio mundial segundo a Unesco desde 2003 pela valimento uma vez que espaço de passagem e povoamento que remonta a 10 milénio anos.

Perto do que a murado, Salta, a principal cidade da região, é uma base simpática, de trânsito caótico e ao menos uma atração “blockbuster”, o Museu de Arqueologia de Subida Serra, que exibe, em rodízio, os “niños de Salta”, múmias de três crianças incas descobertas em 1999 no cume do vulcão Llullaillaco, a 7.000 metros de altitude.

Os incas sacrificavam crianças, é sabido, mas vê-las ali perfeitamente preservadas –por pretexto do insensível, da baixa umidade e do ar rarefeito– é tão espantoso quanto deslindar que era verosímil viver àquela altitude. Os incas acreditavam num projecto não terreno, mas é difícil engolir que os jovens dignitários desse mundo o aguardavam com tranquilidade e resignação.

Para quem tem prazer em guiar, a teoria de fazer uma excursão em van desde Salta (a partir de R$ 100 por dia, por pessoa) para as gemas da região, Cafayate, Cachi e Purmamarca, é um disparate.

Diversas atrações até esses lugares estão nas estradas, rotas cênicas impressionantes, e que, não por contingência, atraem enxames de motociclistas. Para Cafayate, por exemplo, famosa por seus vinhos brancos secos e doces de altitude, toma-se a RN (ruta vernáculo) 68, que segue junto ao rio das Conchas e atravessa outra quebrada, também das Conchas, nome oferecido pela existência desses registros marinhos de eras anteriores ali.

Uma vez que caprichosos escultores, vento, erosão e chuva criaram formações notáveis à cercadura da estrada. Sucintamente, há a forma de um navio encalhado, apropriadamente chamado de Titanic; os castelos; o sapo; o obelisco.

Também vale muito estacionar o sege para saber o despenhadeiro da Goela do Diabo e, em outra paragem, a acústica espetacular do Anfiteatro –cá quero crer que todos os turistas presentes naquela manhã de sábado reconheceram de súbito minha versão trôpega de “Pequena de Ipanema”, assobiada e amplificada.

Há ainda no caminho a ponte utilizada uma vez que locação do filme de episódios “Relatos Selvagens”, de Damián Szifron, na historieta em que dois motoristas se engalfinham de maneira bisonha, uma vez que se participassem de uma luta de Telecatch que deu ruim.

Nevado de Cachi

O caminho para Cachi, vilarejo lindamente campesino à sombra do nevado de mesmo nome, de 6 380 metros, é ainda mais impressionante.

Partindo de Salta, o início da rota é o mesmo de Cafayate, rumo sul, mas toma-se uma saída da 68 em Carril, para lucrar a RP (ruta provincial) 33, que acompanha o rio Chicoana. O que vem a seguir é um mix de geografias, da yunga (floresta) à puna (planalto estéril de altitude).

A mata copiosa lentidão para ser vencida, uma vez que se estivéssemos atravessando a Serra do Mar. Há até mesmo um trecho da estrada, por volta do quilômetro 22, que se assemelha ao túnel do Joá, no Rio, com uma pista (estreitíssima) se sobrepondo à outra.

Trata-se de um {aperitivo} para a Costa de Obispo e sua sequência de curvas muito fechadas, na subida para a puna, em que a neblina e um pavimento de rípio (cascalho) acompanham o viajante.

Uma vez que se não fosse suficiente, o que logo se descortina é uma vista quase ilimitada de um deserto de grandes cactus, os cardones, que são preservados num parque vernáculo, o Los Cardones.

Ao fundo, o Nevado de Cachi. É cá a famosa reta de Tin-Tin, aplainada sobre um velho caminho inca, de murado de 18 quilômetros a 3 000 metros de altitude. A vontade de finalmente pisar fundo no acelerador faz a longa extensão da Tin-Tin parecer o caminho para a panificação.

Purmamarca e Humahuaca

As estradas que conectam Salta a Humahuaca, ao setentrião de San Salvador de Jujuy, conseguem ser tão ou ainda mais especiais que as rotas para Cachi e Cafayate. ]

A yunga volta a manar na RN 9, com pista mais estreita que aquela para Cachi, exigindo atenção do motorista, que vai reencontrar a puna em Volcán, 130 quilômetros a setentrião de Salta. Purmamarca, a cidade a seguir, pede alguns dias de paragem, seja pelo prosaico núcleo histórico, com suas casas de adobe pintadas com genial simplicidade, seja pela estrutura turística, com feira de artesanato diária e pousadas-butique.

A poucos passos do centrinho fica notável microcosmo do que é toda a região. O Paseo Los Colorados concentra em não mais de três quilômetros formações de montanhas coloridas, cânions e mais cardones. Cá fica o famoso Cerro de los Siete Colores, mas é fácil perder a conta.

A vontade de nunca mais tocar num volante é grande, mas a menos de 70 quilômetros a oeste está Salinas Grandes, o deserto de sal que emula, sem muita pretensão, o Salar de Uyuni boliviano.

Guias da etnia lugar levam pequenos grupos de turistas às milhares de piscinas rasas em que o sal é explorado comercialmente e não se furtam a tirar fotos dos clientes, sugerindo situações em que a perspectiva distorce os planos, fazendo com que a pessoa do primeiro pareça tremendamente maior que o companheiro lá detrás.

Há ainda Humahuaca, cidade que ostenta em seu núcleo histórico um pavimentação que lembra vagamente o de Paraty e que serve de base para saber as Serranias del Hornocal, o conjunto assombrosamente simétrico de montanhas de –se é que alguém contou– 14 cores.

Se a conta havia sido perdida em Purmamarca, cá a coisa complica ainda mais. A mais de 4 milénio metros de altitude, é verosímil contemplar o conjunto de longe, num caminho atingível para carros comuns.

O passeio é rápido, pois o vento, o insensível e a falta de outros atrativos intimidam, mas Humahuaca lá embaixo convida à estada. Os restaurantes são bastante simples, mas a comida típica andina, muito baseada no milho, na quinoa e na mesocarpo de lhama, menos gordurosa do que a bovina, é saborosa e certamente oferece dieta muito equilibrada.

No mais, uma vez que cansar da humita, espécie de pamonha salgada que pode ser envelopada pelas folhas do milho ou servida uma vez que creme, às vezes misturada com mesocarpo?

O melhor, porém, está nas peñas, em que a animação da música tradicional andina deve surpreender quem só a identifica com “El Cóndor Pasa”. Difícil permanecer parado quando os conjuntos mirrados de violão e flauta executam “El Humahuaqueño”, o hino carnavalesco da quebrada, envolvente o suficiente para merecer uma versão de Roberto Carlos em seu disco de sucessos em espanhol de 1976.

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