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Zeca Pagodinho: Deviam ensinar jogo do bicho na faculdade – 02/02/2024 – Música

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Rio de Janeiro

Na sala de espera da Cia. dos Técnicos, um dos mais antigos e muito frequentados estúdios de gravação do Rio, um menininho loiro vê vídeos de figura entusiasmado ao celular, deitado no sofá, com a cabeça encostada na perna da babá.

Ele está com a testa um pouco inchada, e começa a permanecer com uma marca roxa. “Tadinho, o Domenico foi decorrer para abraçar a perna do avô e caiu mal-parecido. Seu Zeca ficou doido, esses netos são tudo para ele”, conta Marlene, a babá, ajeitando o uniforme impecavelmente branco.

O “Seu Zeca” é Zeca Pagodinho. Ele está com a margem ensaiando, lá dentro, e quando surge no horizonte de Domenico, o que se vê no menino é uma transformação fisionômica impressionante. Do quase sono pós-choro, arregala os olhos, sorri e pede pescoço. “Vem com o vovô”, diz Zeca, beijando o seu cocuruto.

Os dois vão para uma sala ao lado, onde o cantor recebeu a reportagem do F5 numa tarde de ensaios para o show que fará neste domingo (4), no Estádio do Engenhão. É muito no dia de seu natalício de 65 anos, e a apresentação, que conta com convidados uma vez que Pretinho da Serrinha, Seu Jorge, Alcione, Iza, Jorge Aragão, Xande de Pilares, Diogo Nogueira, Djonga e Marcelo D2, vai virar um DVD em comemoração aos seus 40 anos de curso.

Zeca já disse várias vezes que tem preguiça de trabalhar, mas não vem fazendo outra coisa nas últimas semanas. Além dos ensaios diários, participou do Big Brother Brasil 24 (quando quebrou o protocolo e pediu para fazer xixi entre uma música e outra; ‘Levei o cachorro no poste’, anunciou, ao vivo, logo que voltou), foi ao Fantástico, não para de falar com jornalistas.

E não reclama.

“Só não me pede para dar entrevista à noite. Depois de oito horas, não quero fazer mais zero”, anuncia. Ele conta que está levando tudo numa boa, mas, realmente… “trabalhar no dia do meu natalício é novidade, não me lembro de ter sucedido”.

Diz que está encarando tudo uma vez que “uma grande sarau”, já que para onde vai, leva boa segmento da família. Faz segmento do seu entourage. Tanto que, neste dia, além de Domenico estavam lá o neto mais velho, Noah, 14, e a filha, Eliza, 32, mãe dos dois. Ela está prenhe de novo. Seu outro fruto, Louiz, também vai ser pai de novo. Zeca tem atualmente quatro netos, “mas vai pra seis”, ele apressa em relatar. “Tudo masculino. Menos uma, a Catarina, que é a moçoila, de nove anos. Mora em São Paulo. Senhoril”.

Zeca mantém o hábito de pegar o telefone e transpor ligando para amigos, funcionários, manicures. Faz isso várias vezes durante a entrevista. Numa das ligações, combina o cardápio do jantar, em Xerém. Ele não só telefona direto (não usa WhatsApp), uma vez que bota sempre no viva voz. Ouve quem quer.

Desta vez, do outro lado da traço está seu cozinheiro, que informa: “Comprei três quilos e setecentos de pé de penosa e cinco quilos de inhame, já temperei e vou iniciar a fazer agora”.

Zeca se anima logo que desliga. “Isso é uma delícia, rapaz”, entusiasma-se, com o dente de ouro à mostra na arcada superior —o “dente de malandro”, uma vez que ele labareda, é a realização de um sonho de mocidade. Os quase quatro quilos de pé de penosa com inhame são para o jantar “da rapaziada”, já que quando chega em Xerém “não para de vir gente”.

No dia seguinte, sua filha mais novidade, Maria Eduarda, completaria 20 anos. Mas para ela e seus convidados, zero de pé de penosa. “Ela não come isso não”, ri. Ele explica que no terreno de Xerém tem uma traço imaginária que o divide em dois. De um lado, (“o meu quintal”), é comida roots: “Porco, penosa com quiabo, pé de penosa com inhame”. Do outro, onde Duda vai comemorar seu natalício, é comida “afrescalhada”: “estrogonofe, risoto, camarão, essas coisas”.

Para tomar, já estão separadas 22 caixas de cerveja. “Será que dá? Dá, né?”, pergunta, rindo. Ele emenda em outra relação, agora para a mulher, Mônica. “Quer apostar que ela tá no supermercado? É louca por supermercado, nunca vi”.

E bota no viva voz de novo. “Oi, tudo muito por aí? Onde você tá?”. Mônica diz que tá no hortifruti de Xerém. Zeca faz uma rosto de “não disse?”, e em seguida conta o que aconteceu com Domenico. “Pô, o Don Don tropeçou e bateu com a testa, coitadinho, porra…”, diz, em tom de desolação. Ela imediatamente pergunta se ficou roxo —ele nega— e avisa que comprou músculos moída para as crianças. “Se eu narrativa a verdade, ela ia permanecer maluca”, confessa depois a mentirinha sobre o hematoma.

