Não dá para escavar lugares de fundamentos (religiosos), sem mexer com os ancestrais. É o que tem aprendido a duras penas a Risco Uni, consórcio liderado pela Acciona e responsável pela construção e operação da futura Risco 6-Laranja do Metrô de São Paulo. Durante as obras na região do Bixiga a empresa descobriu vestígios do Quilombo Saracura, que funcionou no lugar nos séculos 19 e 20.
A invenção foi notificada no site da emprensa em abril de 2022, mas ficou sem conhecimento da sociedade por dois meses. Até que o Guia Negro noticiou e os moradores do bairro se organizaram no Movimento Saracura Vai-Vai que há mais de um ano se reúne semanalmente em torno das pautas da preservação dessa história.
Entre as reivindicações estão a mudança de nome da Estação de Metrô, de 14 Bis para Saracura Vai-Vai; instrução patrimonial para que as histórias sejam conhecidas por mais pessoas e museu com as peças encontradas na obra na própria estação ou no seu entorno.
O Mobiliza Saracura Vai-Vai é a reunião de vários movimentos que já existiam no bairro, com reforço do movimento preto. Os membros participaram, por exemplo, de forma ativa no debate do projecto diretor, no qual conseguiram incluir a responsabilidade da Prefeitura de proteger as áreas quilombolas demarcadas pelo Governo Federalista. “Hoje o único território quilombola em reconhecimento na espaço urbana de São Paulo é o Saracura, mas permite que outros também tenham esse recta no horizonte”, diz Luciana Araujo, jornalista, moradora do Bixiga e integrante do Movimento Saracura Vai-Vai.
O Bixiga foi reconhecido uma vez que território de quilombo urbano, no pré e pós cessação da escravização no Brasil pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Vernáculo (Iphan). Ao longo do século 20 e primícias do século 21, abrigou a escola de samba Vai-Vai, a maior vitoriosa do carnaval de São Paulo, que traz em seus sambas enredos e desfiles o protagonismo preto e era fundada em um terreiro, que tinham fundamentos de orixás.
A escola foi desapropriada para a construção do metrô, posteriormente uma longa disputa com segmento da vizinhança que se incomodava com o som dos ensaios. Saiu da antiga sede com a promessa de outra quadra no bairro, e hoje a novidade localização está embargada pela justiça e a Vai-Vai continua sem teto no lugar de origem. Ou seja, a luta do movimento é também pela permanência da Vai-Vai no território.
Escavações
A obra do metrô, por sua vez, deparou-se com o sítio arqueológico. “Mexeu com quem estava quieto”, uma vez que se diz no ditado popular. “Entendemos que o metrô é importante, mas precisa respeitar nossa história. A escavação não pode destruir as memórias desse território preto e queremos a musealização desse lugar”, afirma Luciana Araujo.
O Iphan também reconheceu o lugar uma vez que território consagrado de matriz africana. Na última sexta-feira (18/08), a Ebomi Jennifer de Xangô, que está assumindo o Ilè Asè Iyà Osun, posteriormente a morte de Pai Francisco de Oxum, esteve no lugar e identificou diversas peças de ágata, uma vez que prato raso e fundíbulo – usados no candomblé, além de faca e ferradura, que são símbolos do orixá Ogum.
A expectativa da A Lasca, empresa responsável pela sítio arqueológico e que trabalha junto a Acciona, era que houvesse um ritual para “liberação de território” para as escavações. Há funcionários que trabalham na obra, que consideram o lugar mal-assombrado e alguns têm pavor do que pode ser encontrado por ali.
No lugar das escavações já foram encontradas mais de 4 milénio peças. A teorema dos movimentos é que estação conte a história do lugar (uma vez que a Santa Cecília conta sobre o modernismo) e que supra dela haja o museu. Entre os achados estão imagens religiosas, peças de azulejos recortadas em losango e triangulo, louças, peças de vestuário e calçados (que somam murado de 500 de diferentes tipos).
A Lasca solicitou que seja reduzida a profundidade da escavação de 6 para 3 metros, ignorando os materiais que ainda podem ser encontrados mais ao fundo. Para os movimentos populares, a obra continua sem mitigação dos impactos, arqueológicos e do entorno. A empresa não respondeu sobre esses pontos levantados e informa que ainda não há previsão do término das escavações arqueológicas.
Ações
Entre as mobilizações, está o projeto de lei 1.047/2023 da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB) que prevê a mudança de nome da futura estação para Saracura Vai-Vai. Já a Secretaria de Parcerias em Investimento (SPI), do governo de São Paulo, informa que a solicitação do movimento Saracura Vai-Vai “ainda está em avaliação”.
No caso do projeto de instrução patrimonial, a previsão do movimento é que haja roteiros permanentes no bairro, demarcação por meio de placas com histórico dos pontos de vivência e referência negra, uma vez que as sedes do Movimento Preto Unificado (MNU), e formação patrimonial. “Queremos que haja política permanente de espalhamento desse conhecimento. Estado e concessionária precisam bancar isso”, considera Luciana Araujo.
Outro lado
A Risco Uni ainda labareda, em nota, a futura estação de 14 Bis e afirma que “os processos de resgate de sítios arqueológicos irão prosseguir até o término do solo arqueológico” e garante que tanto a empresa, quanto A Lasca “estão comprometidas com os procedimentos técnicos, as normativas legais para a proteção do patrimônio cultural, o reverência e a visibilidade dos segmentos etnoculturais que configuram a identidade paulistana”.
Diferentemente do que pede o movimento, de um museu no bairro, os objetos encontrados, segundo a Risco Uni, deverão fazer segmento do montão do Núcleo de Arqueologia de São Paulo, vinculado ao Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura.
A empresa também não se compromete em realizar um projeto de instrução patrimonial contínuo e limita-se a manifestar que tem um “meato de diálogo e aprendizagem junto à Diretoria de Ensino Núcleo-Sul para elaboração de estratégias pedagógicas voltadas para a comunidade escolar da região do Bixiga”. Por término, a Risco Uni reforça que as obras da Risco 6-Laranja de metrô seguem o cronograma estabelecido pela Secretaria de Parcerias e Investimentos. A data prevista para desfecho do metrô não foi informada.
Pretérito e horizonte
De entendimento com relatos orais dos mais velhos do bairro, a região abrigou ainda um cemitério de pessoas escravizadas. Até o momento não há documentos ou indícios que comprovem a informação. Mas há a certeza de que há mais narrativas a serem conhecidas.
O promanação do Bixiga é comemorado em 1 de outubro, data em 1878 em que foi colocada a pedra fundamental para a construção de um hospital na região que nunca foi concluído. Há, no entanto, registros de população na região desde 1848. O lugar aparecia nos mapas exclusivamente uma vez que uma encosta e mata do Rio Saracura, assim uma vez que hoje aparece nos registros oficiais uma vez que segmento da Bela Vista.
A luta do Bixiga por visibilidade é antiga, mas, tenho certeza, que chegou o momento de contá-la uma vez que se deve e, assim uma vez que o Rio Saracura, que foi tamponado serpente a sua presença quando chove, essa é uma história que não vão conseguir mais esconder e botar para debaixo da terreno junto com o metrô. Viva o Bixiga Preto, viva a Saracura, viva a Vai-Vai.