Entre uma relação e outra, sempre com todos ao volta ouvindo a conversa inteira, Zeca fala de assuntos que são segmento de seu repertório, sobre os quais adora falar. A Escolinha do Professor Raimundo é uma dessas obsessões. Mais do que reiterar seu paixão pelo humorístico, Zeca conta que há murado de dois anos chegou a fazer campanha para que voltasse ao horário original no meato Viva, no término da tarde.

“Ah, gravei um vídeo com o Noah e mandei pro rosto lá da Mundo falando que a gente ia permanecer órfão se mudasse a hora, não ia dar mais para presenciar”. Deu manifesto, a Escolinha voltou a ser exibida às 18h45, cabendo perfeitamente na sua agenda.

Zeca gosta de rotina e, quando não está nesse ritmo veloz de trabalho, a sua inclui a seguinte programação diária: “Seis da tarde eu rezo a Ave Maria com Pedro Augusto na Rádio Tupi, emendo na Escolinha e depois vou para o Jornal Vernáculo”. É logo que costumam ser suas noites.

Vadiagem? Samba até altas horas da noite? Zeca não é mais disso. “Vou aonde? Meus amigos morreram, outros estão doentes… Não, tô quietinho, deixa eu só de vovô que tá ótimo”.

A materialização desta novidade período, ele garante, pode ser comprovada pelo desapego a um item de seu figurino que dizia muito sobre seu estado de espírito: um par de sapatos brancos. “Quando eu calçava ele, ninguém me segurava. Meu neto já falava “Iiiihhhh….”. Hoje ele diz que nem sabe onde os sapatos estão. “Sumiram”.

Viciado em TV, Zeca não está vendo “Renascer” nem o BBB em que se apresentou dias detrás. Diz também que não assistiu a “Vale o Escrito”, série sobre o Jogo do Bicho, outro matéria que o empolga. “Jogo do bicho tinha que ser material de faculdade”, afirma.

E justifica: “Se você for saber a matemática que é aquilo… É letra dobrada, término de dezena, um milhar que tiver não sei quantas letras iguais paga não sei quanto. Não é folgança. Essa garotada não sabe o que é isso hoje, não”, indigna-se.

Ele trouxe de Xerém vários calendários, daqueles grandes, de pendurar na parede, com os bichos e seus números (veja na galeria de fotos). Distribuiu para todos os músicos e técnicos que estavam na despensa, esperando a comida. “Bom para você aprender a jogar”, disse à repórter, também presenteada.

O almoço foi encomendado num galeto a poucos metros dali, em Copacabana. No cardápio escolhido por Zeca, a filha e o neto, havia bife à rolé com purê, frango ensopado e estrogonofe de camarão para Noah. O menino mal tocou no prato porque havia se empanzinado de biscoito Torcida sabor churrasco minutos antes. “Estou almoçando para não fazer desfeita”, admitiu.

Zeca vinha se lamentando que não conseguia falar com Seu Jorge, mais um dos telefonemas aleatórios daquela tarde. Edilene, a Baiana, sua assistente há décadas, liga do seu celular e passa o aparelho a ele.

“Tá de mal comigo, rosto? Tava falando cá: ‘Pô, Seu Jorge não atende mais, será que está magoado comigo?'”. Jorge brinca que isso é “intriga da oposição” e desata a falar sobre a relevância de Zeca para a música. A conversa vai do áudio para o vídeo.

“Meu irmão, deixa eu falar uma coisa pra você. Além de uma discografia absurda, você é o único que tem a estrutura da indústria do samba na mão. Ninguém mais tem. Quem mais faria um show de samba no Engenhão, rosto? Só você, ninguém mais. Você é o único, você é o único do negócio.”

Produtor músico do show junto com Paulão Sete Cordas, Pretinho da Serrinha endossa as palavras de Seu Jorge e diz se espantar com o repertório de Zeca. “É muita música boa, rosto. Em muitos anos. Não tem zero ruim ou mais ou menos. Fica até difícil escolher.”

Pagodinho já contou algumas vezes que se borra de pavor de “fantasmas”. Mas o traje é que sua inspiração conta com toques sobrenaturais. O cantor e compositor lembra que um espírito já baixou ao seu lado e lhe passou uma letra todinha, há alguns anos. “Estava fumando um cigarro na varanda, vendo o mar. Aí veio uma voz. Ficou aquela voz cantando, né?. Eu falei: não vou grafar. E a voz ficou cantando… E eu pensando: não vou grafar. Aí eu falei, porra, tá bom”.

Foi portanto ao quarto da filha mais novidade pedir ajuda. “Duda, Duda, vem cá! É que tem uma voz falando cá no meu ouvido e eu tenho que gravar isso agora e mandar para o Moacyr Luz [músico e compositor]. Grava aí. E comecei a trovar”. Ele não diz que música era essa mas reafirma que veio “inteirinha”.

Terminado o almoço, hora de voltar para o tentativa no estúdio. A margem e as backing vocals (Eliza, a filha, agora está no coro) os esperam. Zeca faz mais uma relação, canta segurando o celular e diz que não vê a hora de voltar para Xerém. “Vai ser hoje à noite mesmo. Imagina aquele tanto de pé de penosa com inhame me esperando, hummmm….”.

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